Vladimir Putin tem tentado encontrar uma forma de posicionar a Rússia no complexo tabuleiro geopolítico instalado desde a escalada da tensão no Oriente Médio. Nesta segunda-feira 23, o presidente da Rússia recebeu em Moscou o chanceler iraniano, Abbas Araghchi.

Durante o encontro, Putin esteve alinhado com a postura recente do Kremlin: criticou americano ao Irã e reafirmou o seu apoio aos aiatolás, mas preferiu não colocar em pauta – ao menos não oficialmente – planos de uma eventual ajuda militar direta ao país.

“A agressão absolutamente não provocada contra o Irã não tem base ou justificativa”, sintetizou Putin na abertura do da reunião com Araghchi. Chamando o ataque de ‘infundado’, o presidente russo também disse que o seu governo estaria se “esforçando para ajudar o povo iraniano”. 

A importância do Irã para a Rússia

A questão iraniana é central para Putin. O regime de Ali Khamenei é a principal base de apoio russa no Oriente Médio. Teerã ganhou ainda mais peso depois da derrocada do regime de Bashar al-Assad na Síria, no final do ano passado.

Buscando estreitar ainda mais os laços, Rússia e Irã assinaram, em janeiro, um tratado de parceria estratégica de longo prazo. O acerto diz que os países concordam em “apoiar o comércio e a cooperação econômica em todas as áreas de interesse mútuo e cooperar estreitamente na realização de exercícios militares”.

No campo militar, o documento determina que “se uma das partes for submetida à agressão, a outra não deverá prestar assistência ao agressor que contribua para a continuação da agressão”. Tão importante quanto o que diz, é o que o acordo não diz: ele não estabelece que deva ser prestada assistência mútua em caso de agressão, como é o caso de um tratado que a própria Rússia tem firmado com a Coreia do Norte.

De janeiro para cá, nenhum momento foi mais oportuno para se provar a real extensão desse acordo do que o atual, marcado pela incursão israelense (e norte-americana) sobre o Irã. Seja como for, o Kremlin ainda não fez um movimento público de apoio militar, como envio de equipamento. 

Os EUA em cena

Desde que o conflito no Oriente Médio atingiu outro patamar de belicosidade, no último dia 12, Putin logo se colocou à disposição para atuar como um possível mediador. No imaginário do Kremlin, esse movimento poderia ser visto com bons olhos por Washington – que ainda não havia atacado o Irã – e poderia facilitar as coisas em relação à Ucrânia, cujo desejo de Putin é que o presidente norte-americano Donald Trump não cause obstáculos ao seu plano de guerra. 

Ao menos publicamente, Trump rejeitou a cartada russa. “Ele [Putin] se ofereceu para mediar, eu disse: ‘faça-me um favor, faça a sua própria mediação’. Vamos mediar a Rússia primeiro, ok?”, revelou o republicano, dizendo que a Ucrânia deveria ser a prioridade do Kremlin. “Vamos mediar a Rússia primeiro, você pode se preocupar com isso depois”, disse Trump, em referência à sua conversa com o presidente russo. 

O papel da China

O ataque dos EUA mudou o rumo das conversas. Agora, Putin diz que não tem planos de conversar com Trump, segundo informe do governo russo divulgado no último domingo 22 pela estatal TASS. 

O mesmo não vale, por óbvio, para os contatos entre Putin e Xi Jinping, presidente da China. Ambos se falaram oficialmente na última quinta-feira 19, em uma conversa prolongada, segundo as chancelarias dos dois países, que resultou em uma condenação aos ataques de Israel ao Irã. 

Mas a China se vê pressionada não apenas a manter o tom diplomático neste momento de peculiar tensão, mas deve decidir se pretende ou não convencer o Irã a não fechar o Estreito de Ormuz, uma das principais rotas de fluxo de petróleo do mundo. Ontem,  foi Marco Rubio, o Secretário de Estado dos EUA, que manifestou, em entrevista à rede Fox News, seu incentivo ao “governo chinês em Pequim a contatá-los [o Irã] sobre isso”.

“Se fizerem isso [fechar o Estreito de Ormuz], será outro erro terrível. É suicídio econômico para eles se fizerem isso. E temos opções para lidar com isso, mas outros países também deveriam estar considerando. Isso prejudicaria as economias de outros países muito mais do que a nossa”, afirmou Rubio.

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Last Update: 23/06/2025