Em 16 de março de 1908, a cidade de Jafa, na Palestina, então sob domínio do Império Otomano, foi palco de um violento confronto que marcou um dos primeiros embates diretos entre a população árabe local e os invasores sionistas. A briga, que envolveu o uso de armas de fogo, deflagrou-se entre dezenas de jovens árabes e sionistas, resultando em 15 pessoas feridas. Este episódio é documentado como o primeiro choque do tipo a ocorrer em uma área urbana palestina, alterando o padrão dos conflitos até então, que se limitavam a disputas rurais por propriedade da terra, arrendamento ou direito de passagem.
Desde o final do século XIX, e com maior intensidade no início do século XX, o movimento sionista promovia a migração de sionistas, principalmente da Europa Oriental, para a Palestina. Estimulados pela campanha impulsionada pelo imperialismo, dedicada a estabelecer um “lar nacional” no país árabe, os invasores iniciavam a compra de terras, muitas vezes de grandes proprietários, o que resultava no deslocamento forçado de camponeses árabes que viviam e trabalhavam nessas terras por gerações.
No dia do confronto, a briga em Jafa escalou rapidamente para o uso de armas de fogo, evidenciando a intensidade da tensão acumulada, com a polícia local intervindo em favor dos árabes e contra os invasores. As autoridades policiais chegaram a entrar em dois hotéis onde os sionistas, em sua maioria novos imigrantes provenientes da Prússia, estavam hospedados.
Apesar do apoio do governo local, o poder político e a influência do movimento sionista, já então muito grande. Líderes sionistas, contando com o apoio de cônsules europeus, exerceram forte pressão sobre o governo em Istambul, capital do Império Otomano.
Essa pressão resultou na remoção do qa’im maqam – o governador local de Jafa -, de seu posto. Essa destituição de uma autoridade local por pressão sionista já demonstrava a crescente capacidade do movimento sionista de exercer sua ditadura, mesmo em outro país, sem outro propósito além de seus próprios fins coloniais.
O incidente de 1908 em Jafa, embora localizado, foi um prenúncio dos violentos confrontos que se intensificariam nas décadas seguintes. A violência urbana entre árabes e sionistas, que se tornou comum nos anos posteriores, teve choque inicial como precursor.
O evento expôs a natureza invasora e conflituosa do sionismo, que, ao tentar se impor em uma terra já habitada, inevitavelmente geraria resistência popular. A remoção do governador local pela pressão sionista também demonstrou que o movimento contava com o apoio tácito ou explícito de potências imperialistas, o que complicava ainda mais a luta dos palestinos pela sua terra e autodeterminação. A história de Jafa em 1908 é um capítulo fundamental para entender as origens e a natureza do conflito que perdura até hoje.