Inspirado pelo mitos sobre o passado dos Estados Unidos, Donald Trump decidiu que ‘tornar a América grande de novo’ exigiria por isolar o País do resto do mundo. A seu modo, sem muitos esclarecimentos, o republicano atribui a perda de poder à ascensão da China. O remédio, segundo ele, envolve uma guerra comercial

Para ser bem-sucedido em seu plano, Trump precisa de um tremendo apoio interno. A massa de trabalhadores do país, que se viu acolhida no discurso eleitoral que lhe dizia, em outras palavras, que a globalização lhe foi prejudicial, por ora, indica ter dado o aval a Trump. Só resultados concretos podem, no futuro, sustentar o apoio.

O raciocínio é prosaico: para proteger a indústria nacional, basta elevar os custos dos concorrentes externos — o que, em tese, estimularia a produção local e impulsionaria o emprego, além de enfraquecer possíveis adversários, como a União Europeia, México e Canadá. Desde então, o mundo se divide entre retaliar as taxações e tentar estancar a sangria por meio da diplomacia.

Para que essa estratégia funcione, contudo, o presidente norte-americano precisa manter um sólido apoio interno. A massa trabalhadora contemplada por seu discurso contra os efeitos negativos da globalização, por ora, parece ainda mesmerizado. Wall Street, contudo, já manda avisar: o mercado não perdoa insegurança e incerteza.

Como de costume, a reação veio em forma de retração. Em apenas um mês, os dois principais índices do setor financeiro dos EUA registraram quedas expressivas: a Nasdaq, voltada para tecnologia, despencou 13,7%, enquanto o S&P 500, termômetro das 500 maiores empresas do país, recuou 9,7%.

A artilharia tarifária

A volatilidade reflete o temor dos investidores quanto ao efeito dominó das tarifas. Especialistas alertam que a medida pode desorganizar os fluxos globais de produção e distribuição, levando empresas e governos a ponderar entre retaliar os EUA ou buscar novos parceiros comerciais.

Outro fator de inquietação envolve a falta de clareza sobre o quanto durarão os ‘tarifaços’. Elas representam uma mudança estrutural na ordem econômica ou são apenas uma carta de negociação do governo republicano? Além disso, há a questão inflacionária: os preços internos subirão como consequência desse embate?

Para Trump, a preocupação é mínima. “Vai haver um pouco de dor?”, questionou em fevereiro. “Talvez (ou talvez não!). Mas faremos a América grande novamente, e tudo valerá o preço a ser pago.” Mais recentemente, ao ser confrontado sobre os riscos de uma recessão, negou qualquer apreensão.

A turbulência no mercado, porém, ainda não abalou o governo. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, minimizou o impacto e disse não se preocupar com “um pouco de volatilidade ao longo de três semanas”. Para ele, o foco deve ser a “economia real”.

Foto: Foto: Angela Weiss / AFP

Quem pagará a conta?

No campo político, os republicanos – encharcados pela tempestade trumpista – evitam um confronto direto com o presidente, mas as tarifas geram desconforto. O líder da maioria no Senado, John Thune (Dakota do Sul), ilustra essa tensão: “Obviamente, estou em um lugar diferente [de Trump] sobre tarifas”, admitiu. “Mas espero que, quando atingirem seu objetivo, sejam naturalmente temporárias.”

O mercado, ciente do impacto da guerra comercial, intensificou sua pressão. Na terça-feira 11, uma centena de executivos de alto escalão se reuniu com Trump para expressar preocupação com a confiança na economia. Na saída, o presidente apenas reforçou sua posição. “Eles não querem pagar 25% ou qualquer taxa que seja”, disse, referindo-se às empresas importadoras. “Pode subir mais. Quanto maior for, mais provável é que construam [fábricas aqui].” O encontro contou com representantes de gigantes como JPMorgan Chase, Apple e Cisco.

O desfecho dessa disputa é imprevisível. Se Trump vencer, a indústria norte-americana sairá fortalecida, os produtores voltarão a despejar seus grãos no próprio solo, e seus adversários engolirão a derrota. Caso contrário, ele se verá diante da força de uma ordem global que já não pode ser revertida.

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Last Update: 14/03/2025