O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou os três novos indicados para a diretoria do Banco Central (BC), que assumirão os cargos a partir de 1º de janeiro de 2025, caso sejam aprovados pelo Senado. Os nomes escolhidos foram Izabela Correa, Gilneu Vivan e Nilton David, todos com perfis distintos que refletem uma confiança da burguesia, pois mesclam a experiência e confiabilidade do mercado financeiro com estudos e trabalhos nos países imperialistas. Contudo, as indicações levantam dezenas de questões sobre possíveis conexões com interesses externos e ONGs que, historicamente, são meios usados pelo imperialismo para intervir nos países de capitalismo atrasado.
Izabela Correa foi escolhida para ocupar a Diretoria de Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta, atualmente liderada por Carolina de Assis Barros. Servidora do Banco Central desde 2006, ela possui um currículo acadêmico com doutorado em Governo pela London School of Economics and Political Science (LSE) e pós-doutorado pela Universidade de Oxford. Se formou em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em administração pública pela Fundação João Pinheiro.
Atualmente, Izabela exerce o cargo de secretária de Integridade Pública na Controladoria-Geral da União (CGU). Sua trajetória acadêmica em instituições britânicas e sua posição no setor de integridade pública sugerem um perfil chamado pela burguesia de “técnico”, isto é, alinhado à burguesia. A London School of Economics, onde Izabela concluiu seu doutorado, é um antro de debates sobre políticas neoliberais e é um espaço onde interesses de think tanks ligados ao capital financeiro frequentemente agem. A London School of Economics, autointitulada como principal escola de economia e política social do mundo, pertence e lidera o grupo CIVICA, grupo este fundado pela União Europeia e que abrange as dez principais universidades de economia da Europa. Seu papel, definido e disponível em seu sítio, é “educar” todos os europeus até 2030 em educação política, financeira e econômica, sendo Izabela Correa uma aluna desta forma de educação pela União Europeia e que, agora, indicada por Lula, alçará um andar superior em seu nível de influência.
Gilneu Vivan foi indicado para a Diretoria de Regulação, substituindo Otávio Damaso. Servidor do Banco Central desde 1994, é mestre e bacharel em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, lidera o Departamento de Regulação do Sistema Financeiro e, antes disso, foi chefe do Departamento de Monitoramento do Sistema Financeiro Nacional. Gilneu atuou como conselheiro para organizações imperialistas como o Financial Stability Board (FSB), que é um grupo responsável, como consta em seu sítio, por monitorar relações econômicas e a situação financeira dos países, recomendando para os grandes bancos e especuladores o investimento em determinados países ou não.
Há uma longa carreira no Banco Central, que age como um puxadinho dos interesses financeiros do imperialismo, e a participação de Vivan em fóruns globais como o FSB chama a atenção. O já mencionado FSB é uma entidade que opera sob a órbita do G20 e é frequentemente apontado como um mecanismo de influência das grandes potências imperialistas sobre as políticas financeiras dos países de capitalismo atrasado. Não há, neste ponto, algum indício de que a indicação de Gilneu priorizaria sobre nenhum aspecto a frágil soberania econômica brasileira.
Por último, Nilton David foi indicado para a Diretoria de Política Monetária, substituindo Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência do BC em 2025. Atualmente, Nilton é chefe de Operações da Tesouraria do Bradesco e já atuou em outras instituições mercado financeiro, como Morgan Stanley, Citi, Barclays e Goldman Sachs. Dos três, é o caso mais escatológico, tendo sua trajetória estritamente marcada por sua presença no setor financeiro privado, especialmente a bancos e instituições com forte presença no mercado internacional. A atuação de Nilton em gigantes como Goldman Sachs, conhecida por seus vínculos com políticas econômicas de governos neoliberais, escancara que o conhecido ditado de que “não há como servir a dois senhores simultaneamente”. A Goldman Sachs, em particular, é frequentemente apontada por seu papel chave em crises financeiras e por influenciar políticas de países em desenvolvimento em alinhamento com interesses imperialistas.
A nova composição da diretoria do Banco Central, caso confirmada pelo Senado, representará uma guinada no Copom (Comitê de Política Monetária), com sete dos nove integrantes indicados por Lula, para uma postura ainda mais neoliberal. Essa maioria pode reforçar o alinhamento do BC com as políticas do imperialismo, quando 7 dos 9 são indicados pelo presidente do PT, e coloca ainda mais o peso das decisões para os interesses do mercado. O Banco Central, instituição chave para a política econômica brasileira, segue sob ataque e no centro da mira do imperialismo. As escolhas de Lula para a diretoria demonstram uma tentativa de ceder ainda mais ao “mercado”, como vulgarmente chamam o imperialismo, e revelam o possível fracasso de se manter a soberania em uma conjuntura de cada vez mais pressão.
Com a transição em 2025, o Brasil terá uma diretoria que, em teoria, será mais alinhada com os objetivos dos bancos. A sabatina no Senado não deverá apresentar nenhuma reviravolta, com nomes completamente tragáveis aos deputados eleitos tanto pela direita, quando pela esquerda pequeno-burguesa.