Durante a pandemia, quando o mundo se viu na necessidade de implementar uma campanha de vacinação em massa para conter o avanço da Covid-19, as teorias antivax ganharam forças por meio de pânico e notícias falsas em todos os continentes. No entanto, após uma ampla batalha de conscientização, o Brasil está na contramão do mundo e conseguiu reverter as quedas de imunizações.
Em todo o planeta, cerca de 2,7 milhões de crianças continuam sem vacinação ou com doses em atraso, em comparação ao período pré-pandemia, segundo o relatório de imunização infantil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O cálculo da vacinação infantil é baseado na vacina DTP, considerada um modelo para a imunização infantil. Em 2023, 14,5 milhões de crianças não receberam nenhuma dose, contra 13,9 milhões em 2022.
Além disso, há um atraso na vacinação para 6,5 milhões de crianças que receberam a primeira dose, mas não foram completamente imunizadas. Essa situação coloca os jovens em risco de doenças como coqueluche, que já apresenta alta de casos na Europa, Estados Unidos e Brasil.
Apesar desse cenário global, o Brasil apresentou uma recuperação notável no último ano, revertendo a tendência de queda entre 2019 e 2021, quando milhões de crianças ficaram sem vacina durante o governo de Jair Bolsonaro, que endossou muitas fake news sobre o tema. Essa melhora fez com que o país saísse da lista das 20 nações com mais crianças não imunizadas no mundo.
De acordo com o Ministério da Saúde, as coberturas vacinais de 13 das 16 vacinas do calendário infantil aumentaram de 2022 para 2023. Esse sucesso se deve à união de esforços dos três entes (federal, estadual e municipal) e ao planejamento para levar os imunizantes aos mais necessitados, incluindo a busca ativa de crianças com vacinação em atraso.
A recuperação ocorre após um período sombrio na saúde pública, quando as coberturas vacinais de todas as doenças preveníveis na infância apresentaram quedas profundas. Por exemplo, a cobertura do sarampo, que era superior a 95%, despencou para 74%.
Felizmente, o quadro está sendo revertido. Como afirmou Isabella Ballalai, pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), o brasileiro gosta de vacina. Em entrevista à Folha, ela explicou que a falta de confiança entra como um fator além da dificuldade no acesso e da percepção do risco. Quando há uma percepção grande de risco, o brasileiro faz fila no posto de vacinação para tomar a vacina.
A introdução da vacina contra o HPV de dose única também ajudou a aumentar a cobertura vacinal em meninas, de acordo com o relatório. Em 2022, a taxa de vacinação mundial em meninas adolescentes era de 20%, passando para 27% em 2023.
No Brasil, a estratégia foi anunciada em abril pela ministra da Saúde, Nísia Trindade. Até 2023, a cobertura vacinal em meninas com a primeira dose contra o HPV não atingiu 76%; para a segunda dose ficou abaixo de 60%. Em relação aos meninos, 42% receberam a primeira dose e 27% a segunda.
Além disso, o Ministério da Saúde ampliou o público-alvo para a vacina contra o HPV no SUS, incluindo agora usuários de PrEP para HIV de 15 a 45 anos. Essa medida visa aumentar ainda mais a cobertura vacinal e proteger a população contra o papilomavírus humano.