O adeus à Foice e o Martelo

por Janderson Lacerda

O mundo mudou. A foice e o Martelo não podem mais significar a união entre trabalhadores do campo e os operários urbanos. Com isso, não estou defendendo o fim do comunismo, ao contrário. A sociedade continua dividida por classes sociais e, portanto, a luta de classes continua sendo o motor dos nossos dias. As burguesias, ricos, continuam sendo detentores, indevidamente, dos meios de produção e seguem praticando mais-valia em nome do seu lucro infinito. Mas, então, por que afirmar que o mundo mudou? 

Ora, a resposta é simples: a foice e o martelo já não representam mais os trabalhadores, campo e cidade, porque a dinâmica do trabalhador, sobretudo, no Brasil foi radicalmente alterada. A começar pela indústria nacional enfraquecida e desmontada que pouco consegue gerar empregos. Assim como a agricultura, massacrada pelos intentos do Agronegócio, gera poucos postos de trabalho, apesar de fazer uso de toda a estrutura do Estado brasileiro. Restam os trabalhos informais e a exploração sem a proteção da CLT, aliás, a Consolidação das Leis do Trabalho nunca foi tão atacada e vítima de notícias falsas para gerar desinformação como nos dias atuais, voltando à questão central desta crônica, milhares de brasileiros trabalham na informalidade e outras centenas de milhares de pessoas estão empregadas no setor de serviços. Sendo assim, para nós, não faz mais sentido a foice e o martelo. A propósito, nós brasileiros precisamos de uma revolução, ainda que burguesa inicialmente. Basta de acordos espúrios e reformas que não nos levam a parte alguma. Fato é que a foice e o martelo símbolo comunista, não nos representa mais. Entretanto, um velho-novo símbolo, marginalizado e ignorado por tantos é a nossa bandeira atual, refiro-me à marmita. Sim, raro leitor, a marmita une os trabalhadores urbanos e do campo. Só a marmita é capaz de dialogar com trabalhadores famintos pelo fim da escala 6×1. Da marmita clássica de alumínio ao pote de marmita – este objeto, quase sagrado, representa a diversidade dos nossos trabalhadores. 

A marmita é a companheira inseparável dos explorados e prepará-la é parte da jornada exaustiva a qual todo trabalhador é submetido. O ritual de preparo segue regras firmes que precisam driblar a falta de tempo e dinheiro para fazê-la. Os arranjos para a preparação da marmita poderiam ser sonorizados por Tom Zé em homenagem a massa de trabalhadores de todas as partes do mundo que estão reunidos em São Paulo. A propósito, a quantidade de marmitas na Paulicéia desvairada é tão grande que deparei-me com um estabelecimento na rua da Consolação que oferece o serviço de esquentar marmitas por três reais. Mesmo em obscuros tempos de Enel é um preço salgado demais para o serviço. 

A marmita é o símbolo máximo da união do proletariado do nosso tempo, ainda que alguns por vergonha ou alienação, utilizem vagos sinônimos para não mencioná-la quando dizem que trouxeram comida para o trabalho. A comida refere-se a velha marmita; entretanto, como os tempos mudaram há marmitas fitnees, além das que são devoradas em praças de alimentação de shoppings, ignorando desta forma o consumo de fast foods e convivendo com os estrangeirismos impostos a nós. 

Em suma, as marmitas representam a união do proletariado brasileiros que sobrevivem apesar da precarização do trabalho. 

Janderson Lacerda – Graduação em Letras, especialização em Docência no Ensino Superior e mestrado em Políticas e Gestão Educacionais pela UMESP. Integrante da RELEPE (Red de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa), autor do livro: Programa Escola da Família: Democratização do Espaço Escolar? E Professor titular dos cursos de Pedagogia e Educação Processos Escolares da Universidade Santo Amaro (UNISA).

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Last Update: 21/08/2025