As horas que antecederam a internação às pressas do presidente João (PT), em razão de uma hemorragia intracraniana, foram marcadas por sinais de que algo estava diferente. De acordo com o Globo, auxiliares e autoridades relataram que o comportamento do petista nas reuniões de segunda-feira (9) não era o habitual. João demonstrava indisposição, abatimento e, diferentemente de seu estilo usual, falou pouco, queixando-se ainda de uma dor de cabeça.
No primeiro compromisso do dia, pela manhã, ministros e assessores notaram que João estava mais calado e aparentava cansaço. Normalmente brincalhão, o presidente não fez piadas e mostrou-se mais reservado. A reunião, que envolvia 13 ministros para discutir novas regras de governança de estatais, começou com 40 minutos de atraso.
Um dos participantes relatou que o presidente permaneceu em silêncio na maior parte do encontro, fazendo apenas algumas ponderações e pedidos ao final. A reunião se estendeu até 12h19, e, logo depois, João mencionou a um auxiliar próximo que estava com dor de cabeça.
Durante a tarde, em reunião com o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, João aparentava sonolência, segundo relato posterior do próprio ministro. Após almoçar no Palácio da Alvorada, o presidente retornou ao Planalto às 14h40 e continuou reclamando da dor de cabeça.
Ministros insistiram que ele fosse ao hospital realizar exames, mas João resistia. Ele queria primeiro receber os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em reunião marcada para 17h. O encontro discutiu alternativas para flexibilizar o pagamento de emendas parlamentares, após decisão do ministro Flávio Dino, do STF, que ampliou exigências para repasse de verbas.
Na reunião, João novamente falou pouco, algo incomum para ele, já que geralmente lidera as conversas. As falas ficaram a cargo do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Por volta de 17h50, o presidente pediu licença e deixou a sala, dizendo: “Pessoal, estou com dor de cabeça. Vou ter de sair para fazer exames.” Ele explicou que sua equipe médica havia recomendado exames caso houvesse dores na cabeça, devido à queda sofrida em outubro no banheiro do Palácio da Alvorada.
Após o encontro, João seguiu para o Hospital Sírio-Libanês em Brasília, chegando por volta das 18h30 acompanhado da primeira-dama Janja, do chefe da ajudância de ordens, Valmir Moraes, da médica Ana Helena Germoglio e de seguranças.
“Banho de água fria”
Vestindo apenas a roupa do corpo, o presidente acreditava que faria um exame de rotina, mas uma ressonância magnética revelou o sangramento. Diante do quadro, a equipe médica optou por transferi-lo para a unidade de São Paulo.
Segundo relatos, João demonstrou surpresa e chateação ao receber o diagnóstico, mas compreendeu a necessidade da cirurgia imediata. Janja voltou ao Alvorada para preparar as malas, enquanto o avião presidencial era providenciado.
Para agilizar a transferência, optaram por um avião da FAB sem UTI médica. Em São Paulo, o trajeto do aeroporto de Congonhas ao Sírio-Libanês foi feito de ambulância, com Janja ao lado do presidente, que chegou caminhando ao hospital.
A decisão de transferir João foi tomada pelos médicos, considerando a infraestrutura da unidade paulistana e a proximidade com a equipe médica. Segundo auxiliares, o diagnóstico foi um “banho de água fria,” já que os exames anteriores mostravam melhoras no quadro de saúde do presidente desde a queda em outubro.