A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS ouviu o ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), nesta segunda-feira (8). Em longa sessão que se iniciou à tarde e adentrou a madrugada desta terça (9), Lupi prestou esclarecimentos, primeiramente, ao relator, deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil), e, em seguida, aos demais inscritos na CPMI.

O ex-ministro expôs todas as medidas tomadas pela pasta para coibir os descontos fraudulentos praticados por entidades associativas em aposentadorias. Lupi também fez questão de afirmar que o assalto ao INSS só pôde ser escancarado porque o governo Lula respeita e preserva a autonomia da Polícia Federal (PF) e de outros órgãos de apuração.

“Se não tivesse essa independência, se não tivesse essa autonomia, como a gente iria investigar a nossa própria atuação? O governo está dando uma demonstração clara de transparência e de visão republicana”, elogiou.

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O depoente foi questionado sobre a indicação de Alexandre Guimarães, diretor do INSS envolvido no escândalo, e, para espanto da bancada bolsonarista, Lupi confirmou que Guimarães foi escolha do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesse momento, deputados e senadores progressistas reagiram com ironia.

Prevaricação bolsonarista

Entre os parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) inscritos na CPMI, o deputado federal Paulo Pimenta (RS) foi o primeiro a falar. Pimenta elogiou a firmeza de Lupi nas respostas à comissão e atribuiu ao governo Bolsonaro evidente negligência com as aposentadorias.

“Esse escândalo, ele começa a tomar a dimensão que tomou a partir do momento que o governo Bolsonaro altera as regras e facilita que esse monte de entidade fantasma recebesse aquilo que a gente chama de ‘um canal de desconto no INSS’. Quando é que começou a explodir as denúncias? O Ministério Público Federal criou um grupo de trabalho dia 11 de abril de 2019”, apontou Pimenta.

“Veio 2019, nada. 2020, nada. 2021, nada. 2022, nada. E as ACTs [Acordos de Cooperação Técnica] se multiplicando, e as entidades fantasmas crescendo, e as regras sendo mudadas pelo governo Bolsonaro, pelos seus agentes políticos e por essa organização criminosa, dentro da estrutura do Estado, atuando de dentro para fora e de fora para dentro”, criticou o petista.

Mais adiante em sua fala, Pimenta enfatizou que foi Lula o responsável por estancar a fraude bilionária iniciada no INSS pelo governo anterior. “E quando é que teve uma operação de verdade? Quando que a Polícia Federal investigou? Quando que a CGU investigou? Em que governo? No governo do presidente Lula”, concluiu.

Antes do começo do depoimento de Lupi, Pimenta pediu a saída do senador Rogério Marinho (PL) da CPMI. “Estamos investigando possíveis irregulares no período em que o senador foi da Previdência com a participação dele como investigador. O senador bolsonarista não pode ser investigado e investigador ao mesmo tempo. É incompatível.”

O vídeo do senador Izalci

O deputado federal Rogério Correia (MG), por sua vez, trouxe à comissão um vídeo do senador Izalci Lucas (PL-DF) se gabando de ter relatado a fraude no INSS a Bolsonaro, à época do governo de extrema direita. Durante uma entrevista à emissora CNN Brasil, Izalci enfatiza que recebeu peritos do instituto que o alertaram sobre os descontos indevidos. Correia então disse que o ex-presidente tinha pleno conhecimento dos crimes.

“Pois bem, o senador Izalci entregou ao presidente Bolsonaro toda uma farra que, segundo ele, ia de R$ 70 bilhões e incluía também os aposentados. Então, o Bolsonaro sabia dessa farra. E eu vi o relator perguntando se o senhor tinha dito ao presidente Lula e o senhor disse que não. Mas o Bolsonaro recebeu dos peritos e também do senador Izalci”, resumiu Correia, dirigindo-se a Lupi.

Na sequência, o deputado do PT mostrou um gráfico com o período exato em que aumentaram os descontos indevidos. “Veja bem, as entidades, o montante de descontos associativos, a grande parte, em 2024, em 2025, vem do governo Bolsonaro. São as entidades que fizeram acordo técnico naquela época. O gráfico é muito claro”, argumentou.

Espetacularização da CPMI

Já o senador Rogério Carvalho (SE) censurou o autoritarismo da extrema direita e a espetacularização da CPMI na busca de engajamento nas redes sociais. O petista observou que a fraude lesou pessoas humildes do país e elas merecem respeito por parte do parlamento.

“Nós não podemos aceitar, aqui nesse espaço, essa lógica autoritária de querer impor a sua visão, sem os fatos, sem os elementos, sem a responsabilidade que nos cabe”, rechaçou.

O senador Randolfe Rodrigues (AP) também denunciou a prevaricação do governo Bolsonaro. Ele entregou à CPMI um documento oficial de 2019, assinado pelo então ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, e pelo então secretário Especial da Previdência, senador Rogério Marinho. Segundo Rodrigues, o governo, ao invés de investigar, passou a justificar os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs), que permitiram os descontos indevidos.

O senador pediu que o documento seja anexado como prova de que Bolsonaro tinha conhecimento dos descontos indevidos em aposentarias e prevaricou.

Da Redação

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Last Update: 09/09/2025