
Em seu discurso na Avenida Paulista, Tarcísio de Freitas deixou claro que não pretende mais manter a imagem de moderação. Com críticas diretas ao Supremo Tribunal Federal e uma defesa enfática da candidatura de Jair Bolsonaro, o governador sinalizou sua adesão ao campo mais radical da direita.
Nem os mais próximos parecem convencidos da sinceridade dessa defesa. Mas o que importa não é a convicção pessoal — e sim o significado estratégico do gesto.
A nova configuração de alianças
O arco de apoio de Tarcísio é composto por quatro pilares principais:
- Bolsonaristas, atraídos pelo discurso de confronto.
- Grupos de PMs e militares, seduzidos pela promessa de cargos e prestígio.
- Mercado financeiro, interessado nas oportunidades de privatização e desmonte do Estado.
- Antipetistas em geral, que veem em Tarcísio uma alternativa viável à esquerda.
O grupo “nem-nem” — nem Lula, nem Bolsonaro — parece ter sido descartado. Tarcísio aposta na radicalização como forma de consolidar sua base.
Coesão sem compromisso democrático
As estratégias para manter esse grupo unido são claras:
- O radicalismo político alimenta os bolsonaristas.
- A promessa de cargos públicos atrai os militares.
- O mercado é seduzido pelas perspectivas de grandes negociatas — como já demonstrado na controversa privatização da Sabesp.
Com esses movimentos, Tarcísio se aproxima de figuras como Eduardo Bolsonaro e se afasta de qualquer compromisso com valores democráticos.
Lula reorganiza sua frente
A guinada de Tarcísio abre espaço para que Lula amplie sua frente de apoio, atraindo o centro democrático e os órfãos da terceira via. O presidente voltou a se movimentar com intensidade: retomou os almoços com parlamentares.
Enquanto Fernando Haddad consolida o discurso da progressividade tributária, Geraldo Alckmin atua junto aos setores industriais, e a palavra soberania voltou a ecoar com força no discurso governista.
Cenário em aberto
O tabuleiro político está em movimento. A radicalização de Tarcísio pode consolidar sua base, mas também abre espaço para uma frente democrática mais ampla. Resta acompanhar os próximos lances — inclusive os de Donald Trump, cuja influência sobre a extrema-direita global continua a reverberar no Brasil.
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