Durante uma visita a Porto Alegre, Lula enviou um recado ao governador Eduardo Leite (PSDB): “Não entendo as queixas do agronegócio”, afirmando que “nunca antes na história deste país” o setor teve tantos financiamentos recordes quanto nas gestões petistas.
De fato, o grande agronegócio não tem motivos para se queixar do Plano Safra. Neste ano, são R$ 400,59 bilhões para a agricultura empresarial (10% a mais em relação ao ano anterior que também foi recorde). O custo dos subsídios do plano safra anterior foi de R$ 13,6 bilhões – ou seja, nossos recursos, fundo público, subsidiando um setor que se dedica à produção de monocultura para a exportação, particularmente de grãos, que promove a destruição dos biomas, contamina os solos e as águas com os agrotóxicos e expulsa populações indígena, camponesas e quilombolas de seus territórios.
Segundo um levantamento realizado por pesquisadores da Climate Policy Initiative (CPI), parceira da PUC-Rio, o Plano Safra destinou cerca de 15% do crédito subsidiado entre 2020 e 2022 — o equivalente a R$ 14 bilhões ao ano — a propriedades que realizaram desmatamento legal e ilegal. Mesmo assim, o movimento “SOS Agro” quer mais. Este movimento, liderado por grandes produtores do estado, quer alongamento de todas as dívidas (mesmo as contratadas muito antes das enchentes) por 15 anos, carência de 2 anos e juros de apenas 3% ao ano. Ou seja, querem muito mais subsídio.
Este movimento tem realizado manifestações durante as últimas semanas, em várias cidades do estado e, inclusive, fizeram um tratoraço em Porto Alegre na semana anterior. Os governos Melo e Leite garantiram o apoio político e, inclusive, escolta policial para o movimento dos agrobilionários. E estão organizando uma caravana a Brasília para esta semana, com intenção de acampar em frente ao Congresso Nacional.
No entanto, um setor amplo, que vive da agricultura e pecuária familiar, corresponde a mais de 75% dos estabelecimentos rurais do Brasil – têm sim o direito e o dever de reclamar. Apesar de um aumento de cerca de 6% no valor destinado à agricultura familiar, o crédito ainda é insuficiente e muito inferior ao do agronegócio, que concentra em torno de 85% do crédito total.
Apenas 15% dos agricultores familiares no Brasil obtêm crédito rural por causa de entraves no excesso de documentos e garantias exigidas, no desconhecimento das normas do programa, entre outros problemas. A linha de crédito do Pronaf, voltada para a agricultura familiar, não prioriza os produtores mais vulneráveis, que não conseguem acessar crédito.
Os agrobilionários que dirigem o movimento “SOS Agro” se aproveitam desta indignação justa dos pequenos e se dizem representar todos os produtores rurais. Na verdade, só querem obter mais privilégios para si próprios.
Por isso, chamamos os pequenos produtores rurais a romperem com este movimento, liderado pelos latifundiários, e levarem uma luta independente, por sua pauta, com apoio da classe trabalhadora.
Quem precisa de SOS é o povo pobre e trabalhador, os pequenos comerciantes, a agricultura familiar. Quem precisa de SOS é a natureza e não o latifúndio exportador.