Bolsonaro na cadeia, por Lindbergh Farias

É um insulto à sociedade brasileira a tentativa de anistiar os golpistas que agiram com o objetivo de aniquilar a democracia em nosso país, entre eles o ex-capitão Jair Bolsonaro. A rigorosa denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro e mais 33 pessoas integrantes de sua organização criminosa traz informações estarrecedoras, que não deixam margem a dúvidas: sobram provas de inúmeros crimes cometidos. A prisão do ex-presidente é uma questão de tempo.

A denúncia da PGR mostra nitidamente que o ex-presidente, no exercício do cargo, conspirou contra a democracia. Não poderia ser diferente, pois sempre agiu assim. Tem uma longa ficha de antecedentes criminais. Como tenente do Exército, foi acusado de planejar a explosão de quartéis militares, com colegas de farda dentro, para pressionar por aumentos dos soldos. E ainda levou, aos 33 anos, uma generosa aposentadoria de capitão. O general Ernesto Geisel, um dos presidentes de plantão do regime militar, chegou a chamá-lo de mau militar, dando a entender que não era conveniente às Forças Armadas ter em seus quadros gente como Bolsonaro.

Ameaçou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendeu sempre o torturador-mor da ditadura militar, um certo Brilhante Ustra, cuspiu no busto de Rubens Paiva, barbaramente assassinado há mais de 50 anos, no governo do ditador-general Emílio Médici, agrediu estupidamente a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e preconizou a morte de opositores do regime militar. Nunca escondeu seu desprezo pela democracia e pela vida, tanto que chegou a dizer que sua especialidade é a morte.

Além disso, criou um patrimônio milionário ao longo dos anos, incompatível com sua renda, conforme denúncias da imprensa. E ficou patente que adora um dinheiro proveniente de canais “não ortodoxos”. Um exemplo: o tenente-coronel Mauro Cid contou à Polícia que entregou US$ 86 mil — o equivalente a aproximadamente R$ 491 mil — em espécie, de maneira parcelada, para Jair Bolsonaro, após vender relógios de luxo e o kit de joias que o ex-presidente recebeu enquanto representante do Brasil.

É este sujeito que usou o cargo de presidente da República para conspirar e armar um golpe, a fim de que ele e sua quadrilha permanecessem no poder sabe-se lá por quanto tempo. Mentiu o tempo todo sobre as urnas eletrônicas, embora tenha sido eleito presidente e tenha obtido sucessivos mandatos de deputado desde a inauguração do inovador sistema. O mesmo vale para seus quatro filhos na política, todos eleitos pelas urnas eletrônicas e integrantes, hoje, de uma casta, embora apregoem, sem ruborizar, que seriam “antissistema”.

As mensagens do tenente-coronel Mauro Cid expõem, de forma crua, as tramoias da quadrilha golpista, que urdiu até o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Maquinaram um golpe violento, que incluiu o estímulo a extremistas que atacaram a sede da Polícia Federal e tentaram explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, em dezembro de 2022.

Com estímulo do ex-capitão, que resolveu fugir para os Estados Unidos em vez de passar a faixa presidencial a Lula, terroristas bolsonaristas atacaram a sede dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro. Todos os detalhes da trama golpista macabra estão no relatório de mais de 800 páginas da Polícia Federal e na denúncia de 272 páginas da PGR. O propósito dele e de seus asseclas era promover a ruptura da ordem institucional.

Não é concebível tratar de anistia a um bando de criminosos golpistas. O movimento de anistia, defendido pelo ex-capitão e sua horda de golpistas, apenas demonstra uma confissão de culpa.

Os golpistas não podem ficar impunes, como os assassinos de Rubens Paiva. Bolsonaro e seus cúmplices são da mesma estirpe dos torturadores da ditadura militar (1964-1985). Anistiá-lo significa assegurar condições de continuidade ao movimento golpista, dando a eles oportunidade de tentar novamente abolir o Estado Democrático de Direito, tão duramente conquistado pelo povo brasileiro.

A sociedade brasileira deve exigir que a justiça seja feita, que o ex-presidente e seus comparsas sejam responsabilizados por suas ações. O Brasil precisa continuar a trilhar o caminho da democracia, da transparência e da justiça para todos.

Lindbergh Farias é deputado federal (PT-RJ) e líder do PT na Câmara dos Deputados

Artigo publicado originalmente na Revista Focus 

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