José Messias Júnior começou a construir robôs aos 13 anos. Aficionado pelas aulas de robótica da escola, pedia para o pai comprar revistas e kits para montar em casa. Foi justamente em uma competição que sua vida mudou. Júnior ganhou o primeiro prêmio com um robô que brincava de “jogo da velha” e conseguiu uma bolsa de estudos em um colégio renomado de Salvador, onde se tornou tricampeão brasileiro e representou o País em mundiais na Áustria, China e Estados Unidos.
As experiências moldaram sua visão de futuro. “Eu via os times de ponta de tecnologia do mundo todo e sabia que era com isso que queria trabalhar”, conta. Aos 18 anos, ainda calouro na Faculdade de Engenharia Elétrica na Universidade Federal da Bahia, começou a dar aulas particulares de Física, Química e Matemática, e descobriu outra paixão, a educação. Hoje, aos 33, é o fundador da Cubos Academy e criador da Emy, Inteligência Artificial que assiste aulas com alunos, oferecendo suporte personalizado em tempo real. A tecnologia já respondeu a mais de 600 mil perguntas e tem taxa de aprovação de 96% entre os usuários. A Cubos surgiu como uma escola de tecnologia em 2020, mas, em 2024, decidiu focar-se na Emy. A tecnologia é integrada às plataformas de ensino das instituições e oferece respostas contextualizadas, sem que o aluno precise sair da tela ou formular perguntas específicas. “Ela lê o enunciado da questão, vê o gráfico, se houver, e explica passo a passo”, explica Júnior.
O diferencial da assistente é não ser um chatbot comum. Ela se diferencia por sua capacidade de entender o conteúdo exibido na tela do aluno e oferecer suporte imediato. Se um estudante tenta resolver uma equação matemática, a IA identifica o problema e guia o aluno até a solução, sem dar a resposta diretamente. Além disso, sugere materiais complementares, como vídeos e trechos de livros, para aprofundar o aprendizado. A Emy é capaz de identificar as dificuldades de cada aluno e oferecer suporte individualizado, no ritmo e no tempo certos. “Se o estudante fizer a mesma pergunta no ChatGPT, ele não vai saber qual é o nível que o aluno está e vai dar uma resposta genérica, ou complexa demais, a Emy, por sua vez, segue o plano de ensino da escola, e explica da forma como o aluno precisa”, esclarece o empreendedor.
A tecnologia foi adotada em dez instituições de ensino, incluídas universidades dos EUA, e plataformas brasileiras como Descomplica, Sanar e Grupo Ânimo. Em 2024, a Emy atingiu a marca de 100 mil alunos. Para 2025, a meta é alcançar 400 mil usuários ativos, expandir para mercados internacionais e chegar à rede pública de ensino. “A Emy vai ser um divisor de águas na educação, assim como foi a disponibilização de conteúdo online”, acredita Júnior. A startup está em busca de parcerias com o setor público, para levar a tecnologia às escolas estaduais e federais. “O custo é viável, e acredito que podemos massificá-la”, diz o CEO. Apesar de ainda não ter iniciativas concretas no ensino público, Júnior vê interesse por parte de secretarias de Educação e acredita que a tecnologia pode revolucionar o aprendizado adaptativo.
A ideia da Emy surgiu a partir da experiência da Cubos com sua escola de tecnologia. Ao perceber que os alunos tinham as mesmas dúvidas repetidamente, os fundadores decidiram investir em uma solução capaz de oferecer suporte personalizado em tempo real. Com o sucesso do ChatGPT, a Cubos viu a oportunidade de criar uma IA para “entender” as necessidades específicas de cada aluno e oferecer respostas e conteúdos relevantes para o seu aprendizado, além de um ensino personalizado, no qual cada estudante apreende as lições no seu ritmo e de acordo com suas necessidades. “Pela primeira vez, será possível indicar o conteúdo certo para o estudante certo na hora certa”, afirma Júnior. A Emy também encontra conteúdos relevantes, como vídeos, trechos de livros e outros materiais complementares. Essa funcionalidade permite aprofundar os conhecimentos e ter acesso a um conteúdo de qualidade, selecionado de acordo com as necessidades e interesses dos usuários.
A startup conta com o apoio do Parque Tecnológico da Bahia, que oferece um ambiente favorável para o desenvolvimento de novas tecnologias, e recebeu financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento. O fundador agora está de olho em novos editais de financiamento, como os da Finep e do BNDES, para continuar a investir em inovação e aprimorar a plataforma.
Na Cubos Tecnologia, a formação de talentos sempre foi prioridade. Sem recursos financeiros ou conhecimento sobre investimentos, a empresa buscou jovens talentos nas universidades, oferecendo oportunidades de estágio. O sucesso da software house abriu as portas para a criação de novas startups, como a Zig, líder mundial em gestão de pagamentos para grandes eventos, atendendo clientes como Lollapalooza, Rock in Rio, Tomorrowland e Oktoberfest. Para Júnior, a tecnologia vai desempenhar um papel importante na inclusão social, ao oferecer um ensino de qualidade a alunos que não têm acesso a um professor particular ou a materiais didáticos adequados. “A tecnologia visa reduzir as desigualdades na educação e garantir que todos os estudantes tenham a oportunidade de aprender e se desenvolver plenamente. Além disso, o custo é viável e parece haver vontade política.” •
Publicado na edição n° 1349 de CartaCapital, em 19 de fevereiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘IA com dendê’