Mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria desistido de dar um golpe de Estado por estar “com medo de ser preso”, já que ele não iria contar com o apoio das Forças Armadas. Segundo as conversas analisadas, aliados do ex-capitão expressaram indignação com a falta de adesão do Exército e da Aeronáutica.
Os diálogos estão registrados no relatório de 884 páginas, ao qual o DCM teve acesso, em que a PF indiciou Bolsonaro e 36 aliados, incluindo militares de alta patente, pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. O documento foi enviado à Procuradoria-Geral da República nesta terça-feira (26).
Mensagens entre os coronéis Fabrício Bastos e Bernardo Romão Corrêa Neto reforçam que o decreto estava pronto, mas não foi assinado devido à ausência de apoio das Forças Armadas. Em 21 de dezembro, Correa Netto afirmou: “Pô, pra esquecer que não vai rolar nada não. Ele falou ó, cara, pode esquecer. O decreto não vai sair.” Ele concluiu: “Só faria se tivesse o apoio das Forças Armadas… porque ele tá com medo de ser preso.”
As mensagens revelam que, após a tentativa frustrada de golpe no dia 15 de dezembro, houve críticas severas dentro do grupo. Em uma delas, desabafaram: “Infelizmente a FAB afrouxou e o EB agora também está afrouxando. (…) Somente o MB quer guerra. O PR realmente foi abandonado.”
No dia 20 de dezembro, o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros criticou os integrantes do Alto-Comando militar: “Nossos líderes, formados naquela escola de prostitutas né, por escolherem um lado, o seu lado pessoal, em detrimento do povo.”
Ele também mencionou o motivo pelo qual Bolsonaro não assinou o decreto golpista: “E o presidente não vai embarcar sozinho porque pode acontecer o mesmo que no Peru. Ele está com decreto pronto, ele assina e aí ninguém vai, ele vai preso. Então não vai arriscar.”
Cavaliere relatou ainda, em outra conversa no mesmo dia, ter falado com Mauro Cid. “Acabei de falar com Cid, e ele falou que não vai ter nada, está pronto, só que não vai assinar por conta disso que te falei, o Alto-Comando tá rachado e não quer encampar a ideia.”
O coronel Gustavo Gomes, interlocutor de Cavaliere, desabafou sobre a frustração pelo golpe não ter se concretizado, citando os generais Braga Netto e Augusto Heleno. Ele expressou o desejo de que ambos fossem responsabilizados: “Quero ver a hora que o Heleno for em cana. O Braga Netto. Aí eles vão acordar. Será tarde demais.”