Em meio a tantos jogos da fase de grupos e das oitavas de final desta Copa do Mundo de Clubes, que chegaram a atrair a atenção até de quem não costuma acompanhar futebol, algumas situações se destacaram de maneira especial – e ganham ainda mais força com a chegada das partidas eliminatórias. Uma delas foi a demissão do técnico Renato Paiva, do Botafogo, após apenas quatro meses no comando. A derrota para o Palmeiras foi determinante. Nem mesmo a vitória sobre o poderoso PSG, atual campeão da Champions League, foi suficiente para mantê-lo no cargo.

A notícia pegou muitos de surpresa e causou impacto imediato, como não poderia deixar de ser, reflexo do bom trabalho desenvolvido pelo técnico português. Além disso, o Campeonato Brasileiro está no meio do caminho, e uma mudança dessas contraria a estabilidade esperada de um time organizado. Paiva supostamente não estaria alinhado com o “Botafogo Way” idealizado por John Textor, por ter adotado uma estratégia mais defensiva contra o Palmeiras. Ganhou o rótulo de “retranqueiro”, talvez injusto, mas que, de toda forma, acabou selando seu destino.

A demissão de Renato Paiva também surpreende pelo longo tempo gasto em sua contratação. Fica a oportunidade para refletirmos sobre essa “onda” de treinadores estrangeiros no Brasil, tão apreciada nos últimos tempos.

Já a eliminação do Flamengo parece ter origem distinta. O técnico rubro-negro, Filipe Luís, vinha sustentando, com relativo sucesso, aquela velha máxima: “Em time que está ganhando não se mexe”. Dentro dessa lógica, o ideal seria concentrar esforços na evolução do conjunto dos jogadores. Em contraste, há uma abordagem considerada mais “moderna”, na qual a formação da equipe muda a cada partida e até mesmo durante o jogo, de acordo com o resultado em campo e as estratégias do adversário.

No duelo entre Flamengo e Bayern, o resultado evidenciou ao menos duas razões explícitas: os erros individuais do rubro-negro e a eficácia do goleador ­Kane. Em ambos os gols, o inglês mostrou um grau elevadíssimo de especialização na função de finalizador: um gol de cada lado, rente às traves, recebendo a bola de costas e sem olhar. Domínio absoluto.

Infelizmente, Flamengo e Botafogo já voltaram para casa. Nas quartas de final do Mundial, resistem Fluminense e Palmeiras. Nesse pelotão entrou de mansinho uma “zebra”, se é que se pode chamar assim o poderoso Al-Hilal. À semelhança do PSG, o clube saudita investiu em contratações caras até formar uma equipe homogênea, surpreendendo os menos avisados. Na proeza de derrotar o ­Manchester City, destacou-se a figura do excelente Marcos Leonardo, que no Santos já revelara suas qualidades de goleador.

O avanço do Fluminense é impressionante não tanto pelo suposto favoritismo do adversário europeu, a Inter de Milão, mas pela surpresa no plano tático. O treinador Renato Gaúcho mudou o esquema para que o tricolor atuasse com três zagueiros, e conseguiu parar a vice-campeã da Champions League. Mesmo com pouco tempo de experiência no cargo, ousou modificar a escalação especificamente para a partida e se deu bem. Um presente para os olhos dos torcedores foi uma jogada inimaginável num torneio como este: a “linha de passe” dos atacantes, com quatro ou cinco toques de cabeça até dentro da área adversária – aquela velha brincadeira de praia, hoje conhecida como “altinha”.

Curiosa a relação numérica dos times brasileiros nesta Copa. O Rio de Janeiro esteve representado com três clubes. Dos grandes só o Vasco ficou de fora. Já o estado de São Paulo, com mais recursos econômicos, contou apenas com o Palmeiras. Os rivais Corinthians, São Paulo e Santos não puderam disputar. Com o tempo, é possível que o formato desse torneio se adapte ao sabor dos interesses da “cartolagem”.

Já a desclassificação do Inter Miami ficou marcada pela sincera declaração de Messi: “Houve um gosto amargo depois da partida contra o Palmeiras, porque estávamos vencendo por 2 a 0 e terminamos com o empate, o que nos fez enfrentar o PSG, que é um time mais difícil”. Ao cabo, o clube francês impôs uma goleada ao time do craque argentino, com quatro gols marcados ainda no primeiro tempo da partida.

Em meio à avalanche de informações sobre a Copa do Mundo de Clubes, não podemos deixar de mencionar a brilhante performance do tenista João Fonseca em Wimbledon. Após vencer o britânico Jacob Fearnley na primeira rodada­ da competição, o brasileiro de 18 anos também superou o americano Jenson Brooksby na quarta-feira 2. Assim, garantiu vaga na terceira rodada da competição e quebrou um jejum de 15 anos para o tênis nacional: a última vez que um brasileiro havia chegado a essa fase da chave individual masculina em Wimbledon foi com Thomaz Bellucci, em 2010. •

Publicado na edição n° 1369 de CartaCapital, em 09 de julho de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Lances do Mundial’

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Last Update: 03/07/2025