Jornalistas e professores brasileiros em Israel
por Laurindo Lalo Leal Filho
O genocídio perpetrado pelo Estado de Israel contra os habitantes da Palestina nunca foi coberto com honestidade pela mídia brasileira. Essa não é uma opinião, é uma constatação. Basta acompanhar o noticiário diário das empresas brasileiras de comunicação para constatar esse fato. Falam em guerra entre Israel e o Hamas, quando na verdade trata-se de mais um episódio do longo processo histórico de ocupação da Palestina por Israel. O que não é lembrado pela mídia.
Desta vez, a violência cotidiana contra os palestinos atingiu níveis inimagináveis. Salvo rápidos flashes que por vezes são exibidos de Gaza destruída, o destaque é sempre a política oficial israelense e suas ações ditas de “defesa”.
Política que inclui o assassinato por Israel de aproximadamente 200 jornalistas em territórios palestinos. E a expulsão de muitos outros das áreas ocupadas. Ainda assim, com a censura no local dos acontecimentos e a rígida linha editorial a favor de Israel, que vai além da mídia brasileira, há uma repulsa global contra o genocídio.
Em resposta, o governo israelense, através de entidades com ele alinhadas, coloca em prática a política do “soft-power”, que não ocorre apenas em situações dramáticas como as atuais, mas nestas se agravam.
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É parte dessa política a viagem que jornalistas e professores brasileiros fizeram a Israel. São convites feitos em meio a uma das agressões mais violentas da história recente que deveriam merecer um mínimo de ponderação antes de serem aceitos. Não se pode admitir ingenuidade a essas pessoas com o tipo de formação que possuem. Ao aceitar o convite tomaram, implicitamente, partido do lado agressor. Também não podem fingir que seus anfitriões não esperam deles posições públicas favoráveis a suas políticas.
Mas a decisão foi tomada e agora deve-se aguardar as consequências. Ainda mais, neste momento, em que a repulsa internacional se intensificou com o conluio Trump-Neranyahu para expulsar a população palestina do seu território.
Os convidados brasileiros terão coragem de se manifestar sem subterfúgios sobre o genocídio imposto aos palestinos ou se curvarão aos anseios dos seus anfitriões, engrossando ainda mais o caldo de desinformação da mídia brasileira?
LAURINDO LALO LEAL FILHO – É formado em Ciências Sociais pela USP, com mestrado em Sociologia pela PUC/SP, doutorado em Ciências da Comunicação pela USP e pós-doutorado no Goldsmiths College, da Universidade de Londres. Tem vários livros e artigos publicados sobre cultura e comunicação, com ênfase na comunicação pública. Foi professor na ECA/USP, na PUC/SP e na pós-graduação da Faculdade Cásper Libero. Atuou como repórter, editor e apresentador nas Tvs Globo, Cultura, Gazeta, Bandeirantes (onde foi editor-chefe do Jornal da Band) e Brasil (onde dirigiu e apresentou por dez anos o programa VerTV). Exerceu o cargo de Ouvidor-Geral da EBC entre 2008 e 2010.
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