Em apenas três dias, Israel expandiu sua ofensiva militar para seis países diferentes, abrindo múltiplas frentes de conflito no Oriente Médio e no Norte da África. A escalada incluiu ataques no Catar, Líbano, Síria, Tunísia, Iêmen e Gaza, transformando a guerra contra o Hamas em um embate de alcance regional. É preciso lembrar também que o Irã foi alvo de ataques israelenses, nos últimos meses, revidando com bombardeios.
O episódio mais marcante ocorreu na terça-feira (9), quando Israel lançou um ataque aéreo contra um complexo do Hamas em Doha, capital do Catar, durante uma reunião que discutia um cessar-fogo mediado pelos EUA. O bombardeio matou seis pessoas, incluindo o filho do líder Khalil al-Hayya, mas os principais dirigentes do grupo sobreviveram.
Israel assumiu publicamente a responsabilidade. “Israel iniciou, Israel conduziu e Israel assume total responsabilidade”, declarou o gabinete de Benjamin Netanyahu.
“Netanyahu matou qualquer esperança para os reféns israelenses”, afirmou o primeiro-ministro catariano, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani. “Isso foi terrorismo de Estado. Esperamos uma resposta coletiva da região.”

1. GAZA — O epicentro da destruição
Enquanto expandia suas ações externas, Israel manteve a ofensiva em Gaza. Desde segunda-feira (8), mais de 150 palestinos foram mortos e outros 540 ficaram feridos. A cidade segue sob bombardeio, com prédios residenciais e infraestrutura sendo destruídos.
De acordo com autoridades locais, desde outubro de 2023 a guerra já matou mais de 64,6 mil palestinos, incluindo 404 pessoas por fome. Milhares permanecem desaparecidos sob os escombros.
2. LÍBANO — Trégua violada diariamente
No Líbano, ataques israelenses atingiram as regiões de Bekaa e Hermel, matando pelo menos cinco pessoas, em violação a um acordo de cessar-fogo firmado em novembro de 2024. Um dia depois, drones israelenses feriram um integrante do Hezbollah em Barja, a apenas 30 km de Beirute. Israel mantém cinco posições de ocupação no sul libanês, violando sistematicamente o cessar-fogo de novembro de 2024.
3. SÍRIA — Alvos estratégicos em colapso
Na Síria, caças israelenses atacaram bases aéreas em Homs e Latakia. O governo sírio classificou a ação como “violação flagrante de soberania” e acusou Israel de buscar minar qualquer estabilidade regional.
Desde a queda de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, Israel lançou quase 100 ataques na Síria , destruindo 135 locais e matando 61 pessoas. Também expandiu sua ocupação nas Colinas de Golã, rompendo o acordo de 1974.
4. TUNÍSIA — Ataque a flotilha humanitária em águas internacionais
Dois navios da Flotilha Global Sumud, que buscavam romper o bloqueio a Gaza, foram atingidos por drones israelenses na costa da Tunísia. O primeiro ataque ocorreu no porto de Sidi Bou Said; o segundo, em águas tunisianas, atingiu a embarcação Alma. Não houve mortos, mas os danos aumentaram a tensão diplomática com o Norte da África. “É um ataque contra a solidariedade global”, denunciou a coalizão.
5. IÊMEN — Bombardeio às capitais e províncias
Na quarta-feira (10), aviões israelenses bombardearam Sanaa, capital do Iêmen, matando ao menos nove pessoas e ferindo mais de 100, segundo autoridades locais. Os alvos incluíram áreas residenciais e instalações médicas. O grupo houthi prometeu retaliar, mantendo ataques contra Israel enquanto a guerra em Gaza prosseguir.
6. CATAR — O ponto de inflexão geopolítica
O Catar, que sedia negociações de cessar-fogo e abriga a maior base militar dos EUA na região, classificou o ataque em Doha como “terrorismo de Estado”. O premiê Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani pediu uma resposta coletiva dos países do Golfo e disse que Israel minou qualquer chance de paz.
O ataque a Doha não foi apenas militar — foi diplomático e simbólico. O Catar é o principal mediador entre EUA, Hamas e Israel. Abrigar negociações de cessar-fogo não o protegeu. “Israel desafiou a soberania de um aliado estratégico dos EUA — e ninguém o deteve”, afirma Mairav Zonszein, do International Crisis Group.
Analistas destacam que o bombardeio a Doha ultrapassa um limite diplomático delicado: Israel atacou um aliado dos Estados Unidos em plena zona de negociações, a poucos quilômetros da base de comando do CENTCOM.
Cresce o risco de guerra regional
Os ataques em seis países em 72 horas representam uma mudança qualitativa na guerra. Israel não apenas amplia suas operações militares, mas desafia abertamente a soberania de Estados vizinhos e aliados dos EUA.
“Se o Catar não está seguro, a Arábia Saudita e os Emirados também não estão. A Força Aérea israelense está chegando ao seu bairro. Ninguém está realmente seguro, e nada está fora de cogitação”, avaliou Cinzia Bianco, pesquisadora do Conselho Europeu de Relações Exteriores.
Analistas apontam que Israel avança com impunidade total, mesmo contra aliados dos EUA. “Não há como acreditar que Israel fez isso sem sinal verde de Washington”, afirma Marwan Bishara, da Aljazira. “Se não houve permissão, então onde está a reprovação?”
A multiplicação de frentes de batalha eleva o risco de uma conflagração regional, em um momento em que negociações de cessar-fogo em Gaza já enfrentam impasses.
Com informações da Aljazira