A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por suspeita de tentar obstruir o julgamento da trama golpista em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). 

No mesmo inquérito, o pastor Silas Malafaia foi alvo de busca e apreensão, teve celular e passaporte retidos e está proibido de sair do país. 

Em nota publicada no site oficial, a PF informa que o relatório final das investigações foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira (15) “com o indiciamento de um deputado federal, atualmente no exterior, e de um ex-presidente da República”.

A investigação apresenta provas de descumprimentos das medidas cautelares, como o uso de redes sociais; a reiteração das condutas ilícitas e a existência de comprovado risco de fuga, comprovada por uma carta endereçada ao presidente argentino Javier Milei, por meio da qual Bolsonaro pediu asilo político.

O documento foi salvo no celular do presidente dois dias depois de deflagrada a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado.

“A Polícia Federal identificou, também, que, no dia 3/8/2025, o investigado Jair Messias Bolsonaro realizou grande atividade de compartilhamento por meio do aplicativo de WhatsApp, incluindo vídeos relacionados às sanções impostas pelos Estados Unidos da América a este Relator por meio da Lei Magnitsky, além da divulgação e promoção de eventos”, informa a decisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. 

Na referida data, Bolsonaro já estava sob cumprimento de medidas cautelares impostas por Moraes em 18 de julho.

Risco de fuga e descumprimento de medidas cautelares

As investigações revelaram que Jair Bolsonaro descumpriu medidas cautelares impostas pelo STF ao manter intensa atividade em redes sociais, mesmo após a apreensão de seus aparelhos. 

Os agentes constastataram que o ex-presidente adquiriu um novo celular e voltou a se comunicar por aplicativos de mensagem, retomando diálogos com Silas Malafaia e difundindo conteúdos relacionados às sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes.

O relatório traz ainda uma prova considerada central: uma carta endereçada ao presidente argentino Javier Milei, encontrada no celular de Bolsonaro, em que ele solicita asilo político. O documento foi registrado dois dias após a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que investiga a tentativa de golpe de 2022. 

Para a PF, esse episódio evidencia o risco concreto de fuga e a intenção de Bolsonaro de escapar do julgamento marcado para setembro.

Moraes já determinou prazo para a defesa do ex-presidente explicar os reiterados descumprimentos de medidas judiciais. O quadro reforça o isolamento jurídico de Bolsonaro, que já figura como réu no processo principal do golpe e agora enfrenta indiciamento por obstrução de Justiça.

Eduardo Bolsonaro e a articulação internacional contra o STF

O deputado Eduardo Bolsonaro foi incluído no indiciamento por sua atuação em Washington, onde buscou apoio do governo de Donald Trump para impor sanções a ministros do STF. 

Desde março, ele participou de reuniões em que defendeu a aplicação da Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes e discutiu a ampliação de punições a outras autoridades brasileiras.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), a tentativa de submeter o funcionamento do Supremo ao crivo de outro Estado configura atentado à soberania nacional. 

Por isso, em maio, foi aberto inquérito específico contra Eduardo, que acabou conectado ao principal, com base em áudios e mensagens recuperados no celular de Jair Bolsonaro.

Malafaia como operador político e financeiro

O pastor Silas Malafaia foi abordado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, ao desembarcar de Lisboa, e teve o celular apreendido. Além da retenção do passaporte, ele está proibido de se comunicar com os Bolsonaro. Moraes autorizou ainda a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico.

De acordo com a PF, Malafaia participou da definição de estratégias de coação e da difusão de narrativas contra o Judiciário. As mensagens indicam que ele orientava Jair Bolsonaro sobre postagens e mobilizações de rua, atuando como um dos principais porta-vozes da campanha de intimidação ao STF.

A influência de Malafaia também se estendeu ao financiamento de atos. Em 25 de fevereiro de 2023, custeou com recursos próprios a manifestação na Avenida Paulista que reuniu cerca de 185 mil pessoas, segundo levantamento da USP, e marcou o lançamento da campanha pela anistia a Bolsonaro. 

“As mensagens identificadas através da extração realizada pela Polícia Federal no celular apreendido de Jair Messias Bolsonaro indicam que Silas Lima Malafaia exerce papel de liderança nas ações planejadas pelo grupo investigado que tem por finalidade coagir os Ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades brasileiras, com claros atos executórios no sentido de coação no curso do processo e tentativa de obstrução à Justiça”, avalia Moraes.

Investigações recentes revelaram que, apesar de declarar renda anual superior a R$ 1 milhão em diferentes anos, o patrimônio formal do pastor não teve evolução, permanecendo em torno de R$ 4 milhões.

Julgamento da trama golpista

O julgamento da ação penal sobre a tentativa de golpe de 2022 começa em 2 de setembro, com o chamado “núcleo crucial” da trama. Além de Bolsonaro, figuram como réus ex-ministros e generais envolvidos na conspiração. 

O relatório da PF conecta os indiciamentos de Jair, Eduardo e Malafaia ao mesmo processo, ampliando o alcance das acusações.

A Procuradoria-Geral da República avaliará nas próximas semanas se apresenta denúncia formal contra pai e filho com base nas conclusões da PF. Para os investigadores, a atuação articulada entre o ex-presidente, o deputado e o pastor configura uma ofensiva contra a democracia, com tentativas de coagir ministros do STF, desacreditar instituições e impedir a responsabilização penal do bolsonarismo.

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Last Update: 21/08/2025