Antes de mais nada precisamos repudiar com vigor o incidente ocorrido de 01/02/2025 além de repetitivo é absurdo que atos como este continuem a se repetir no Estado de um histórico pesado de notícias no âmbito nacional de violência e mortes entre torcedores organizados.
Este texto não eximirá a responsabilidade de quem praticou crime de violência e barbárie, mas precisará pontuar os verdadeiros culpados pelo fato. No Estado em que pese suas devidas obrigações não tem se colocado no papel de construtor de soluções, são anos evitando o diálogo, criando medidas populistas e inócuas sempre após uma grande crise. Prevista, premeditada, repetitiva e sobretudo proposital. O estado promove, permite e proporciona. Vamos ao dossiê;
Aos fatos, durante a semana já circulava em grupos do futebol e fora dele, vídeos e fotos de uma possível subtração de instrumentos e bandeiras entre torcidas do Santa Cruz e Sport, uma disputa de quem levava mais, exposições em praça pública, viadutos e ruas, cada lado tricolor ou rubro-negro querendo mostrar os seus devidos “troféus”.
Ontem, antes do ocorrido entre 09:00 e 10:00 da manhã, já era possível receber em grupos de WhatsApp e páginas de Instagram, mídias sobre pequenos focos de correrias em bairros distantes da RMR e grande concentração de torcedores tricolores na Av. Caxangá. Entre 11:00 e 12:00 horas a cidade inteira já sabia do confronto que ocorreu na Rua Real da Torre, cerca de 5km de distância do Arruda, antes do clássico Santa Cruz x Sport às 16:30h.
Durante a noite, a Explosão Inferno Coral divulgou um documento que tinha protocolado ao Comando Geral da PM do Estado e BPCHOQUE, solicitação escolta policial e trajeto com plano de acesso aos torcedores, cumprindo inclusive com a nova legislação da Lei Geral do Esporte, o PLANO LOGÍSTICO detalhado sob o protocolo SEI 107776-7 o documento continha: Pontos de concentração de torcedores; Rotas seguras para deslocamento até o Estádio do Arruda, visando evitar qualquer encontro entre torcidas organizadas adversárias; Solicitação de escolta policial, garantindo um trajeto controlado e livre de conflitos; • Adoção de medidas preventivas, visando minimizar quaisquer riscos de confrontos e assegurar a integridade física de todos os envolvidos.
Aos culpados, em 03 de Dezembro 2021, houve uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), convocada pela então Deputada Estadual Teresa Leitão(PT) que pautou o problema da violência nos estádio, eu como Diretor Regional a época da ANATORG – Associação Nacional das Torcidas Organizadas do Brasil, participei, como também estive presente na Câmara do Recife na audiência promovida pelo Vereador Rinaldo Junior e o presidente Romerinho Jatobá. Em ambos os debates, consta em ata as declarações de torcedores organizados, movimentos de torcidas e nós da associação uma cobrança imediata da efetividade do “Grupo de Trabalho Futebol” e da participação e inclusão de torcedores neste fórum.
O GT foi criado pela portaria 1.491 em 2019 mas que antecede a um grupo criado pela PORTARIA GAB/SDS Nº 3202, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2011 para a Copa do Mundo é formado pela Secretaria de Defesa Social, a pasta que comanda as Polícias Militares, Civil e o Corpo de Bombeiros, o GT também conta com a participação do Ministério Público, da FPF e dos clubes – esses últimos quase como ouvintes. Menos a participação efetiva da sociedade civil organizada, incluindo aí a representação de torcedores, torcedoras e torcidas. Em ambas as audiências foi encaminhado que o GT iria inserir representantes de instituições públicas e da sociedade civil e que seria formalizado, porém isso nunca ocorreu. Inclusive para garantir o artigo 151 da nova Lei Geral de Esportes, que diz “é direito do espectador a implementação de planos de ação referentes a segurança, a transporte e a contingências durante a realização de eventos esportivos com público superior a 20.000 (vinte mil) pessoas”. Ao tempo a ANATORG, se colocou à disposição em construir com muito diálogo junto às torcidas, movimentos, “barra bravas”, clubes e torcedores organizados, a elaboração de um plano de segurança para os clássicos entre Náutico, Santa Cruz e Sport pelo campeonato pernambucano.
O Grupo de Trabalho Coordenado pelo Secretário da SDS é inoperante, não se reúne, não planeja, não ouve os verdadeiros atores do espetáculo esportivo e sobre tudo tem caráter autoritário populista e ineficaz, em geral toma atitudes que promovem e colaboram com a cultura de violência em dias de jogos de futebol, além de medidas que se desloca da realidade da arquibancada e, por essa razão, toma decisões irresponsáveis. Pela Lei Geral de Esportes, o GT pode ser responsabilizados judicialmente pelos problemas de segurança e organização deste último sábado.
