A desistência do presidente democrata norte-americano Joe Biden de concorrer à reeleição despertou reações em todo o mundo. Trata-se, afinal, de um momento histórico, que escancara o tamanho da crise que vive o país mais importante de toda a ordem mundial. É uma vitória, em grande medida, das forças progressistas de todo o mundo, que se levantaram contra o genocídio na Faixa de Gaza e acabaram com a base de apoio do governo norte-americano.
Este fato, no entanto, vem sendo utilizado por setores da esquerda para defender uma política diametralmente oposta àquela que levou à desistência de Biden. Isto é, a política de contemporização com este que é o maior dos inimigos de todos os oprimidos: o imperialismo.
Esse é o caso, por exemplo, do presidente Lula. Em seu perfil no X (antigo Twitter), o brasileiro disse que ficou “muito feliz quando o presidente Biden foi eleito e mais ainda pelos posicionamentos dele em defesa dos trabalhadores”. Lula ainda destacou que “estabelecemos juntos uma parceria estratégica em defesa do trabalho decente no mundo”.
Que Lula, na figura de um chefe de Estado, não considere de bom-tom criticar o presidente de outro país, pode até ser compreensível. No entanto, nenhuma regra diplomática estabelece que um presidente seja obrigado a elogiar o outro. E, pior ainda, que seja obrigado a mentir para a sua própria população para elogiar um presidente estrangeiro.
Ao dizer que Biden tem algum posicionamento “em defesa dos trabalhadores”, Lula está, na verdade, confundindo tanto os trabalhadores brasileiros, como os trabalhadores norte-americanos. O presidente brasileiro é visto pela classe operária mundial como uma liderança progressista, como uma pessoa que lutou contra a ditadura militar, como uma pessoa que organizou greves massivas. Uma pessoa, portanto, que nada tem a ver com a política de rapina comandada pelo Partido Democrata norte-americano.
Nem mesmo Lula acredita que Biden seja uma figura positiva para o País. Biden, afinal, era o vice-presidente dos Estados Unidos quando ocorreu o golpe de 2016, tendo, inclusive, atuado como interlocutor entre o governo norte-americano e o de Michel Temer. Foram os Estados Unidos – e Lula sabe muito bem disso – quem colocaram o maior líder popular do País na cadeia por 580 dias. Os elogios de Lula são, portanto, uma espécie de declaração de intenções: Lula, ao elogiar Biden, está propondo uma frente com o imperialismo.
O problema é que essa frente, além de ser extremamente negativa para o conjunto da classe operária mundial, é impossível. Na medida em que aumenta a polarização em todo o mundo, o imperialismo necessita de governos de força, como é o governo de Javier Milei, na Argentina, e como é o governo de Nayib Bukele, em El Salvador. O imperialismo jamais verá Lula como um aliado nas atuais circunstâncias, mas como um obstáculo que deve ser removido.
É preciso romper com qualquer ilusão de que o imperialismo seja “democrático” ou mesmo um aliado circunstancial contra a extrema direita. A experiência em países como a França estão mostrando que, entre a extrema direita e a esquerda, a burguesia irá sempre preferir a primeira. É preciso unificar os trabalhadores e o conjunto do movimento popular contra o imperialismo, defendendo o País dos vampiros que querem roubar o petróleo brasileiro e todas as riquezas do povo trabalhador. Fora imperialismo da América Latina! Fora imperialismo do Brasil!