Mais um espetáculo de Adolfo

por Rique Reis

Hoje vamos explorar Love Cole Porter (AAM), um tributo ao compositor norte-americano Cole Porter, apresentado por Adolfo. Vamos analisar quatro de suas obras.

“Easy To Love”: o piano entra em cena. Os sopros se juntam. A alma musical de Adolfo se faz sentir. Pura magia! O sax assume o improviso, enquanto a bateria, o baixo e o piano o acompanham. O trombone assume o proscênio. Com uma levada que é puro samba de gafieira, o couro começa. Os sopros criam uma cama para um novo solo do piano. O suingue é ardente. Os metais vêm e vão em intervenções precisas. O piano retoma as rédeas e balança num improviso esperto. Eita que a tampa abriu quente!

“I’ve Got You Under My Skin”: uma quase imperceptível percussão dá a intro pro piano conduzir a melodia com os sopros. Adolfo escreve para eles como se criasse uma ode à música, tamanha é a dimensão sonora que se agiganta ante os ouvidos. O bongô abre alas para o improviso do trompete. A guitarra surge elevada em seu dedilhar. Aqui e ali, os sopros seguem se multiplicando em aberturas. Palmas marcam o tempo forte. O suingue agradece. Volta o trompete, que logo entrega a vez ao piano. Após um tamborilar de dedos no bongô, os metais levam ao final.

“Night and Day”*: com o batera triscando os pratos, o piano abre o clássico de Mr. Cole Porter. Os sopros assumem a melodia e o brilho cresce. A música é bela, como belo é o piano de Adolfo, que a conduz até entregá-la ao sax. O improviso tem tudo de samba-jazz: criatividade e perspicácia. A bateria conduz. O baixo segue na cola. Todos se ajuntam e criam a atmosfera que o piano precisa para vir à cena e dar-se por inteiro. Compassos de máxima agudeza surgem aos ouvidos do ouvinte – extasiado, seu sorriso é franco. Com a bateria e o piano, o baixo assume o controle e cria o ambiente que antecede o solo da bateria. Os metais em bloco sustentam a beleza do tema famoso: Adolfo dá a ele o seu talento e o engrandece. Ponto final!

Fechando a tampa, “You do Something To Me”. A bateria traz o naipe dos metais pelas mãos e os dá ao fascínio de quem os ouve. A essa altura, queixo caído próximo do peito, os pelos ouriçados e a alma em festa, o ouvinte é pura identificação com a sonoridade proposta por Adolfo e os instrumentistas que com ele estão.

Ora, a música nasce da criação de um compositor natural de uma pátria, é claro! Mas quando ela é amalgamada por músicos de outros povos, que as tocam, cantam e dançam a seu gosto e jeito, adaptando-a, ela harmoniza as gentes. E ao lhes dar sentido de fraternidade e solidariedade, a música se perfaz, de fato, mátria.

Rique Reis

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Ficha técnica: Adolfo: piano e arranjos; Lula Galvão: guitarras; Jorge Helder: baixo; Rafael Barata e Dada Costa: percussões; Jesse Sadoc: trompete e flugelhorn; Danilo Sinna: sax alto; saxes soprano e tenor e flauta: Marcelo Martins; Rafael Rocha: trombone.

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Última Atualização: 11/07/2024