Por: Érico Leal, CTB-PA.

Nossa luta renhida deve ser no sentido de um plano nacional de desenvolvimento socioeconômico sustentável, que considere a Amazônica como elemento determinante em sua realização.

Tem sido um desafio garantir a COP30 em Belém do Pará, Amazônia, Brasil. Independente de cor partidária, torcidas contra ou à favor, das dificuldades existentes da secular dívida com os amazônidas, da visão preconceituosa e colonial do sul-sudeste brasileiro, vai se consolidando um espaço capaz de receber esse grande e pertinente evento mundial sobre questões climáticas.

Evitando as ilusões de praxe, e olhando a geopolítica de nova configuração de contradições, conflitos e alternâncias entre países e blocos, é uma importante oportunidade de visilibilização de nossa capacidade de superação, de nossas riquezas culturais forjadas em uma profícua e trágica relação do ser humano com a natureza, onde convivem trinta milhões de habitantes. Para nós da região é um momento oportuno para nos pensarmos, fazermos um balanço dessas construções, do que podemos ensinar ao mundo e do que devemos dizer um basta.

Têm-se falado muito em legado, principalmente material, o que é esperado em situação de muitas carências. Belém apesar de sua beleza e hospitalidade é uma cidade injusta para a grande maioria de sua população, carente de coisas públicas e acessos; refletindo em sua geografia, com suas crises e adoecimentos sociais, a reprodução de um sistema explorador e concentrador de riquezas alheias. A capital paraense, na antiga condição de Portal da Amazônia e entreposto de uma ainda atualíssima divisão internacional do trabalho, é o depositário dos apogeus e fracassos dos ciclos econômicos demandados de fora onde o Pará sofre maiores consequências.

Tenho assistido e participado de algumas atividades que começam a esboçar preocupações e pensamentos sobre o tema e sua importância. Por ser uma necessidade objetiva todos defendem caminhos de preservação da natureza enquanto futuro da humanidade. Entretando pela natureza da questão, faz-se necessário delinear os interesses postos atrás de cada argumento, da sinuosidade das linhas de abordagem, da defesa calorosa de extremos.

A provável ausência do presidente norte-americano no referido evento e as propostas de solução, que perpetuam o status quo, e continuam jogando a responsabilidade às costas dos países ditos periféricos para os desastres climáticos, apresentadas pelos europeus, são um demonstrativo da prevalência do domínio político e ideológico que não pretende abrir mão dos privilégios e do controle da riqueza precificada, seja aonde estiver.

Sempre é bom lembrar o óbvio, que as COPs se dão na égide do capitalismo, portanto as soluções progressivas esbarram na veracidade do lucro máximo; e nessa realidade, a luta em defesa do clima precisa alcançar outra dimensão que acompanhe as mudanças em processo no mundo. A visão e as práticas burguesas e imperialistas sobre o tema todos conhecemos desde a acumulação primitiva, da devastação realizada na Europa e nos outros continentes, destacando a África e as Américas.

O colonialismo acelerou a exploração predatória sobre os povos originários e as riquezas naturais, com a escravidão e o morticínio deliberado de milhões de pessoas em ciclos econômicos que levaram à exaustão e condenaram regiões ao atraso. Em contra-partida, a concentração de capital mercantil possibilitou o desenvolvimento econômico no continente europeu, particularmente na Inglaterra, que com sua produção irrefreável em busca de mais-valia foi modelando o mundo, gerando demanda, forjando mercados, sem nenhuma preocupação com o meio-ambiente, pelo contrário, toda a técnica voltada ao crescimento a todo custo e domínio do capital financeiro.

Com o avanço do capitalismo as contradições interimperialistas levaram a grandes conflitos pela divisão do globo entre si, que devastaram milhões de vidas humanas, destruíram cidades, produções culturais e anunciaram a possibilidade de um hecatombe mundial com o lançamento pelos Estados Unidos da bomba atômica sobre Hiroxima e Nagasaki no Japão. O capital não tem limites para se realizar e muito menos está preocupado com preservações e com o futuro da humanidade.

Com o neoliberalismo, junto à exportação de capitais, promoveu-se o domínio sobre os Estados, diminuindo sua capacidade de investimento, aprisionando-os à ditadura de uma dívida financeira sem fim. Esse neocolonialismo desconstrói a soberania e a economia nacional, impondo o retorno à velha divisão internacional do trabalho de meros fornecedores de matéria-prima, como no Brasil, causando grandes crises socioeconômicas locais, transtornos ambientais, impedindo quaisquer veleidades de desenvolvimento social.

Na minha opinião não se deve pensar em saídas às crises climáticas sem enfrentar a lógica destrutiva do capitalismo, da especulação financeira e do produtivismo sem controle, sem a garantia do consumo à grande maioria da população, sem planos de sustentabilidade das nações. Diante do avanço da extrema-direita no centro imperialista com ameaças à autodeterminação dos povos, com desprezo à preservação ambiental, o caminho é fortalecer a soberania dos países detentores de reservas naturais para que possam desenvolver-se com o aproveitamento racional das mesmas através de investimentos em ciência e novas tecnologias, aproveitando os saberes locais.

Acreditamos que essa COP30, emblematicamente realizada na Amazônia com sua importância geopolítica, sediada por um país continental a possuir matriz energética limpa; um governo que busca coibir os crimes ambientais da sanha predadora secular; com uma longa experiência de sustentabilidade na região, terá como legado, além de equipamentos locais e a possibilidade de alçar o turismo, algo imaterial mas precioso para a luta em defesa do desenvolvimento sustentável, soberano e democrático, a construção de um pensamento unificado dos amazônidas que passa pelo combate à atual divisão de trabalho que penaliza a região sugando exponencialmente suas riquezas depredando seu patrimônio natural; ao colonialismo interno que mantém a região subalternizada, fornecedora de energia, almoxarife e mercado cativo do centro-sul, sem perspectiva para a população autóctone.

A Amazônia e todos os biomas do país não são santuários ou reservas especulativas de países ricos e do capital financeiro como pretendem os porta-vozes do imperialismo; nem devem continuar sucumbindo sob ações predatórias provocadas pelo capitalismo. Nossa luta renhida deve ser no sentido de um plano nacional de desenvolvimento socioeconômico sustentável, que considere a Amazônica como elemento determinante em sua realização; que tenha o bem-estar dos brasileiros e dos amazônidas como objetivo principal; e a exploração das riquezas naturais com base na ciência e na tecnologia para o real equilíbrio entre a produção de riquezas para todos e a preservação ambiental, que sirva de exemplo para continuação promissora da humanidade.

Belém, 30 de junho de 2025
Érico Leal – Licenciado em Geografia pela UFPA, foi Vice-Presidente da CTB Pará.

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Last Update: 02/07/2025