Ao ampliar a isenção tarifária, China redefine as regras da cooperação internacional e desafia a hegemonia punitiva dos Estados Unidos


Em um gesto que reforça sua posição como principal parceiro econômico da África, a China anunciou nesta semana sua disposição para eliminar as tarifas sobre importações provenientes de todos os 53 países africanos com os quais mantém relações diplomáticas. A medida, anunciada durante uma reunião de cooperação sino-africana, surge em um momento crucial, quando o continente enfrenta a ameaça de aumento de tarifas por parte dos Estados Unidos.

Há 15 anos consecutivos, a China se mantém como o maior parceiro comercial da África, consolidando uma relação baseada em investimentos em infraestrutura, transferência de tecnologia e comércio justo. Em 2023, as exportações africanas para o gigante asiático atingiram a marca de US$ 170 bilhões, um recorde que demonstra a força dessa parceria.

Em um comunicado conjunto, os ministros presentes na reunião criticaram duramente as políticas protecionistas de “certos países” – uma clara referência aos Estados Unidos – que, segundo eles, buscam desestabilizar a ordem econômica global por meio de medidas unilaterais. O documento também exortou Washington a resolver disputas comerciais com base nos princípios de “igualdade, respeito e benefício mútuo”, valores que a China afirma praticar em suas relações com o Sul Global.

Expansão da isenção tarifária

A nova medida é uma expansão de um acordo firmado no ano passado, quando a China zerou as tarifas para produtos de 33 nações africanas consideradas “menos desenvolvidas”. Agora, a isenção será estendida a todos os parceiros comerciais do continente, incluindo economias mais robustas, como África do Sul e Nigéria.

A única exceção é Essuatíni (antiga Suazilândia), que mantém relações diplomáticas com Taiwan. A China, que considera Taiwan parte inegociável de seu território, segue uma política de não concessões a países que desafiem sua soberania.

Contraste com as políticas dos EUA

Enquanto a China amplia sua cooperação com a África, os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Donald Trump, ameaçam impor tarifas abusivas sobre produtos africanos. Em abril, Trump anunciou taxas de até 50% para o Lesoto, 30% para a África do Sul e 14% para a Nigéria – medidas que geraram alarme entre os parceiros comerciais africanos.

Apesar de uma suspensão temporária, o governo norte-americano deixou claro que a cobrança pode ser retomada caso os países não negociem de “boa-fé”. Essa postura contrasta fortemente com a política chinesa, que busca relações comerciais estáveis e mutuamente vantajosas.

Impacto econômico e geopolítico

A África exporta para a China principalmente matérias-primas, como minérios e petróleo, com destaque para a República do Congo e a Guiné. A eliminação das tarifas deve fortalecer ainda mais esses laços, garantindo acesso privilegiado ao maior mercado consumidor do mundo.

Enquanto isso, os EUA, que em 2024 importaram US$ 39,5 bilhões em produtos africanos – muitos deles sob o regime preferencial do African Growth and Opportunity Act (Agoa) –, arriscam perder espaço na região caso insistam em políticas comerciais agressivas.

A decisão da China reflete não apenas uma estratégia econômica, mas também um compromisso político com o desenvolvimento africano. Enquanto potências ocidentais adotam medidas protecionistas, Pequim se posiciona como um aliado confiável, disposto a construir um mundo multipolar baseado na cooperação e no respeito à soberania dos povos.

Para a África, essa parceria representa uma oportunidade histórica de crescimento autônomo, longe das amarras do neocolonialismo econômico. E para o mundo, serve como um exemplo de como o comércio internacional pode – e deve – ser uma ferramenta de desenvolvimento coletivo, não de dominação.

Com informações da BBC*

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Last Update: 13/06/2025