Um cessar-fogo na guerra entre Israel e o movimento islamista Hezbollah entrou em vigor nesta quarta-feira (27) no Líbano, após mais de um ano de confrontos que resultaram em milhares de mortes.
A trégua começou às 04h00 (23h00 de terça em Brasília) para encerrar um conflito que forçou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas em Israel e de centenas de milhares no Líbano.
Pouco depois do início do cessar-fogo, o exército israelense afirmou que os moradores do sul do Líbano não devem se aproximar das posições da força militar.
O porta-voz militar Avichay Adraee anunciou na rede social X que as forças israelenses continuam mobiliadas no sul do Líbano e que os moradores “estão proibidos de seguir para os vilarejos” evacuados por ordem do exército ou para suas bases.
Além disso, o exército libanês pediu à população local para “aguardar antes de retornar às localidades e vilarejos na linha de frente invadidas pelo inimigo israelense, esperando pela retirada”.
A força militar libanesa também afirmou que “está adotando as medidas necessárias para completar sua mobilização no sul”.
O conflito teve início com os ataques transfronteiriços do Hezbollah em apoio ao seu aliado palestino Hamas, após os ataques deste último grupo em 7 de outubro de 2023 contra o território israelense que desencadearam a guerra em Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que a trégua permitirá às forças israelenses se concentrarem nas tensões com o Irã e na guerra contra o Hamas.
Netanyahu conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e agradeceu “seu envolvimento” para que um acordo fosse alcançado, informou o gabinete do primeiro-ministro israelense.
O cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah representa um “passo fundamental” para a estabilidade regional, afirmou o primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati.
Até o momento, o Hezbollah não reagiu publicamente ao acordo.
Hamas “disposto” a uma trégua em Gaza
O Irã celebrou o “fim da agressão” israelense contra o Líbano, afirmou o porta-voz da diplomacia do país, Esmail Baqai.
Um dirigente do Hamas declarou à AFP que o grupo palestino também está “disposto” a uma trégua em Gaza que inclua um “acordo sério para a troca de prisioneiros”.
Tanto o Hamas quanto o Hezbollah são apoiados pelo Irã, que disparou diversos mísseis e drones contra Israel desde o início do conflito em Gaza. A maioria dos projéteis foi interceptada por Israel ou seus aliados.
A duração do cessar-fogo, precisou, dependerá “do que acontecer no Líbano”, e Israel manterá, “em total acordo com os Estados Unidos”, uma “liberdade de ação total” no país.
“Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos”, ressaltou.
A trégua aconteceu após um dia de intensos bombardeios israelenses no centro de Beirute, onde pelo menos 10 pessoas morreram, segundo as autoridades libanesas.
Israel iniciou uma campanha de bombardeios contra os redutos do Hezbollah no Líbano em 23 de setembro e uma operação terrestre no sul do país uma semana depois.
Com essas ações, Israel buscava neutralizar o movimento pró-Irã no sul do Líbano para garantir a segurança de sua fronteira e permitir o retorno de 60 mil residentes deslocados.
A trégua “protegerá” Israel da “ameaça” do grupo xiita, afirmaram os presidentes dos Estados Unidos e da França, Joe Biden e Emmanuel Macron, que negociaram o acordo, em um comunicado conjunto.
Ambos os países “trabalharão junto a Israel e ao Líbano para garantir o cumprimento integral deste acordo”, acrescentaram. Também “seguem decididos a garantir que este conflito não provoque um novo ciclo de violência”.
Segundo o site americano Axios, o acordo prevê uma trégua de 60 dias. Durante esse tempo, o Hezbollah e o Exército israelense se retirariam do sul do Líbano para permitir que as tropas libanesas se desloquem para a zona.
Vigilância internacional
O plano de cessar-fogo inclui a criação de um comitê internacional para supervisionar sua implementação, e os Estados Unidos teriam prometido apoiar ações militares israelenses em caso de atos hostis do Hezbollah, acrescentou o Axios.
A mediação baseia-se na resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que encerrou a guerra anterior entre Israel e o Hezbollah em 2006 e estipula que apenas o Exército libanês e as forças de paz podem ser posicionados na fronteira sul do Líbano.
O ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, chamou o acordo de trégua de “erro histórico”.
Segundo o Ministério da Saúde libanês, quase 3.800 pessoas morreram no país desde outubro de 2023. As hostilidades também deslocaram cerca de 900 mil pessoas, segundo a ONU. Do lado israelense, morreram 47 civis e 82 militares em 13 meses.
O Exército israelense continua seus ataques contra a sitiada Faixa de Gaza, onde pelo menos 22 pessoas morreram na terça-feira, segundo a Defesa Civil.
A guerra eclodiu após o ataque sem precedentes lançado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.207 pessoas, na maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais, incluindo os reféns mortos ou em cativeiro.
A ofensiva israelense lançada em represália em Gaza deixou pelo menos 44.249 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.