O BPCHOQUE tem tido um papel crucial no aumento da violência policial ao redor do estádio e aumentado a burocracia da festa, a portaria de maio de 2023 que libera baterias e mastros nos jogos, impõe ao menos 3 seguranças privados por cada instrumento musical e bandeira de mastro de apenas 3m, fugindo diretamente de uma ação que resolve para uma que burocratiza, continuamos não vendo bandeiras de mastros embelezando o estádio e um grande volume de som animando as arquibancadas, a ação de eliminação do espetáculo festivo da arquibancada é um projeto de ESTADO, não diria nem de Governo. Pernambuco precisa entender a importância da cultura torcedora pulsante na arquibancada que reforça e expande a cultura pernambucana, basta ver os exemplos dos estados de Bahia e Ceará e a festa que as organizadas fazem na arquibancada, tem violência? É claro que tem, mas sabem que é um problema de sociedade de forma geral não de exclusividade do futebol ou do torcedor.
Apesar das críticas a ANATORG tem sido a única que tem conseguido reunir ambas as organizadas rivais minimamente para dialogar e construir coletivamente ações e debates para evitar mortes, confrontos e garantia de direito de torcer.
A Governadora Raquel Lyra, no formato de centralizar a decisão e proibir que qualquer torcedor veja os jogos de seu time por 5 partidas, até que seja implementado o reconhecimento facial nas catracas, é um atestado de incapacidade do estado e de falta de assessoria da comandante do executivo do Estado. Ora bolas, câmeras da SDS, não fazem reconhecimento facial? Elas estão funcionando? Como não viram com antecedência a possibilidade de encontro de torcedores naquele bairro? Quanto tem de responsabilidade dos clubes neste cenário, a ponto de serem prejudicados com portões fechados? O Comando da PM não viu o Oficio da Organizada?
Para o Santa Cruz que o PIX ainda não chegou é inviabilidade total, sem renda para um clube em recuperação judicial. Para o futebol Pernambuco é a inviabilidade total do Campeonato Estadual, final sem público, para a FPF uma grande perda de arrecadação, para os trabalhadores formais e informais, comerciantes, ambulantes, motoristas de transporte por aplicativo, seguranças privados e públicos que dependem financeiramente desta atividade econômica
superimportante para a cidade e para o estado, movimenta integralmente a economia local. Cabe à governadora Raquel Lyra e a SDS/PE intervir e reorganizar com urgência as forças policiais que fazem a segurança dos eventos esportivos em Pernambuco, com a abertura de um canal direto com a sociedade civil e comunidade pernambucana de torcedores. Especialmente na criação de um Batalhão Especializado em Eventos Esportivos da Policia Militar.
O Presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro de Carvalho poderia ser o grande fiador de um fórum de diálogo e planejamento que fortaleça o futebol local, reunindo com antecedência, chamando atores dos clubes e da arquibancada que entendam sobre operação de jogo, logística, segurança e transporte, além disso traria técnicos, profissionais e torcedores com experiência e vivencia de arquibancada que permita analisar o grau de tensão que cada jogo representa, mas ao contrário tem incentivado atos de violência chamando torcedores a tapa e a bala, como áudio vazado nesta última semana. Sempre com seu caráter autoritário e esdruxulo, me parecer ter um vício sobre o microfone e aparições públicas que gerem noticia e visibilidade para seu egocentrismo.
Os clubes, acorrentados pelo público direto que o consome, o ama e participa efetivamente dos jogos, tem a cada dia menos a ver com os atos de violência distante da arena esportiva, e equivocadamente são os que tem recebido a represaria da má gestão da Governadora. E ao serem convocados como ouvintes pelo GT, tem enviado representações que destoam do sentimento da arquibancada e do jogo, meramente protocolar e burocrático, envia quem não tem um pingo de entendimento de operação de jogo e que sempre assistiu o jogo pela TV ou camarote e vai ao estádio de carro e estacionamento privado.
O CORE, o Comando de Operações e Recursos Especiais da Polícia Civil, tem sido referência Nacional no processo de investigação de punição de torcedores brigões. Por hora, o Estado de Pernambuco é o Estado que mais prende e persegue torcedores organizados, pelo mapeamento da Associação cerca de 50 torcedores organizados estão presos das três maiores organizadas do Estado, no último mês cerda de 6 foram presos pela morte do Jogo Sport x Goias, na Rua Boliva, ações punitivista não tem mudado a mentalidade de jovens em geral, negros, pobres e sem escolaridade e perspectiva social.
Política Pública, a falta dela e de ações diretas sociais, comunitárias e coletivas, são um dos três pilares de soluções para as diminuição da violência que o estado precisa implementar, mas não o faz. Medidas como Torcida Única, futebol sem torcida, já se comprovou que não tem efetividade. A autoridade pública que defender isso achando que vai receber vários likes se engana, diria que populismo barato. Quem vive e participa diretamente do futebol sabe que não é esse o caminho.
Segundo pilar, a punição direta as pessoas, os CPFs e os responsáveis, a transferência de responsabilidade para as entidades/torcidas organizadas enquanto CNPJ, já se mostrou ineficaz, pior ainda se transferir a culpa para os clubes. É esconder o problema para de baixo do tapete. Não há neste governo nem no anterior interesse em construir ações que minimize a violência entre as organizadas. Nem no âmbito estadual muito menos no nacional.
E o terceiro pilar é o incentivo a política cultural da arquibancada, incentivar a festa, a música, as cores, a dança, a alegria e a alegoria, essas são as soluções básicas sociais que diminuem a violência, não há metodologia inglesa que dê certo no pais de culturas, tradições e desigualdades totalmente diferentes.