A estratégia protecionista dos EUA não fortalece a economia nacional, mas aumenta custos, desemprego e a exploração global, diz relatório europeu


A Comissão Europeia acaba de confirmar o que muitos economistas progressistas já alertavam: as políticas protecionistas dos Estados Unidos, intensificadas sob o governo de Donald Trump, estão prejudicando não apenas a economia global, mas também os trabalhadores europeus e norte-americanos. O rebaixamento das previsões de crescimento da UE para 1,1% em 2025 e 1,5% em 2026 é um reflexo direto da guerra comercial irresponsável promovida por Washington, que beneficia apenas as grandes corporações enquanto sufoca o comércio internacional e amplia as desigualdades.

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Trump e seus aliados defendem as tarifas como uma forma de “proteger a indústria americana”, mas a realidade é bem diferente. O aumento das barreiras comerciais não trouxe empregos de volta aos EUA – pelo contrário, encareceu importações, aumentou custos para pequenas empresas e reduziu a competitividade global.

Agora, a Europa sofre as consequências, com exportações crescendo apenas 0,7% em 2025, um número pífio que reflete a desaceleração causada pelo conflito comercial.

O argumento de que “o protecionismo fortalece economias nacionais” é uma falácia. Na prática, ele desorganiza cadeias produtivas, gera inflação e penaliza os consumidores, especialmente os mais pobres, que dependem de bens acessíveis.

Enquanto isso, as grandes corporações – muitas delas financiadoras de campanhas de Trump – encontram brechas para continuar terceirizando produção e sonegando impostos, sem qualquer compromisso com a classe trabalhadora.

A hipocrisia do “America First” em um mundo interconectado

A política externa de Trump sempre foi marcada por um nacionalismo econômico agressivo, que ignora a interdependência das economias modernas. Ao impor tarifas abusivas e desestabilizar acordos comerciais, os EUA não estão “ganhando” – estão criando um efeito dominó de recessão e incerteza.

A própria Comissão Europeia admite que uma escalada nas tensões UE-EUA pode reduzir o PIB e aumentar a inflação, prejudicando milhões de trabalhadores dos dois lados do Atlântico.

E não é só a Europa que sofre. As tarifas contra a China, por exemplo, não frearam o crescimento chinês, mas aumentaram os preços para consumidores americanos e forçaram realocações industriais para países com mão de obra ainda mais explorada, como Vietnã e Bangladesh.

Ou seja: em vez de “trazer empregos de volta”, o protecionismo de Trump apenas reorganizou a exploração capitalista em escala global, sem melhorar condições de vida nos EUA.

A esquerda deve defender comércio justo, não isolacionismo

A resposta progressista a esse cenário não pode ser um protecionismo de esquerda – que, na prática, acaba sendo tão economicamente danoso quanto o de Trump. Em vez disso, é preciso defender:

  1. Acordos comerciais regulados, que incluam cláusulas trabalhistas e ambientais para evitar a precarização;
  2. Tributação justa sobre grandes corporações, impedindo que elas usem guerras comerciais para fugir de impostos;
  3. Cooperação internacional contra a evasão fiscal e o poder das multinacionais;
  4. Investimento em indústrias estratégicas públicas, não em subsídios a conglomerados privados.

A queda no crescimento europeu prova que o modelo de “cada um por si” só beneficia os mais ricos. Enquanto Trump e a extrema-direita insistem em políticas que dividem os trabalhadores (nacionalistas vs. imigrantes, americanos vs. chineses, europeus vs. americanos), a esquerda deve propor uma solidariedade internacionalista, combatendo o verdadeiro inimigo: o capitalismo globalizado que precariza vidas em nome do lucro.

A revisão das projeções da UE é um alerta: o protecionismo não é solução, é parte do problema. Em vez de aceitar a narrativa reacionária de “nós contra eles”, os trabalhadores europeus, americanos e do mundo todo devem reconhecer que seus verdadeiros adversários são os patrões e os bilionários que lucram com a desregulamentação e a guerra comercial.

A saída não está em fechar fronteiras, mas em abrir caminho para um novo internacionalismo – que una os povos contra as elites e exija políticas econômicas que sirvam à maioria, não aos acionistas do grande capital. Enquanto Trump e seus aliados promovem o caos, cabe à esquerda organizar a resistência.

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Last Update: 19/05/2025