Jair Bolsonaro e militares: ex-presidente e mais 36 pessoas são indiciadas pela PF. Foto: reprodução.

O inquérito sobre a trama golpista, elaborado pela Polícia Federal, revela diálogos interceptados de dois coronéis do Exército brasileiro que estavam envolvidos na conspiração para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023. Em conversas de outubro de 2022, antes mesmo da vitória petista, os militares discutiam abertamente a possibilidade do golpe de Estado, com Fabrício Bastos sugerindo a prisão de todos os membros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), devido às decisões contrárias à campanha de Bolsonaro.

No entanto, o coronel Bernardo Romão Correa Netto, assessor do Comandante Militar do Sul, revelou que o Alto Comando do Exército (ACE) se opunha à ideia de um golpe, afirmando que a cúpula militar havia se comprometido a permanecer fora das disputas políticas.

“O ACE tem sido enfático nas afirmações de que devemos nos manter de fora das disputas políticas”, disse Correa Netto. “Foram várias VC (videoconferências) do general Freire Gomes com o ACE para falar sobre isso. Eles não entendem da mesma forma que nós, velho”, lamentou.

Apesar da resistência de muitos generais a um golpe, a questão de uma possível intervenção militar foi constantemente discutida nas reuniões internas do Exército. Embora nunca fosse mencionada explicitamente como um “golpe”, o termo “instabilidade” era frequentemente utilizado para descrever a situação política.

“Nós não discutíamos propriamente golpe, falávamos sobre a situação de instabilidade do país e a tentativa de nos envolver na disputa. Todos diziam que devíamos ficar afastados da política, e se alguem não concordava ficava quieto”, afirmou um general que integrava o ACE em 2022 à coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo.

Jair Bolsonaro e o general Freire Gomes, então comandante do Exército que não aderiu ao plano golpista. Foto: Gabriela Biló/Folhapress

Alguns generais, inclusive, especulavam sobre quais oficiais estavam realmente inclinados a apoiar a tentativa de Bolsonaro de permanecer no poder, como o então almirante da Marinha, Almir Garnier.

O possível racha entre os militares cresceu quando os acampamentos de apoiadores de Bolsonaro se espalharam em frente aos quartéis, exigindo ação do Exército.

Parte da cúpula militar, incluindo o comandante do Exército, general Marco Freire Gomes, resistiu a intervir, argumentando que o Exército não deveria se envolver diretamente nas manifestações. Esse desacordo levou à decisão de permitir que os acampamentos permanecessem enquanto não interferissem nas atividades militares.

Os acampamentos só começaram a diminuir após a partida de Bolsonaro para os Estados Unidos, no final de dezembro de 2022. Porém, a falta de ação das autoridades militares foi vista por muitos manifestantes como um sinal de apoio tácito ao ex-presidente.

Além disso, os vazamentos sobre os generais contrários ao golpe, incluindo o atual comandante do Exército, Tomás Paiva, e outros altos oficiais, alimentaram a narrativa de divisão dentro da cúpula militar.

A investigação da PF revela que a adesão do Alto Comando ao plano de Bolsonaro era essencial para sua execução, mas o receio de generais como Freire Gomes e Carlos de Almeida Baptista Junior de aderirem ao plano frustrou as intenções golpistas.

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Last Update: 30/11/2024