No artigo Guerra imperialista de Trump representa tragédia para o Brasil e os brasileiros, publicado pelo Brasil 247, o jornalista Paulo Moreira Leite, acompanhando a histeria da esquerda pequeno-burguesa em torno da vitória eleitoral de Donald Trump, procura apresentar a política do atual governo norte-americano como um ataque sem precedentes ao Brasil.

O tom histérico do texto já é perceptível desde seu primeiro parágrafo, uma vez que Leite, em vez de procurar explicar o que de fato Trump está fazendo, procura substituí-lo por chavões:

“O impacto das medidas imperialistas do governo Trump contra a economia dos povos do mundo, em particular as nações menos desenvolvidas, não pode ser desprezado.”

A ideia é espantar o leitor. É dizer: Trump está tomando medidas imperialistas! Cuidado com Trump! Mas a questão é: que medidas são essas? Por que são imperialistas? Leite não responde. Pois, se respondesse, cairia no ridículo,

O jornalista continua o texto, sem explicar do que está falando e aumentando as críticas às tais medidas:

“Devem ser denunciadas e combatidas, como operações incompatíveis com um convívio aceitável e civilizado entre nações soberanas, cuja única consequência prática será aprofundar a desigualdade entre povos e países, em benefício dos mais ricos e poderosos.”

Antes de entrarmos no mérito de que medidas são essas, chamamos a atenção para o que diz Leite. Quando ele diz que Trump é responsável por “operações incompatíveis com um convívio aceitável e civilizado entre nações soberanas”, somos obrigados a concluir que os governos anteriores estavam preocupados com essa compatibilidade. Isto é, que genocídio na Faixa de Gaza, promovido em primeiro lugar por Joe “genocida” Biden, é uma forma civilizada de convívio entre nações. O mesmo poderíamos dizer da tentativa de golpe de Estado na Venezuela e do cerco militar à Rússia. É ridículo.

Essa ideia demonstra que o jornalista do Brasil 247 caiu como um patinho na campanha do momento do imperialismo: a luta entre as “democracias” e as “ditaduras”. Para Leite, se um governante não falar abertamente em eliminar uma população, se ele se dizer a favor da “democracia” e, de preferência, fazer um pouquinho de demagogia com as mulheres, então ele merece ser apoiado pelo resto da vida. Suas ações não importam, desde que o seu discurso seja considerado “civilizado”. É uma política que está levando a esquerda pequeno-burguesa internacional a ficar a reboque do imperialismo.

Paulo Moreira Leite segue, então, dizendo:

“No caso do Brasil, trata-se de um ataque tipicamente imperialista, na qual uma das partes controla todos os dados do jogo e, num gesto arrogante, tenta impor sua vontade de qualquer maneira. Antes mesmo desta medida ser anunciada, o comércio de bens entre os dois países já acumulava uma vantagem de US$ 7 bilhões por ano a mais para os EUA, conforme dados do próprio governo norte-americano, situação que contraria as lições básicas sobre convívio entre países desiguais aprendidas pelo conhecimento humano desde o século passado.”

O jornalista ainda não explica qual é o motivo de sua queixa contra Trump – e nem o fará ao longo de todo o texto. No entanto, já fornece elementos suficientes para que isso possa ser inferido. Leite está revoltado com a política protecionista de Trump de impor tarifas de importação.

Paulo Moreira pode dizer, à vontade, que as tarifas prejudicarão o Brasil. É provável que, a curto prazo, isso seja verdade. O que Leite não pode dizer, contudo, é que se trata de uma política imperialista. Trata-se exatamente do oposto disso.

Ao impor taxas altas sobre a importação de aço, por exemplo, o que Trump está buscando – e ele o diz abertamente – é incentivar a produção local. Isto é, estimular as indústrias norte-americanas a aumentarem a sua produtividade. E, assim, acumularem mais capital e até beneficiarem uma parcela da classe operária norte-americana. Para o trabalhador norte-americana, trata-se de uma política positiva.

Esse protecionismo está em oposição total com a política do imperialismo. O imperialismo pressupõe que a produção, para que se torne mais barata e mais lucrativa, seja feita majoritariamente em países atrasados, onde a mão de obra é muito mais barata. E está justamente aí o efeito devastador desse tipo de política: na medida em que a produção ocorre nesses países atrasados, as riquezas desses países são roubadas pelo imperialismo.

Trump vai em uma direção oposta. A médio e longo prazo, esse tipo de medida poderá, inclusive, incentivar o desenvolvimento das indústrias locais, que serão obrigadas a reformular a sua produção visando o mercado interno. É uma política que, em todos os aspectos, acaba se chocando com a política neoliberal.

A histeria de Leite o impede de distinguir o que de fato é o imperialismo e qual o significado do governo de Donald Trump. O mais curioso é que, nesse texto, em que o jornalista acusa o presidente norte-americano de realizar operações imperialistas, mas não o prova, ele utiliza, no título, o termo “guerra imperialista”. Ironicamente, da mesma forma como Trump representa um setor da burguesia norte-americana que está em contradição com a política oficial do imperialismo, o presidente norte-americano tem se destacado por tentar dar fim às duas principais guerras imperialistas do momento: a da Faixa de Gaza e a da Ucrânia.

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Last Update: 15/03/2025