
Por Díjna Torres e Luiz Fernando/MST Sergipe
Da Página do MST
A última sexta-feira, dia 14 de março, tornou-se um marco na luta pela terra em Sergipe com a imissão de posse do assentamento Emília Maria, na antiga Fazenda São José, no município de São Cristóvão. A área, ocupada desde 6 de agosto de 2016 por 167 famílias organizadas pelo MST, a partir desta data se torna assentamento definitivo, garantindo moradia, produção de alimentos saudáveis e dignidade para os camponeses que resistiram por quase nove anos.
O ato foi conduzido por Cristian Oliveira e Claudia Alves, coordenadores de base do Emília Maria, que iniciaram a reunião com mística e coordenaram a mesa, organizando a cerimônia e reforçando a importância da participação popular na luta pela terra.
Durante todo o evento, a emoção tomou conta dos beneficiários: foram lágrimas de alegria, abraços e sorrisos largos, que marcaram o reencontro com a esperança de um futuro melhor, fruto da união e da força na luta coletiva.
Na ocasião, representantes do MST, autoridades políticas, movimentos sindicais e sociais, e demais lideranças populares celebraram a conquista, destacando sua relevância para a soberania alimentar e a justiça social. Além disso, Cristian Oliveira, que também é assentado, enfatizou que a vitória só foi possível graças à união do movimento. “Hoje é um dia histórico para nós. Só tenho a agradecer ao Movimento, que nos fortaleceu e tornou essa conquista possível. Se não fosse essa organização, não estaríamos aqui compartilhando essa alegria”, celebrou.

O prefeito de São Cristóvão, Júlio Júnior, esteve presente no ato e reafirmou o compromisso do município com o assentamento, destacando que não se trata de benefícios eventuais, mas de um desenvolvimento sustentável com infraestrutura adequada. “A educação de qualidade está garantida nesse governo, e vamos trabalhar para viabilizar a implantação de uma escola no assentamento. Nosso compromisso com os movimentos sociais é permanente, e continuaremos buscando parcerias para ampliar os serviços nessa localidade”, disse.
Presenças importantes na celebração coletiva
O ato contou com a presença de importantes lideranças, como o deputado federal João Daniel; o deputado estadual Paulo Júnior e a deputada estadual Linda Brasil; o vereador de Aracaju, Camilo Daniel; o vereador de São Cristóvão, Marcos Lázaro; o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), André Milanez; o coordenador de crédito do Incra, Ubiratan Resende; o secretário de governo da prefeitura de São Cristóvão e ex-prefeito, Marcos Santana, entre outras autoridades. Também estiveram presentes os dirigentes nacionais do MST, Manoel Oliveira e Cleosvalda Góis, reforçando o compromisso do movimento com a luta pela terra e a agroecologia.
O deputado João Daniel destacou a importância desse momento para valorizar a luta pela Reforma Agrária e honrar a conquista dos assentados, enfatizando a necessidade de promover a produção de alimentos saudáveis. “É um momento muito importante para reconhecer o esforço de todos e, ao mesmo tempo, implementar sistemas agroflorestais produtivos que transformem o assentamento em um lugar onde a terra se renove, os alimentos sejam produzidos de forma saudável e a comunidade viva em harmonia com a natureza”, ressaltou.


A Fazenda São José, agora transformada em assentamento, é um território estratégico não apenas para garantir moradia aos camponeses, mas também para a preservação ambiental. Cortada pelo Rio Pitanga e rodeada por um açude repleto de árvores frutíferas, a área oferece condições ideais para a produção de alimentos agroecológicos. Desde o início da ocupação, o assentamento foi concebido como um espaço de formação da juventude e de fortalecimento da agricultura sustentável, resistindo às pressões do agronegócio e promovendo um modelo de produção voltado para a soberania alimentar.
“Conseguimos a emissão na posse de uma área que foi arrematada no leilão o ano passado. Aqui existem 167 famílias que lutam há oito anos, e já produzem agroecologicamente, produtos como mel, frutas, verduras, preservando o ambiente. Aqui, sem dúvida, vai ser um modelo de assentamento com a nova visão, a visão de agroecologia de alimentos saudáveis para a sociedade”, concluiu o superintendente do Incra em Sergipe, André Milanez.
Emília Maria, Presente!
O nome Emília Maria carrega um significado profundo. O assentamento homenageia a filha de dois militantes do MST, que em vida integrou o Coletivo de Juventude do movimento e se destacou por suas ideias criativas e compromisso com a luta. A emoção se intensificou com a presença de Gorete Ferreira, dirigente do MST e mãe de Emília Maria, que, comovida, relembrou a incansável luta de sua filha. Em um gesto simbólico, foram plantadas duas árvores em homenagem: uma em memória de Emília Maria e outra dedicada a Marielle Franco, reforçando seu legado de luta e resistência.
Durante a cerimônia, Acácia Daniel, do coletivo estadual de Educação no Campo, ressaltou a força simbólica desse momento. “Isso é muito significativo, é muito forte. Quantas pessoas aqui viviam sem esperança na vida? O MST acreditou na luta, e finalmente hoje chegou esse grande dia”.
Com a conquista da terra, os camponeses do assentamento Emília Maria se preparam para transformar essa vitória em um exemplo de resistência e desenvolvimento. O desafio é garantir infraestrutura, fortalecer a produção e consolidar o acesso a direitos fundamentais, como moradia, educação e assistência técnica. Mais do que um pedaço de terra, essa conquista representa a luta por um modelo de sociedade mais justo, onde a terra seja de quem nela vive e trabalha.
*Edição: Solange Engelmann