Após forte reação negativa, temperada por desinformação, de uma norma da Receita Federal que ampliava a fiscalização de operações financeiras, o governo Lula (PT) decidiu revogar a medida. O recuo foi celebrado pela oposição, que vinha disseminando pânico sobre uma suposta tributação de transações via Pix, mas gerou desconforto entre aliados, que enxergaram na decisão uma demonstração de fragilidade frente aos ataques.
O que muitos apontaram como falha de comunicação reflete um problema mais profundo, aponta Jorge Chaloub, cientista político e professor da UFRJ. Para ele, o objetivo da ultradireita vai além de derrotar Lula. “Não é apenas sobre ganhar o governo; eles querem destruir qualquer coisa que se assemelhe a um campo progressista”, afirma ele a CartaCapital. “”É uma oposição contrária a qualquer coisa associada ao PT, mesmo ao PT mais moderado.”
Um dos artilheiros dessa oposição é o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que explorou o caso em um bem-sucedido vídeo publicado nas redes sociais. Entre retórica fiscal alarmista e factóides, como uma inexistente “quebra de sigilo bancário”, a peça ultrapassou 300 milhões de visualizações e mobilizou muito além da base bolsonarista tradicional.
Para o cientista político, o ataque não são reativos, mas estratégicos. “Existe uma coalizão de ultradireita que adota um ‘vale tudo’. Há quem espere que, ao evitar determinadas ações, o discurso opositor se acalme. Mas as acusações continuam.”
O episódio gerou preocupações dentro do próprio PT, especialmente com as eleições de 2026 no horizonte. A percepção de fragilidade pode ter um custo político elevado. Chaloub pondera, contudo, que nem sempre é possível evitar recuos. “Demonstrar fraqueza tem um preço, mas às vezes é menor do que o custo de insistir no erro.” O desafio do governo, avalia, é construir um discurso combativo e consistente. “Só ‘paz e amor’ não será suficiente para vencer em 2026.”