Hoje, 8 de março, trabalhadoras de todo o País irão às ruas para resgatar o verdadeiro caráter classista e revolucionário do Dia Internacional da Mulher Operária. O Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo e o Partido da Causa Operária (PCO) organizam, em São Paulo, um ato independente em defesa das reivindicações históricas da mulher trabalhadora. A manifestação será realizada às 10h, na Praça do Patriarca, reunindo centenas de militantes e ativistas que se opõem à tentativa da burguesia e da esquerda pequeno-burguesa de transformar o 8 de março em um evento eleitoral e identitário.
Diferentemente das mobilizações promovidas por setores reformistas, que abandonaram a luta revolucionária da mulher operária em favor de políticas de conciliação com o regime burguês, este ato se propõe a resgatar a tradição classista da data. Originalmente estabelecido pela luta das operárias têxteis de Nova Iorque e consolidado com a Revolução Russa de 1917, o 8 de março sempre foi um dia de mobilização contra a exploração capitalista. Foi o governo soviético que garantiu direitos como o divórcio livre, o aborto legal e gratuito e a igualdade jurídica entre homens e mulheres, medidas que, até hoje, estão longe de ser plenamente asseguradas em países controlados pelo imperialismo.
A esquerda pequeno-burguesa, por sua vez, transformou os atos do 8 de março em uma plataforma de reivindicações identitárias que nada têm a ver com os interesses das mulheres trabalhadoras. Em vez de organizar a luta contra o Estado e a burguesia, essas organizações limitam-se a exigir maior representatividade feminina nos espaços de poder do regime, como se a ascensão de mulheres dentro do sistema capitalista fosse resolver os problemas da maioria da população feminina.
A política identitária também serviu para censurar e reprimir setores classistas dentro dos próprios atos do 8 de março. No ano passado, grupos ligados à esquerda identitária chegaram ao absurdo de chamar a polícia para expulsar militantes do PCO de uma manifestação na Avenida Paulista, simplesmente por defenderem uma posição revolucionária e contrária à colaboração com o Estado burguês. Isso demonstra que esses setores não representam uma luta real pelas mulheres, mas sim um projeto de dominação política da pequena-burguesia sobre o movimento operário.
Por isso, o Coletivo Rosa Luxemburgo e o PCO decidiram organizar um ato independente, voltado para as reais reivindicações da mulher trabalhadora:
- Direito ao aborto e à maternidade com assistência adequada
- Creches públicas e educação gratuita e de qualidade
- Salário igual para funções iguais
- Combate à violência contra a mulher por meio da autodefesa operária
- Unidade da classe trabalhadora contra o identitarismo e o divisionismo burguês
Além disso, o ato também será uma importante plataforma de denúncia contra a opressão do imperialismo. Em solidariedade ao povo palestino, os manifestantes irão se posicionar contra a política genocida de “Israel” e contra a tentativa de criminalizar aqueles que apoiam a resistência árabe.
Após a manifestação na Praça do Patriarca, será realizada uma feijoada no Centro Cultural Benjamin Péret (CCBP), seguida da apresentação da peça Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen. Caravanas de diversas regiões do País estão sendo organizadas para garantir a participação massiva no evento.
Escrita em 1879, a obra é considerada uma das peças mais importantes do teatro moderno. Ibsen, frequentemente lembrado como um precursor do teatro realista, rompeu com convenções sociais ao apresentar uma protagonista feminina que desafia as normas de sua época. A obra causou escândalo na sociedade europeia do final do século XIX, pois expunha a posição subalterna das mulheres dentro do casamento e da estrutura familiar burguesa.
A história gira em torno de Nora Helmer, uma dona de casa aparentemente feliz e dedicada ao marido, Torvald Helmer, um bancário conservador que a trata com condescendência. Ele a chama por apelidos como “minha cotovia” e “minha bonequinha”, reforçando sua visão de Nora como um ser frágil e decorativo, sem autonomia. O casamento dos dois é sustentado por essa aparente harmonia, mas, nos bastidores, Nora esconde um segredo que abala a estrutura dessa relação.
No passado, para salvar a vida de Torvald, Nora falsificou a assinatura de seu pai para conseguir um empréstimo. Na época, a lei não permitia que mulheres realizassem transações financeiras sem a autorização de um homem. Assim, sua ação, apesar de ter sido motivada pelo amor e pelo desejo de proteger o marido, torna-se uma ameaça quando Krogstad, um funcionário do banco de Torvald, descobre a falsificação e passa a chantageá-la.
Nora inicialmente acredita que, se a verdade vier à tona, Torvald a defenderá e reconhecerá seu sacrifício. No entanto, quando o escândalo se confirma, Torvald reage com frieza e egoísmo, preocupado apenas com sua reputação e status social. Ele repreende Nora com dureza, chamando-a de irresponsável e proibindo-a de educar os filhos, pois a considera moralmente corrompida. A decepção de Nora é imediata: o homem que ela julgava amar é incapaz de enxergá-la como um indivíduo, valorizando apenas sua aparência de esposa obediente e submissa.
O clímax da peça ocorre quando Nora toma consciência de sua posição de oprimida. Num ato inédito e chocante para a época, ela abandona Torvald e seus filhos, afirmando que precisa se encontrar como pessoa.
Para mais informações e para se somar à atividade, entre em contato com o Coletivo de Mulheres Rosa Luxemburgo pelo telefone (11) 95208-8335. O Dia Internacional da Mulher Operária deve ser uma data de luta, e não um evento de cooptação pela burguesia. Participe desse ato combativo e ajude a fortalecer a mobilização das mulheres trabalhadoras!