Uma em cada três mulheres foi vítima de violência nos últimos 12 meses, aponta a pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ao instituto Datafolha. Segundo o levantamento, 21,4 milhões de brasileiras com mais de 16 anos estiveram expostas a agressões nesse período, maior porcentual registrado desde o início da enquete, em 2017.
De acordo com a pesquisa, na qual as entrevistadas puderam relatar mais de um tipo de violência, 17,7 milhões de mulheres conviveram no período com ofensas verbais, 8,9 milhões foram alvo de agressão física e 8,5 milhões passaram por ameaças de agressão ou lidaram com perseguições. Mais de 5 milhões sofreram abuso sexual ou acabaram forçadas a manter relação sexual contra a sua vontade e 1,5 milhão tiveram vídeos ou fotos íntimas divulgadas sem o seu consentimento.
Engana-se quem pensa que os atos de violência ocorreram em becos ou lugares ermos, longe dos olhares. Em quase 92% dos casos, testemunhas presenciaram as agressões. Do total, 47,3% dos ataques foram acompanhados por amigos ou conhecidos, 27% pelos filhos e 12,4% por outros parentes. Os agressores ocupam, em sua maioria, posições próximas das vítimas: 40% são maridos, namorados ou parceiros e 27% ex-companheiros. Ou seja, o lugar mais perigoso é o lar.
O susto dos preços
O aumento da energia elétrica residencial em 16%, em média, contribuiu para a inflação medida pelo IPCA ter alcançado o 1,31%, maior variação para o mês de fevereiro em 22 anos. Há um efeito estatístico no caso da conta de luz: a alta do mês passado deu-se no período subsequente ao bônus de Itaipu, um desconto aos consumidores que derrubou o índice de preços em janeiro (0,16%). Sem essa disparada, a taxa teria ficado em 0,78%. Alimentos e bebidas registraram uma elevação de 0,70%.
Futebol/ O fracasso de Sassá Mutema
Ronaldo Fenômeno desiste de concorrer à CBF

O dirigente bissexto é um legítimo herdeiro das tradições – Imagem: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Cercado por conflitos de interesse e amigos duvidosos, Ronaldo Fenômeno se apresentou como uma espécie de Sassá Mutema, o herói improvável que iria salvar o futebol brasileiro das mutretas da cartolagem e devolvê-lo aos tempos de glória. Era o sujo a troçar do mal lavado. Ex-jogador e dirigente bissexto, Ronaldo cultiva todos os vícios peculiares dos barões do esporte bretão nestas paragens, longa tradição iniciada com João Havelange. Não bastaram a campanha pública, badalada pela mídia, e o apoio de amigos influentes. O buraco na Confederação Brasileira de Futebol é mais embaixo. Faltou ao Fenômeno pedir a Deus um pouco de malandragem. Na quarta-feira 12, para espanto e tristeza de zero torcedores, o ex-atacante anunciou a desistência de concorrer à presidência da CBF. “No meu primeiro contato com as 27 filiadas, encontrei 23 portas fechadas. As federações se recusaram a me receber em suas casas (…) Não pude apresentar meu projeto, levar minhas ideias e ouvi-las como gostaria. Não houve qualquer abertura ao diálogo”, choramingou nas redes sociais. Bola para a frente.
Mata o véio
Enquanto os argentinos acompanhavam o julgamento dos médicos de Maradona, policiais entraram em confronto com aposentados durante um protesto contra o governo de Javier Milei, na quarta-feira 12, em Buenos Aires. A mobilização ganhou musculatura com a adesão de torcidas organizadas de futebol. Os pensionistas pedem um reajuste dos proventos, corroídos pela inflação e pelos cortes de gastos públicos. O Ministério da Segurança Nacional ameaça os manifestantes de novas prisões – quatro foram detidos na quarta. Um porta-voz da Casa Rosada culpou a esquerda pelo entrevero.
Argentina/ La mano del diablo
Começa o julgamento dos médicos de Maradona

