
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em entrevista ao New York Times, que o mandatário estadunidense, Donald Trump, não compreende a estrutura do Estado brasileiro ao exigir interferência no processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As declarações foram publicadas na manhã desta quarta-feira (30) e representam a resposta mais contundente de Lula às pressões internacionais sobre o caso.
“Quando eu vi a carta do presidente Trump, colocando como condição ‘sine qua non’ que era preciso parar o processo contra o Bolsonaro imediatamente. Possivelmente ele não saiba que aqui no Brasil a Justiça é independente do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Aqui estão os três poderes totalmente autônomos”, declarou Lula ao jornal estadunidense.
O presidente brasileiro referia-se à carta pública divulgada por Trump em 9 de julho, onde o líder estadunidense exigia a suspensão do que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro. O ex-presidente é réu no STF por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Lula detalhou os fundamentos jurídicos do processo: “Primeiro porque o Brasil tem uma Constituição. E esse presidente está sendo julgado pela Suprema Corte brasileira com total direito de defesa. Porque as acusações não são feitas pelo governo, as acusações são feitas pelas delações de amigos, generais e coronéis, de dentro do governo Bolsonaro. E a acusação é feita pela Procuradoria-Geral da República, que tem total autonomia”.
O presidente reforçou a necessidade de isenção política no caso: “Para mim, o processo tem que transcorrer livremente, sem intromissão da política nesse processo. Aqui no Brasil, a lei é para todo mundo”.
No Brasil, a lei é para todos. Os Três Poderes são independentes. Nosso país é soberano e guiado pela Constituição.
Entrevista ao @nytimes.
🎥 @ricardostuckert pic.twitter.com/FZ6AheAq8U— Lula (@LulaOficial) July 30, 2025
Na mesma entrevista, Lula revelou que tem enfrentado dificuldades para estabelecer diálogo direto com Trump. “O que está nos impedindo é que ninguém quer conversar. Eu pedi para fazer contato”, disse o presidente brasileiro.
“Eu designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que todos conversem com seus equivalentes nos EUA para entender qual é a possibilidade de conversa. Até agora, não foi possível.”
As declarações ocorrem em meio a crescente tensão bilateral, marcada pela recente decisão dos EUA de aplicar a Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e pela imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, que entram em vigor nesta sexta-feira (1º).