Da Página do MST
Neste ano de 2024, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) estará ao lado de mais de 600 candidatos/as que disputam as eleições municipais, na luta por temas centrais para a sociedade brasileira, como o direito à dignidade no campo, alimentação e pela Reforma Agrária Popular. As candidaturas refletem estas bandeiras históricas do MST, e devem dar suporte a uma política que priorize estas questões populares.
Dos mais de 600 candidatos, 258 são Sem Terra, ou seja, muitos cresceram em meio ao Movimento, começando sua atuação política desde cedo e agora trabalham para se eleger, levando a luta pela terra cada vez mais longe.
A decisão de apresentar candidaturas Sem Terra vem depois de um amplo debate sobre como o Brasil, nos últimos anos, tem vivido um cenário político marcado pela ascensão da extrema direita. Essa tendência tem gerado preocupações sobre o futuro da democracia e dos direitos humanos, especialmente diante do aumento de discursos e políticas que ameaçam as liberdades civis, a diversidade e o acesso aos direitos básicos.
A extrema direita no Brasil, embora tenha conseguido consolidar uma base social significativa entre setores como comerciantes, profissionais liberais, militares, policiais e evangélicos da classe trabalhadora, tem sofrido algumas derrotas políticas também. A vitória de Lula nas eleições, as tentativas fracassadas de golpe, a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, e os processos judiciais contra seus principais membros, enfraqueceram a posição da extrema direita no cenário nacional.
Assim, após uma ampla campanha para a eleição de deputados estaduais e federais em 2022, com 15 candidatos em que o MST elegeu oito deputados, o Movimento reafirma a decisão política de apoiar um conjunto de trabalhadores/as Sem Terra e candidatas/os, que contribuem para um país mais plural e digno. Desta vez, enxergando a importância dos vereadores, prefeitos e vice-prefeitos em posições estratégicas no espaços institucionais, mais perto da base e do dia-a-dia das pessoas, fortalecendo a Reforma Agrária Popular, a agricultura familiar camponesa e os direitos da classe trabalhadora.
Esta ação massiva parte da necessidade de se posicionar de forma ativa, mobilizando a sociedade para participar do processo político e buscar soluções para os conflitos e violências diárias, entendendo que a participação popular é o único caminho para garantir a democracia.
Participação direta nas eleições
Historicamente, o MST se limitava a indicar candidatos nos processos eleitorais. Entretanto, pela segunda vez em seus 40 anos de existência, o Movimento está sendo convocado a participar diretamente com sua força política nos territórios da Reforma Agrária espalhados pelo país. A base social do MST está fortemente enraizada nos pequenos municípios, onde a proposta da Reforma Agrária se materializa de forma concreta. Por isso, a inserção nos espaços políticos e partidários desses municípios é considerada essencial, assim como em 2022.
Os candidatos a vereadores deste ano se comprometeram que, caso eleitos, ocuparão posições estratégicas na luta política nesses territórios. Por isso, o MST destaca a importância de construir uma força política capaz de concretizar as bandeiras de luta da Reforma Agrária, além de lutar por políticas públicas e mudanças, especialmente nos municípios do interior. Para isso, é necessário ampliar o debate e aumentar a participação ativa da base social Sem Terra, ajudando a politizar e organizar a população desses locais. Outros números que chamam a atenção dizem respeito à diversidade presente nas plenárias, outro compromisso assumido pelo Movimento.
A luta se faz no dia-a-dia
Se os desafios enfrentados pela classe trabalhadora e pela esquerda no Brasil demandam ações coordenadas para acumular forças e promover mudanças, um dos primeiros passos é retomar o trabalho de base, organizando as massas trabalhadoras e elevando seu nível cultural e de consciência de classe.
Para tanto, o Movimento se une ao esforço contínuo para se conectar com as necessidades e aspirações das comunidades, especialmente nas periferias das médias e grandes cidades, onde a organização de núcleos comunitários, cozinhas solidárias e outras iniciativas de construção comunitária são fundamentais.
Além disso, é necessário estimular a luta social em todos os setores, promovendo as lutas de massa como uma forma de pressão e mobilização social. A juventude também precisa ser uma prioridade nesse processo, sendo alvo de um trabalho organizativo específico que fortaleça seu engajamento e participação ativa nas transformações sociais.
A defesa da natureza também é um ponto central, com a necessidade de enfrentar os crimes ambientais e as mudanças climáticas por meio de iniciativas como a proteção dos recursos hídricos, a promoção de alimentos saudáveis, o desmatamento zero, o reflorestamento e o controle da mineração.
Neste sentido, o que está em jogo nestas eleições são o princípio a liberdade, em especial de corpos e territórios; o direito à terra e ao teto no campo e na cidade; o direito a alimentos culturalmente estabelecidos e nutricionalmente adequados; o direito ao trabalho e ao lazer. São pontos que partem de um projeto popular, um projeto que ajude a superar as raízes da violência social, patriarcal e racial, e que sirva de alicerce para a formação social brasileira.
Com este compromisso, o MST reforça suas pautas para estas candidaturas:
- Reforma Agrária Popular para democratizar o acesso à terra e promover o desenvolvimento do campo;
- Políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis da agricultura familiar camponesa, fomentando a agroecologia e o combate à fome;
- Política ambiental sustentável pela preservação da natureza e combate à violência de territórios e seus povos tradicionais;
- Direitos da classe trabalhadora por justiça social, emprego, renda, moradia, saúde, educação e cultura;
- Fortalecimento da democracia, direitos humanos em prol da diversidade étnico-racial, sexual e de gênero.
*Editado por Solange Engelmann