A família do ex-craque clama por justiça aos olhos do país – Imagem: Luis Robayo/AFP
Nem a morte encerrou as polêmicas em torno do craque argentino Diego Maradona. A Argentina está mobilizada para acompanhar o julgamento, que deve estender-se até julho, dos sete médicos e enfermeiros do ex-jogador acusados de homicídio. Maradona faleceu em 25 de novembro de 2020 após um ataque cardíaco. Tinha 60 anos e se recuperava em casa de uma cirurgia para a retirada de um coágulo no cérebro. Segundo os promotores, houve negligência dos acusados no atendimento ao ex-atleta. Os réus alegam que o paciente recusou um tratamento adicional e deveria ter permanecido no hospital por mais tempo. As penas neste caso variam de 8 a 25 anos de prisão. “O mais importante é entender que eles mataram Diego. O que eles fizeram foi assassinato”, afirmou Fernando Burlando, advogado das filhas de Maradona. “Hoje, Diego, seus filhos, seus parentes, os mais próximos e o povo argentino merecem justiça”, defendeu o promotor Patricio Ferrari no tribunal.
OEA/ A união faz a força
Aliança latino-americana barra a investida de Washington

Ramdin rececebeu o apoio do Brasil e de outros países – Imagem: Juan Manuel Herrera/OAS
Após a lamentável passagem do uruguaio Luis Almagro pela Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, o Brasil e aliados progressistas da América Latina conseguiram impedir os Estados Unidos de emplacarem outro súcubo no comando da instituição. A desistência do chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, apoiado pela Casa Branca, facilitou, na segunda-feira 10, a escolha de Albert Ramdin, ministro das Relações Exteriores do Suriname, que ocupará o cargo até 2030. O Itamaraty parabenizou o eleito e cobrou uma atuação “independente” e “conciliadora”. Embora tenha servido na equipe de Pepe Mujica, Almagro tornou-se um adversário dos governos de esquerda do subcontinente e um agente incondicional dos interesses norte-americanos. O ponto alto, ou melhor, baixo de sua atuação foi o apoio de primeira hora ao golpe, em 2019, contra Evo Morales na Bolívia. Durante a reunião da OEA que elegeu Ramdin, a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha, defendeu o direito internacional e o multilateralismo contra o caos e criticou a “instrumentalização” da organização nos dois mandatos do uruguaio.
Tarifa contra tarifa
A entrada em vigor da taxação de 25% sobre o aço e o alumínio importados pelos Estados Unidos produziu reações diferentes nos países exportadores. O presidente Lula criticou o protecionismo de Donald Trump, mas, por ora, o Brasil seguirá a via da negociação. Uma ideia seria oferecer uma redução nas tarifas do etanol comprado dos EUA. O Canadá e a União Europeia não querem conversa. Os canadenses prometem sobretaxar produtos norte-americanos em cerca de 20,6 bilhões de dólares, enquanto na Europa esse valor chegará a 26 bilhões a partir de abril. “Essas tarifas estão interrompendo as cadeias de suprimentos. Elas trazem incerteza para a economia. Empregos estão em jogo”, lamentou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Síria/ Inimigo comum
EUA e Rússia agem para isolar os novos inquilinos do poder

Presidente interino, Al-Shaara interrompeu a ação militar – Imagem: Agência Síria de Notícias
Em mais uma confluência de interesses entre a Casa Branca e o Kremlin, o Conselho de Segurança da ONU discutiu a mais recente onda de violência na Síria. Os rebeldes que conquistaram o poder e expulsaram o ditador Bashar al-Assad são acusados de promover uma limpeza étnica contra a minoria alauíta. Mais de mil assassinatos, a maioria de civis, foram registrados nas últimas semanas. Para a Rússia, os ataques são inaceitáveis. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, pediu a punição dos responsáveis pelo “massacre”. Em resposta à pressão internacional, o governo interino suspendeu as incursões militares. Ahmad al-Shaara, atual presidente, prometeu uma investigação “independente”, mas viu segundas intenções nas críticas. “Hoje, enquanto estamos neste momento crítico, nos encontramos diante de um novo perigo: tentativas de remanescentes do antigo regime e seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, com o objetivo de dividi-lo e destruir sua unidade e estabilidade.”
Publicado na edição n° 1353 de CartaCapital, em 19 de março de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’