Investigações da Polícia Federal revelam que suspeitos de planejar um golpe de Estado no Brasil em 2022 utilizaram celulares com números americanos e servidores internacionais para disseminar desinformação e burlar a Justiça. O inquérito, que embasou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas, aponta uma operação coordenada para espalhar falsas alegações de fraude eleitoral, buscando mobilizar apoiadores e criar uma narrativa que justificasse uma ruptura institucional.
Conforme o relatório, informações manipuladas sobre vulnerabilidades nas urnas eletrônicas, elaboradas antes de 2020, foram distribuídas com apoio de especialistas, incluindo hackers. Esse material foi propagado por militares e civis, como o argentino Fernando Cerimedo, que realizou uma live em novembro de 2022 para difundir o conteúdo falso. Após a veiculação, os dados foram transferidos para servidores localizados fora do Brasil para evitar bloqueios determinados pela Justiça.
O esquema também envolveu figuras de alta patente. Documentos internos mostraram que materiais relacionados ao golpe foram enviados por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para militares como o general Braga Netto e o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. Além disso, a PF identificou que o tenente-coronel Marques de Almeida colaborou deliberadamente para contornar decisões judiciais, permitindo que o material fosse armazenado e compartilhado no exterior.
Na reportagem do veículo, outro ponto destacado foi o uso de um celular com número dos EUA por Mauro Cid, o que gerou desconfiança no ex-assessor internacional de Bolsonaro, Filipe Martins.
“Possivelmente, como se tratava de um número novo, desconhecido por Filipe Martins, Mauro Cid manda uma nova mensagem se identificando. Em resposta, Filipe Martins encaminhou seis mensagens, que foram apagadas antes de serem lidas por Cid”, diz o inquérito.
Durante as trocas de mensagens, ambos demonstraram preocupação em apagar conteúdos comprometedores, com Cid instruindo Martins a suprimir provas.
“Aparentemente Filipe Martins não confiou nas mensagens enviadas por Cid do número americano. Diante disso, ele enviou uma mensagem para o número brasileiro de Cid o questionando se havia enviado mensagens de outro número”, explica o documento que embasou o indiciamento. “Foi você que me mandou mensagem de um número americano?”, perguntou Martins.
Com a confirmação de Cid, Martins encaminhou novamente várias mensagens. “Em seguida, demonstrando preocupação com o conteúdo postado, adotando o procedimento para apagar as provas, Cid diz: ‘Pode apagar’”, destaca o relatório.
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