Existe uma grande dificuldade de determinados setores da esquerda de encararem os problemas do governo Lula, e é o que também reflete o artigo O egoísmo da elite e a questão tributária, de Oliveiros Marques, publicado no Brasil 247 neste 1º de julho.

Marques inicia seu primeiro parágrafo dizendo que “o cinismo da elite racista brasileira – dessa direita e extrema direita imbecil – no debate sobre a questão tributária é impressionante. Repetem, de forma deslavada, que o objetivo do governo seria tirar dinheiro da população para encher os cofres públicos”.

Como se vê, em toda a oportunidade aparece esse viés identitário. Se as elites são racistas, o que muito provavelmente o são, não muda nada debate sobre as tributações. A política econômica do governo é um desastre, e isso é percebido na queda da popularidade do governo. A “taxação das blusinhas”, por exemplo, penalizou uma enormidade de brasileiros que ganhavam algum dinheiro revendendo produtos da China.

A população não ganhou nada com essa taxação, apenas as grandes lojas, como Magazine Luiza; e, de quebra, faliu os Correios, que perdeu provavelmente sua mais importante fonte de renda.

O governo não deve estar tentando, muito provavelmente, “encher cofres públicos”, mas cortando na carne da população para sobrar dinheiro para o pagamento de juros da pornográfica dívida pública, o que só faz encher, na verdade, os cofres dos banqueiros.

Em vez de taxar as blusinhas, o governo poderia propor uma auditoria. Poderia brigar para trazer de volta o Banco Central para o controle do Estado. Poderia colocar alguém na presidência do banco que não fosse um discípulo do bolsonarista Campos Netto. Porém, como Lula pode fazer isso se não busca apoio popular.

Concluindo seu primeiro parágrafo, Oliveiros Marques afirma que as elites “Escondem deliberadamente que, no capítulo atual, o governo propõe algo bem diferente: fazer com que cerca de 140 mil contribuintes — os mais ricos — passem a pagar um pouco mais, ou comecem a pagar, para que 25 milhões de brasileiros deixem de pagar Imposto de Renda”. Se é isso que o governo pretende fazer, é quase impossível perceber.

No segundo parágrafo, o articulista conclui que “trata-se de tirar dos bilionários, dos bancos e das casas de apostas (as “Bets”), para garantir a isenção de IR a professores, médicos, cabeleireiras, eletricistas, motoristas de aplicativo, e tantas outras categorias de trabalhadores e empreendedores Brasil afora”.

Após ter falado de racismo, Marques aproveita para falar das casas de apostas, outro espantalho que, se faz com que saia dinheiro do Brasil, está longe de ser o centro do problema. Existe, por exemplo, o pagamento de dividendos absurdos para “investidores” estrangeiros.

Os bancos é que são os maiores parasitas da economia. Os aumentos de juros são injustificados, é um assalto. Com Galípolo dando suas canetadas, a dívida pública já aumentou R$ 150 bilhões com as altas da taxa Selic.

Qual debate?

Marques diz que “o sequestro do debate tributário por essa elite – com sua falsa interpretação dos fatos – busca, na verdade, esconder uma verdade simples: eles não querem pagar imposto. Querem continuar acumulando fortunas enquanto pagam, proporcionalmente, muito menos do que os pobres e a classe média”. Qual seria a novidade? Aliás, não é só sobre tributação que haverá o tal “sequestro de debate”. A grande imprensa já está em plena campanha eleitoral, apenas não foi apresentado o candidato para derrotar Lula, que continuará a ser atacado de todos os lados.

Na sequência, o autor escreve que “nenhum país do mundo – esse mesmo mundo que eles adoram visitar e bajular – chegou onde chegou sem implementar um sistema tributário progressivo, baseado numa lógica elementar: quem ganha mais, paga mais”.

Essa concepção é falsa. Os países ricos chegaram onde estão, especialmente os imperialistas, rapinando outros países. O Brasil é um caso típico de doador de riquezas para essas economias. Aqui se paga combustível em dólar para dar lucro para capitalistas estrangeiros, o que só empobrece a nossa população e, consequentemente, o País. Não foi a cobrança de impostos que fez com que as economias crescessem.

Segundo Marques, “o debate, do jeito que vem sendo intencionalmente colocado pela elite – e, logicamente, amplificado por setores da imprensa – ‘ignora o papel central da tributação na construção de sociedades mais igualitárias e desenvolvidas’”.

Tentar discutir um Estado de bem-estar social quando se tem teto de gastos por imposição do imperialismo é fugir do debate. E as grandes economias só cederam alguma coisa para a população depois de muita luta da classe trabalhadora.

IOF

Marques busca falar do IOF e tenta fazer uma propaganda do passado dos governos petistas, quando a economia foi favorecida por conjunturas externas, como o boom das commodities. Esse tempo já passou, a conjuntura econômica é outra.

O que esses setores da esquerda não querem discutir, o que é essencial, é que a política econômica de Haddad é toda voltada para a tributação, não toca no cerne da questão: a dívida pública e os juros exorbitantes.

Ficar falando de um “passado glorioso”, do Bolsa Família, por exemplo, já nem faz efeito, pois até mesmo o ultra reacionário Jair Bolsonaro aumentou e muito o valor em relação aos governos petistas.

A verdade é que Lula teria que sinalizar alguma mudança, deveria trocar a equipe econômica e enfrentar os bancos, em vez de ficar recorrendo ao Supremo Tribunal Federal para enfrentar o Congresso na questão do IOF.

No final das contas, quem sairá fortalecido, mesmo que Lula consiga reverter a cobrança, será o Supremo. Será um Alexandre de Moraes. Enquanto o trabalhador perceberá um governo fraco e dependente de outras forças para se manter de pé.

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Last Update: 02/07/2025