Os combates entre grupos insurgentes e tropas do governo pró-imperialistas do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) se intensificaram nesta sexta-feira (7).
No dia anterior (quinta-feira), milícias populares formadas por militares outrora do Exército Árabe Sírio (exército sob o governo nacionalista de Bashar al-Assad) emboscaram mercenários do HTS na cidade portuária de Latakia, oeste do país. Na ocasião, foram eliminados pelo menos 16 membros da chamada Administração Geral de Segurança, órgão do governo pró-imperialista do HTS.
Após a ação, centenas de sírios saíram às ruas de Tartus, outra importante cidade portuária no oeste da Síria, e ao sul de Latakia.
Em represália à ação da insurgência, o governo enviou tropas para ambas as regiões. Vídeos registraram combates entre os mercenários do HTS e as forças insurgentes na rodovia M4, que liga Latakia a Aleppo, norte do país.
Os protestos foram reprimidos: vídeos que estão sendo divulgados em diversos canais de comunicação nas redes sociais mostram os mercenários do HTS disparando contra os manifestantes em Tartus. Ainda na quinta-feira (6), um toque de recolher foi determinado na cidade.
Pela noite, foi publicada uma declaração do Conselho Militar para a Libertação da Síria, na qual é anunciado que “após meses de injustiça, violência sectária, saques, opressão e tomada de terras sírias por agressores externos“, as milícias que se formaram em oposição ao regime pró-imperialista do HTS irão “libertar todo o território sírio dos ocupantes e forças terroristas” e “derrubar o regime do HTS“. Na declaração, a organização exorta pela “reconstrução das instituições estatais sobre bases nacionais e democráticas” e “estabelecimento de um estado unificado e soberano, constituído por todas as seitas e etnias”.
Além do citado Conselho Militar, outra organização insurgente são as Forças Escudo do Litoral, cujo comandante divulgou um vídeo afirmando que “tomamos uma decisão irreversível… liberaremos toda a zona costeira da Síria, das forças terroristas Al-Nusra”, em referência às origens do HTS, que costumava ser, sob o nome Al-Nusra, a frente da Al-Qaeda na Síria.
Após a chegada das forças do HTS nos locais, inúmeros massacres contra civis alauitas e também contra membros das organizações que se insurgiram começaram a ser perpetrados pelos mercenários que governam a Síria. Em vídeos divulgados em canais de Telegram, forças do HTS foram filmados fazendo civis engatinharem feito animais, logo antes de executá-los. Outros vídeos mostram inúmeros sírios, presumivelmente alauitas, assassinados pelas ruas.
Na sexta-feira (7), os confrontos continuaram e massacres contra os alauítas, pelo HTS, foram registrados em diversos locais das regiões de Latakia e Tartus, tais como as cidades de Al-Haffa, Al-Mukhtariyya, Qishba, Jableh, al-Qardaha. Massacres também foram registrados na região central da Síria: em Hamã, duas mulheres e dois homens acima de 60 anos foram assassinados. Segundo informações, foram mortos por serem alauitas. A perseguição aos alauítas, um grupo cultural que representa uma vertente da religião muçulmana, dá-se em razão de que elas eram a principal base de apoio do governo nacionalista de Bashar al-Assad.
Nessa conjuntura, moradores da costa da Síria, presumivelmente alauitas, protestaram contra a perseguição e os massacres perpetrados pelo HTS desde que assumiu o poder. O protesto foi realizado perto da Base Aérea Russa de Khmeimim, pedindo proteção por parte da Rússia.
Paralelamente à insurgência contra o HTS, um comboio das Forças Armadas Turcas entrou em Idlib, noroeste da Síria, e, segundo a imprensa síria, estaria havendo na fronteira Turco-Síria uma enorme preparação militar.
Israel Katz, ministro da defesa de “Israel”, pronunciou-se sobre a situação. O sionista afirmou que “Joulani tirou sua glabia, vestiu um terno e apresentou um rosto moderado — agora ele tirou sua máscara e revelou seu verdadeiro rosto: um terrorista jihadista do seminário da Al-Qaeda que comete atrocidades contra a população civil”, uma declaração cínica, considerando que “Israel” apoio o golpe contra Bashar al-Assad, e se aproveitou da situação para invadir a Síria e ocupar mais de 1.000 km² de terras ao sul do país, tendo como uma de suas finalidades principais com a ocupação o cerco que vem tentando fazer contra o Hesbolá, partido revolucionário libanês.
O ministro sionista também afirmou que as forças israelenses de ocupação “permanecerão indefinidamente” na Síria, porque “Israel” não confia no regime do HTS. Mostrando a intenção de continuar utilizando os drusos para manter a Síria dividida, Katz ainda declarou que “não iremos abandonar os drusos na Síria”.
Ao fechamento desta edição, as forças do HTS teriam conseguido debelar a insurgência, com auxílio do Exército Nacional Sírio, milícia controlada pela Turquia. Em declaração, o Ministério da Defesa afirmou que “nós rapidamente recuperamos o controle sobre as áreas alvos dos ataques traiçoeiros. Apelamos aos cidadãos para que retornem às suas áreas — a segurança está totalmente restaurada”.
Em informações veiculadas em canais de comunicação do Telegram, as tropas do governo golpista já teriam capturado o Porto de Tartus, e o restante da cidade estaria sob controle. O mesmo teria ocorrido na cidade de Latakia, com a totalidade da cidade sob o controle do HTS. Controle também teria sido estabelecido sobre a rodovia M4, mesmo com o HTS tendo sofrido grandes baixas na noite anterior. A cidade de Jablé, de onde a insurgência foi iniciada, também teria sido retomada pelas tropas do governo. Confrontos ainda estariam ocorrendo nos arredores da cidade de Al-Qardaha e outros locais no interior e dezenas de novos assassinatos por parte do HTS e seus aliados foram registrados nos locais onde os mercenários tomaram controle.
Ao todo, pelo menos 100 pessoas foram mortas pelas forças do HTS e aliados, a maioria alauitas, conforme levantamento feito pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos. Crimes também foram registrados contra cristãos e muçulmanos xiitas.
Em meio ao massacre, o Reino Unido levantou as sanções de 24 entidades na Síria, inclusive do Banco Central, demonstrando que o imperialismo, que colocou o governo criminoso do HTS, continua apoiando o mesmo.