O diretor Sérgio de Carvalho, conhecido pelo premiado “Noites Alienígenas”, lança seu mais novo trabalho, o documentário “Empate”, que passa pela história de Chico Mendes. A obra chega aos cinemas brasileiros em 5 de dezembro. O projeto conta com distribuição da Descoloniza Filmes e produção da Saci Filmes. O longa aborda o movimento seringueiro do Acre nas décadas de 1970 e 1980. Através das lentes, o diretor busca um olhar sobre as lutas e desafios enfrentados por trabalhadores da floresta, incluindo o icônico líder ambiental.

O projeto teve início há mais de 20 anos, quando Sérgio foi procurado por Elenira Mendes, filha de Chico Mendes, na ocasião do vigésimo aniversário da morte do ativista em 1988. “Ela queria um filme que fosse além da imagem do herói intocável. Conversando com ela, sugeri um filme sobre os companheiros do Chico: como essas pessoas estão 20 anos depois, se a luta valeu a pena e tudo mais. O longa foi filmado justamente quando se completaram 30 anos, em um momento de turbulência política no Brasil”, explica o diretor.

Chico Mendes é resistência

chico mendes

Radicado no Acre há mais de duas décadas, Sérgio desenvolveu uma conexão profunda com a história e os personagens do movimento seringueiro. O diretor frequenta a Reserva Extrativista Chico Mendes e, ao longo dos anos, formou laços com antigos companheiros de luta de Chico. “Essas pessoas são incríveis. Sentar com elas é sempre uma aula sobre a relação com a floresta e a capacidade de organização. Essa história é muito forte e, ao mesmo tempo, desconhecida no Brasil”, reflete.

Com roteiro assinado por Sérgio e Beth Formaggini, que trouxe sua vasta experiência no gênero documental, o longa também contou com a montagem de Lorena Ortiz, cuja sensibilidade ajudou a organizar a narrativa entre vasto material coletado. “A Lorena encontrou uma narrativa na montagem do filme, definindo personagens que conduzissem a história até o conflito principal”, detalha Sérgio.

Alerta para o futuro

Filmado em 2018, o documentário explora o contexto político e ambiental de um Brasil que enfrentava mudanças significativas. Sérgio destaca como o filme captura “o momento em que o ovo da serpente estava para eclodir”, em alusão à ascensão de políticas que ameaçam o meio ambiente, intensificadas durante o governo de Jair Bolsonaro.

O longa evidencia os impactos do extrativismo e as ameaças crescentes à Reserva Extrativista Chico Mendes, como projetos de lei que visam reduzir seu território, invasões de fazendeiros e desmatamento. Esses problemas se agravam com as mudanças climáticas, trazendo consequências inéditas, como a falta de água em regiões amazônicas.

“A situação na reserva é crítica. Há um choque cultural e ambiental causado por invasores de outros estados, principalmente Rondônia, que trazem uma lógica diferente da extrativista. O desmatamento é absurdo, e os efeitos do período Bolsonaro continuam sendo sentidos”, alerta o diretor.

Mais do que um registro histórico, “Empate” é uma provação à resistência e à organização. “O filme é um chamado à luta. Esses companheiros enfrentaram latifundiários, a polícia, o poder econômico, e avançaram. A história deles nos ensina a resistir contra qualquer forma de opressão”, conclui Sérgio.

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Last Update: 26/11/2024