Por Lelê Teles*
o estupro cotidiano
das matas virgens
metafora o corpo-território das mulheres
violadas com violência
pela machitude brutal
da muchulência
as motosserras, em trilha sonora
silenciam araras e emudecem
a fauna que aflorava canora
os correntões, os tratores
os machados…
a marcha macabra
dos pobre-diabos
as serras, nuas,
os leitos secos
feitos os peitos pretos
das amas de leite sugadas
pelas bocas bravas de seus algozes
vorazes, velozes…
os ecocidas
ecoam as vozes
de seus ancestrais
os homens das cercas
dos cercos, dos assédios diários
das cruzes e dos campanários
o lugar de falo
em lugar de fala
são esses diabos-humanos
que plantam desertos
semeiam fomes
e nos marcam na carne
com seus nomes infames
cercam, secam e dissecam
mandam e desmandam
matam e desmatam
são os tarados da terra
os defloradores da flora
os agro tóxicos
palavra da salvação
*Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).