O jornalista Bepe Damasco publicou no portal Brasil 247 um artigo chamado Efeito Kamala sacode o tabuleiro eleitoral e zera o jogo. O autor se mostra extremamente iludido não apenas com o caráter da nova candidata do Partido Democrata, Kamala Harris, mas com as possibilidades eleitorais da nova candidatura do imperialismo.
“Resta saber como o eleitorado dos EUA reagirá à candidatura de uma mulher negra à presidência da República. A minha expectativa é que essa aposta na diversidade de gênero (nunca uma mulher presidiu os EUA) e na representatividade da população negra e imigrante chacoalhe o tabuleiro político de uma forma tal que leve à derrota do fascismo.”
O autor se empolgou com a propaganda imperialista sobre a possibilidade de uma mulher negra na presidência dos EUA. Ele acredita que a nova candidata irá mudar radicalmente os rumos da eleição. Sobre isso, é difícil afirmar com certeza. Logicamente que o imperialismo irá usar os atributos da nova candidata – mulher negra – para tentar mudar a relação de forças na eleição ou até mesmo criar condições para uma fraude.
Mas é muito cedo para tirar conclusões como essa. O identitarismo não afeta quase nada os eleitores de Trump. A carta da ‘mulher negra’ será usada para conquistar os setores que votariam nos Democratas, mas que estavam rejeitando Biden graças à sua política genocida, por exemplo, no caso da Palestina. O problema dessa manobra é que Harris é a vice de Biden e apoia exatamente todas as políticas dele.
Porém, se Bepe fosse eleitor norte-americano, talvez ele caísse na manobra. Ele acredita que a vitória de Harris seria uma derrota do fascismo, o que é completamente absurdo de se afirmar. E é justamente esse o ponto central da manobra que o imperialismo tentará fazer: acreditar que Harris é a ‘derrota do fascismo’.
Cair nessa conversa é não entender que não existe fascismo sem imperialismo e a derrota do fascismo só pode se dar se o imperialismo for derrotado. Kamala Harris, assim como era Biden, é a candidata mais importante do imperialismo. A candidatura de Harris representa o bloco mais poderoso, portanto mais sanguinário do imperialismo. Portanto, é um total contrassenso acreditar que uma vitória dela seria a derrota do fascismo; é, antes, o fortalecimento dele. E isso não é apenas na teoria, basta ver o que Biden está fazendo com a Ucrânia e a Palestina e que Harris não apenas será a continuadora dessa política, como é a atual vice-presidente, ou seja, assina embaixo de todos os crimes cometidos pelo governo norte-americano.
Acredita-se que Harris manterá essa política: “É ‘óbvio ululante’, tomando emprestada uma expressão de Nelson Rodrigues, que o Estado norte-americano, independentemente de quem o governe, é imperialista… Também está no DNA do establishment político e econômico estadunidense o apoio ao sionismo e a consequente cumplicidade com as atrocidades cometidas por Israel contra o povo palestino ao longo de sete décadas.”
Mesmo sabendo disso, o autor não consegue se desvincular da propaganda imperialista e acredita que: “o que está em jogo na eleição de 5 de novembro nos EUA é a defesa da democracia global, seriamente ameaçada se Trump for eleito”. Mas que ‘democracia global’ é essa que ele mesmo descreve? Com genocídios, golpes de Estado, guerras. Bepe Damasco está enfeitiçado pela ‘democracia’ imperialista, bela em palavras, fascista na realidade. E se assusta com Trump, que não é belo nas palavras e também é fascista na realidade.
Acredita-se também na propaganda identitária da mulher negra na presidência: “O Partido Democrata, por exemplo, apoia a sanha militarista e expansionista do império ao redor do mundo, mas abriga em suas fileiras importantes segmentos progressistas formados por negros, mulheres, hispânicos, defensores da causa LGBTQIA+, intelectuais, sindicalistas e artistas.”
Essa presença de ‘setores progressistas’ no partido democrata até agora não valeu nada. O governo norte-americano, com toda a violência, continua massacrando os palestinos e outros povos no mundo. Essa presença só serve mesmo como cobertura para os crimes.
Também não é correto dizer que parte desses setores são ‘progressistas’. A própria Kamala Harris é um caso que desmente isso. Ser mulher negra não a impediu de ser a responsável pela prisão de milhares de negros quando foi procuradora no condado de São Francisco, entre 2004 e 2011, depois no estado da Califórnia, entre 2011 e 2017, sendo responsável pelo aumento nas taxas de encarceramento.
A ‘representatividade’ só tem um objetivo: enganar os trouxas. É como as piadas que tem sido feitas nas redes sociais onde ironicamente se comemora a possibilidade de que pela primeira vez uma mulher negra poderá bombardear um país.