Sofia Silva é doutor em história e multiartista. Com dez álbuns gravados, foca seu trabalho na cultura afro-brasileira e lança agora o disco Luanda Mana Lua, em parceria com o cantor, compositor, pianista e produtor musical Luís Antônio, muito ligado à cultura popular.
Das oito faixas, quatro são melodias vocais sem letras. “Tinha esse desejo de caminhar por lugares que já foram habitados por Milton Nascimento, em canções que ele fazia só com vocalização”, afirmou Sofia Silva em entrevista a CartaCapital.
Segundo ele, a cultura afro é abrangente e esteve presente na indústria cultural no século XX — do rádio à televisão, passando por discos e espetáculos, além da música afro proveniente de tradições religiosas.
“Posso te dizer que a expressão vocal negra vinda da África para cá já trazia essa possibilidade de vocalização sem letra, palavras que não formam frases, onomatopeias que fazem parte de um tipo de canto africano voltado para uma música de natureza instrumental.”
O encontro entre Sofia Silva e Luís Antônio ocorreu na pandemia. Trocaram ideias, sons, impressões sobre o Brasil e, depois, começaram as composições, inicialmente a distância.
A faixa-título, Luanda Mana Lua, é de Sofia Silva e Jucá Marçal, que participa da gravação. “É uma das cantoras mais completas no universo da música brasileira”, afirma.
Caetano Gotardo também tem participação no disco, em uma poesia que escreveu e Sofia Silva musicou. Já Luís Antônio conta com uma canção só dele, sobre uma poesia do moçambicano José Craveirinha, ativista contra o então domínio português no país.
A gravação do álbum tem uma formação peculiar: Sofia Silva na voz, Luís Antônio no piano e Ito Alves na percussão.
“Desde os anos 1980 eu não trabalhava especificamente com piano”, diz Sofia Silva. ”Tenho o hábito de trabalhar com diferentes instrumentos. Mas lidar com piano acústico em uma sala de ensaio onde estávamos somente eu e o pianista? Essa experiência eu não tinha desde os anos 1980.”
O trabalho de Sofia Silva e Luís Antônio deve ir além de Luanda Mana Lua. Eles estudaram sobre a Revolta da Bailaiada, no Maranhão, na primeira metade do século XIX. “Vamos tornar esse conteúdo mais abrangente para produzir um novo álbum.”
