Na última segunda feira (30), a Folha de S.Paulo publicou um artigo assinado por Cecilia Machado, com o pomposo título As virtudes do ajuste fiscal da Argentina. Uma peça publicitária da política de terra arrasada de Javier Milei — um verdadeiro vassalo do imperialismo. É a imprensa burguesa fazendo seu papel: dourar a desgraça social do povo argentino e preparar um Milei para o Brasil.

Já no primeiro parágrafo, a autora aponta que em 2024 o PIB argentino estaria “no mesmo nível de 2011”, tentando com isso pintar o kirchnerismo como sinônimo de estagnação. Esconde, no entanto, o essencial: os indicadores sociais sob Cristina Kirchner eram melhores. O salário mínimo, em dólar, era de US$580 em 2015, contra míseros US$230 em 2023 e menos de US$280 em 2025. O desemprego era menor, a pobreza também. Mas para os lacaios da burguesia, PIB é tudo — desde que sirva para atacar governos que, mesmo muitíssimos moderados, como o de Cristina, representem algum limite aos ditames do capital financeiro.

O texto da Folha exalta o “ajuste” como se fosse uma operação técnica virtuosa. Mas a quem serve esse ajuste? Quando se fala em “priorizar gastos” ou “equilibrar o orçamento”, a pergunta que precisa ser feita é: priorizar para quem? Equilibrar em favor de quem? A resposta é simples: banqueiros, grandes credores internacionais e especuladores — todos representados pelo FMI, esse instrumento do imperialismo criado justamente para pilhar países atrasados e sufocar qualquer projeto minimamente nacional. Não é à toa que o FMI apoia Milei.

E esse apoio do FMI ao presidente argentino escancara o verdadeiro conteúdo do regime: um Estado controlado pelo imperialismo, com aparência institucional e uma política de rapina brutal contra seu próprio povo.

A articulista da Folha tenta vender a ideia de que “os resultados são impressionantes”. O suposto crescimento de 5% não significa nada quando a população está comendo lixo. Ninguém come PIB. Ainda mais quando o que há é um crescimento pífio, que sucede uma recessão em 2024 (−1,7%) e uma inflação que beirou os 300%. A desvalorização do peso tornou a renda da maioria insignificante. Falar em “ganhos no poder de compra” é uma afronta à condição material das massas. Os aposentados, os pensionistas, os trabalhadores da educação — todos viram seus salários serem triturados. Por isso, estes setores estão nas ruas se manifestando e sendo brutalmente reprimidos, o que evidentemente é ignorado por completo.

A Folha chama de “corte de gastos ineficientes” é, na prática, o desmonte dos subsídios essenciais ao transporte e à energia elétrica. Cortar isso, mantendo uma versão mutilada do Bolsa Família argentino, o “Asignación Universal por Hijo”, é maquiagem para ocultar o verdadeiro ataque: a destruição das condições materiais de vida da população. A desvalorização real do salário, os aumentos tarifários, o desemprego e a precarização generalizada são efeitos diretos da política “virtuosa” do ajuste.

Citando o Valor Econômico, que é porta-voz dos banqueiros internacionais, a jornalista reproduz o discurso típico do imperialismo: demoniza o protecionismo e a indústria nacional em nome da “competição”. Ataca o controle de capitais, como se os países atrasados pudessem se desenvolver abrindo mão da soberania. Ora, como um país dominado pelo capital financeiro internacional pode se libertar se não defende sua indústria e seus recursos? É uma farsa total.

Na verdade, o que está sendo defendido é a desindustrialização, o fim de direitos, a liquidação dos sindicatos e a conversão da Argentina num protetorado das grandes corporações.

No fim, o texto se entrega completamente. Diz que a Argentina “está mostrando” que cortar do povo “traz benefícios”. Por isso, a imprensa repete: é preciso ajustar mais, cortar mais. E para isso tanto Lula quanto Bolsonaro já não servem. A burguesia quer um “gerente” que faça o serviço completo. Não adianta nomear Galípolo para o Banco Central e respeitar o teto fiscal. Nem mesmos os moderados cortes de programas sociais e benefícios previdenciários. O objetivo central é empurrar um Milei brasileiro goela abaixo da população.

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Last Update: 03/07/2025