Olá! Estas são as NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO, o semanário de bordo da nossa viagem na maionese. No mundo em que o debate político foi substituído pelos CORTES PARA A INTERNET, os fatos deram lugar aos flatos. Flatos estes inspirados e inspiradores para boa parte da população, para quem os argumentos parecem inócuos. Por isso, o nosso slogan favorito é: CONTRA FLATOS, NÃO HÁ ARGUMENTOS!
Domingo passado, a SEITA QUE DÓI MENOS PROMOVEU NOVA MICARETA NA AVENIDA PAULISTA, a já manjada festa estranha com gente esquisita, sempre uma oportunidade para passear no zoológico da extrema-direita. Dessa vez, 12,4 mil pessoas estiveram presentes, segundo a tecnologia da USP usada para contar gado e, portanto, considerada perfeita para a aferição. A margem de erro é de 1,5 mil cabeças para mais ou para menos.
Como a realidade que importa é aquela do universo paralelo, Flávio Bolsonaro e pastor Malafaia desdenharam do diminuto número de adeptos – “malucos”, conforme a classificação proposta por Bozo no STF.
“O importante é a mensagem ser transmitida para todo o mundo pelas redes sociais”, disse Flávio, certo de que a potencialidade da merda se encontrava justamente na produção do flato midiático em pequenas pílulas, a inundar a caixa de gordura da humanidade.
Uma dessas pílulas, ou cortes, apresenta Micheque em primeiro plano e a famiglia atrás. Renan deu um tempo na luta contra o sistema de Balneário Camboriú e lá estava, abraçado ao Bozo, Carluxo e Flávio, como uma equipe que sofre unida a disputa por pênaltis. “Os TRÊS MENINOS DO MEU MARIDO. Faltando um”, contabilizou Micheque. “Faltando o nosso Duda, que está longe, renunciando à sua vida, à vida dos seus filhos pequenininhos que estavam na escola.”A câmera corta para os olhos marejados do pobre de direita. Sobe som ao estilo Carruagens de Fogo. “Ele está lá mandando uma mensagem para o mundo, da injustiça que estamos passando no Brasil. Vamos mandar uma mensagem para o Duda!” E manda ver no seu berrante: “FORÇA, EDUARDO!, mais forte, FORÇA, EDUARDO!”
Na semana anterior, NH trouxe a história de um brasileiro que luta para ser aceito pelo Guinness Book como “O Maior Corno do Mundo”. “O negócio é não ter vergonha”, prescreveu. A estratégia bolsonarista é a mesma do corno manso: uma cara de pau que prescinde não do óleo de peroba, mas do verniz náutico. Senão, veja o título: “Michelle fez o povo brasileiro chorar. Você se emocionou?”
Bem, o flato: MICHEQUE NÃO ESTEVE NA MANIFESTAÇÃO. NÉ POSSÍVEL! Sim, é possível e normal. Trata-se de um vídeo reciclado e, portanto, uma mensagem forjada. O flato, pois, sem-vergonha na forma, no conteúdo e no tempo.
O perfil do Instagram que divulgou tal corte na manhã da micareta tem 335 mil seguidores e chama-se “Presidente Michelle Bolsonaro”. Na foto do perfil, Micheque batendo continência. São necessários mais de dez quarteirões da Paulista para abrigar 335 mil cabeças de gado.
E, PRA FECHAR, OS ÚLTIMOS RESULTADOS DO PACHECÃO MUNDIAL! Flamengo toma de 4, é eliminado, mas joga DE IGUAL PARA IGUAL. Renato Gaúcho melhor do que Guardiola! E os gols do Al-Hilal que foi a gente que marcou? Conosco ninguém podosco!
THAT’S ALL, FOLKS! Voltamos a qualquer momento com novas informações. •
Jornalista, indicado ao Emmy Internacional com a série O Infiltrado. Autor dos livros O Atleticano Vai ao Paraíso e Bandido Raça Pura.
Publicado na edição n° 1369 de CartaCapital, em 09 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Micheque, ausente, estava presente’
