O mundo em transformação
por Felipe Bueno
Última chamada! É a sua oportunidade para se atualizar sobre esse tal mundo do título acima e também sobre “Direito, Democracia e Sustentabilidade na Era Inteligente”. É a décima terceira edição do Fórum de Lisboa que se inicia, importando para o Velho Continente, pelo menos por alguns dias, mais de uma centena de notáveis brasileiros.
Longa vida a quem cria títulos de eventos (assim como de versões em português de filmes e séries, mas essa é outra conversa). A nós, que não temos dinheiro próprio nem público para voar até a Península Ibérica, proponho inicialmente uma análise modesta, uma simples reflexão sobre o uso das palavras.
Comecemos com o “mundo em transformação”, expressão que, no limite, poderia ser usada em qualquer evento desde o Big Bang ou, alternativamente, desde o momento em que a divindade de sua preferência resolveu criar esse manicômio esférico – porém achatado nos polos, é preciso admitir. Não importa que o título do evento seja uma enorme platitude e não signifique nada: vistamos nossos melhores ternos, usemos nossas máscaras de circunspecção e ponderação e vamos lá ver que transformações são essas, se possível com um bom Porto entre uma discussão e outra.
Mas o deboche não terminou; temos o complemento do título, que define e circunscreve a área de atuação dos brasileiros eleitos – alguns, nem isso – para viajar a Lisboa. Estão em debate: “direito, democracia e sustentabilidade na era inteligente”.
Investigações arqueológicas sérias dão conta de que o grande Hamurabi, criador do código que até hoje leva seu nome, já recebia parlamentares e ministros ávidos para aprender algo sobre suas 282 leis num mundo claramente em transformação, mais ou menos 3 mil anos atrás. Sabe-se que é certo também que a Lei das Doze Tábuas, cerca de mil anos mais moderna, também foi objeto de animadas discussões num também efervescente mundo em transformação ainda na época da República Romana.
Da democracia pode-se dizer coisa parecida. Quanto ao termo sustentabilidade, fica a dúvida: de quem ou de que pessoas, físicas e jurídicas. As árvores, os rios e os animais poderiam dar respostas mais sinceras, mas a eles foi vetado o direito de fala, ainda que vivamos numa “era inteligente”.
Inteligentes são eles, burros somos nós, diariamente debatendo gastos públicos do governo federal no balcão da padaria. Esperteza é uma commodity que o Brasil sabe vender muito bem. No tal mundo em transformação, nossa balança comercial de soft power mudou a pauta de exportações, apenas isso.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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