O corpo da publicitária Juliana Marins, que morreu após sofrer queda durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, passou por uma nova autópsia na manhã da quarta-feira 2, no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro. Seis dias antes, a jovem de 26 anos já havia sido submetida a uma necropsia realizada por peritos indonésios no Hospital Bhayangkara, localizado na província onde fica o vulcão. No entanto, o laudo apresentado na ocasião levantou mais dúvidas do que esclarecimentos.
A nova análise foi autorizada pela Justiça Federal, a partir de um pedido da Defensoria Pública da União. O resultado deve ser divulgado em até sete dias. Os familiares de Juliana esperam que o exame consiga preencher as lacunas deixadas pelas declarações precipitadas das autoridades indonésias à mídia, antes mesmo que os parentes tivessem acesso ao laudo.
Durante coletiva de imprensa realizada na sexta-feira 27, o médico legista Ida Bagus Alit descartou a hipótese de morte por hipotermia, após a angustiante espera por um resgate que só alcançou Juliana, já sem vida, quatro dias após o acidente. Segundo ele, a turista brasileira morreu em decorrência de múltiplas fraturas, que provocaram lesões internas e intensa hemorragia. “A principal causa da morte foram os ferimentos na caixa torácica e nas costas”, afirmou o perito, acrescentando que a vítima não teria resistido por mais de 20 minutos após o impacto.
A partir daí, surgem as dúvidas: qual impacto, exatamente? Deixada para trás por seu guia, Juliana sofreu a primeira queda na madrugada do sábado 21. Três horas depois, turistas conseguiram localizá-la com a ajuda de um drone. Ela estava sentada na fenda de uma rocha, a cerca de 200 metros da trilha, e ainda movimentava os braços. Na segunda-feira 23, outro drone – desta vez operado por socorristas – a encontrou imóvel, a cerca de 500 metros. Quando a equipe de resgate finalmente a alcançou, Juliana já estava em um ponto ainda mais profundo: 650 metros penhasco abaixo.
Em entrevista à BBC Indonésia, o médico legista afirmou que, pelos seus cálculos, Juliana teria morrido entre 1 e 13 horas da quarta-feira 25 (horário local). A estimativa diverge, porém, da informação divulgada pela Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas), que relatou ter encontrado a jovem sem vida na noite anterior, por volta das 20 horas. Confrontado pela jornalista Christine Nababan sobre a inconsistência, Alit minimizou a diferença de seis horas entre sua análise e o relato dos socorristas: “É importante lembrar que fatores ambientais, como temperatura e umidade, afetam as alterações post-mortem. Pode haver variações”.
A justificativa não convenceu a família de Juliana, inconformada com a negligência do guia que a abandonou durante a caminhada, a falta de estrutura do parque para realizar resgates desse porte – o Monte Rinjani já registrou oito mortes e cerca de 180 acidentes desde 2020, e nem sequer havia cordas longas o suficiente no local para alcançar a vítima – e a letargia da Basarnas, que levou quatro dias para encontrá-la. Em homenagem à publicitária, a prefeitura de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, informou que vai rebatizar a trilha e o mirante da Praia do Sossego, em Camboinhas, com seu nome. O traslado do corpo da Indonésia para o Brasil também foi custeado pelo município. •
Publicado na edição n° 1369 de CartaCapital, em 09 de julho de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Ainda sem respostas’