Como se diz na gíria da internet, o ato de Jair Bolsonaro “flopou”. Com base em imagens aéreas de drones e um software de Inteligência Artificial originalmente criado para contar cabeças de gado – o que só reafirma a eficácia do método –, pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), vinculado à USP, estimaram um público de 12,4 mil participantes no auge da manifestação na Avenida Paulista. Após o fiasco, não faltaram bolsonaristas culpando o frio ou o jogo do Flamengo na Copa do Mundo de Clubes pelo desinteresse. Ainda assim, iniciou-se uma caça às bruxas dos que faltaram ao compromisso no domingo 29.
Autoexilado nos EUA, Eduardo Bolsonaro gravou um lamurioso vídeo no qual convocou a militância para observar atentamente “quem compareceu no ato, quem não compareceu, como foram os discursos, quem é que faz o embate”. Segundo o Zero Três, é preciso estar sempre vigilante. “Quem não escuta ‘cuidado’ depois ouve ‘coitado’”, vaticinou.
Uma das ausências notadas foi a de Michelle Bolsonaro. A ex-primeira-dama alegou que havia confirmado presença num evento do PL Mulher em Roraima. De fato, é preciso ter prioridades na vida. O deputado Nikolas Ferreira, do PL de Minas Gerais, disse ter faltado por causa de um compromisso familiar: “Fui padrinho de casamento de uma prima que morou comigo minha infância toda. Casamento marcado há meses. Não faltei a nenhuma outra manifestação. E com discursos contundentes”, justificou-se. Já os presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, não se deram ao trabalho de prestar qualquer satisfação.
Lula não perdeu a chance de tirar uma casquinha do episódio. Durante o lançamento do Plano Safra 2025–2026, que prevê 512 bilhões de reais em crédito subsidiado para médios e grandes produtores rurais, o presidente ironizou o apelo constante por anistia feito por Bolsonaro: “Nunca vou pedir para vocês fazerem Pix para mim. Guardem o dinheiro para pagar os funcionários. Não quero Pix e jamais vou pedir anistia antes de ser condenado. Quem é frouxo não deveria fazer bobagem”.
“Gilmarpalooza” bomba em Lisboa

Imagem: Imagem: Rosinei Coutinho/STF
Se Jair Bolsonaro mal consegue lotar um quarteirão da Paulista, Gilmar Mendes não tem do que reclamar. A 13ª edição do Fórum de Lisboa, apelidada de “Gilmarpalooza”, deve reunir mais de 2,5 mil convidados e 400 palestrantes entre os dias 2 e 4 de julho, na capital portuguesa. O evento é promovido pelo IDP, instituto do qual o ministro do Supremo Tribunal Federal é sócio. Cerca de 150 autoridades do governo Lula confirmaram presença, incluindo Camilo Santana, Jorge Messias, Márcio França e Ricardo Lewandowski. Também estarão por lá os colegas de toga Alexandre de Moraes, Flávio Dino, André Mendonça e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. A Corte informou que não arcará com passagens ou diárias, e que os gastos com segurança serão divulgados no Portal da Transparência.
EUA/ Amor bandido
Donald Trump ameaça deportar o bilionário e ex-aliado Elon Musk

Com botas e chapéu de cowboy, o figurino ficaria mais adequado – Imagem: Molly Riley/Casa Branca Oficial
De repente, do riso fez-se o pranto/ Silencioso e branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto. Quem esperava que a separação de Donald Trump e Elon Musk guardasse alguma nostalgia poética, como no soneto de Vinicius de Moraes, enganou-se redondamente. O divórcio é litigioso, e os versos entoados pela dupla mais se assemelham a uma rancorosa canção sertaneja, daquelas em que se exalta aos berros a dor da traição.
No mais recente episódio de dor de cotovelo, o presidente dos EUA ameaçou deportar o bilionário de origem sul-africana, dono da Tesla, da SpaceX e da rede social X. Desde que deixou o comando do Departamento de Eficiência Governamental – Doge, na sigla em inglês –, Musk tem criticado a falta de empenho de Trump em reduzir a dívida pública dos EUA, atualmente na casa dos 36 trilhões de dólares.
Ao ser questionado por uma jornalista sobre a possibilidade de deportar o ex-aliado, o presidente não disfarçou o desejo de despachá-lo a mais de 12 mil quilômetros, do outro lado do Atlântico. “Não sei, acho que vamos ter que dar uma olhada nisso”, disse Trump, antes de ameaçar cortar subsídios às empresas do bilionário: “Talvez a gente tenha que colocar o Doge em cima do Elon. Sabe o que é o Doge? É o monstro que talvez tenha que voltar e comer o Elon. Não seria terrível?”
Bruno & Marrone que se cuidem com a concorrência norte-americana.
Navalha mortal
Um estudo liderado por pesquisadores da UFBA e publicado na prestigiosa revista científica The Lancet alerta que os cortes promovidos por Donald Trump na Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, a Usaid, podem causar a morte de mais de 14 milhões de pessoas até 2030, incluindo 4,5 milhões de crianças. Alvo do novo mandato de Trump desde seu retorno à Casa Branca, a organização sofre com o desmonte de programas considerados “supérfluos” pelo republicano. Especialistas comparam o impacto do desfinanciamento ao de uma pandemia global ou de uma guerra em larga escala. A título de comparação, a Covid–19 matou cerca de 7 milhões de infectados, e a Primeira Guerra Mundial, 10 milhões de soldados.
Europa/ Troféu de guerra
Rússia anuncia controle total de região anexada na Ucrânia

Lugansk está no centro do conflito que levou à invasão russa em 2022 – Imagem: Ministério da Defesa Russia/AFP
Dias após a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciar o aumento dos gastos militares dos países da Otan (leia mais à pag. 44), a Rússia declarou ter assumido o controle total de Lugansk, no leste da Ucrânia. A província está no centro do conflito que levou à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022. “O território da República Popular de Lugansk está totalmente libertado, 100%”, afirmou o líder separatista Leonid Pasechnik à emissora estatal russa Canal Um. Nascido na Ucrânia soviética, ele governou essa região alinhado com o Kremlin.
Em setembro de 2022, o presidente Vladimir Putin já havia anunciado a anexação formal de Lugansk à Federação Russa, seguindo o mesmo roteiro adotado na Crimeia, em 2014. No entanto, uma contraofensiva ucraniana recuperou parte da área ocupada. Autoridades de Kiev contestam o “controle total” e afirmam que ainda há combates na região.
Historicamente, Lugansk integrou o Império Russo, foi incorporada à União Soviética em 1922 e, com a dissolução do bloco comunista, passou a integrar a Ucrânia. Moscou sustenta que a região agora pertence à Rússia e “jamais será devolvida”. Kiev, por sua vez, considera a reivindicação ilegal e sem base jurídica.
Publicado na edição n° 1369 de CartaCapital, em 9 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’