Foto: Mykesio Max

Por Fernanda Silva

Dentre árvores frutíferas e espécies da Mata Atlântica, Ana Andrade, aos 65 anos, personifica a palavra luta. Carrega nas veias, no sorriso e no olhar, a determinação e força de quem acredita na justiça social e no poder da coletividade. No coração do Acampamento Marielle Franco, em Atalaia (AL), ela vive a realização de um sonho.

A história de Ana se conecta com a de outros trabalhadores rurais Sem Terra. Filha de pais agricultores, aprendeu ainda cedo o ofício. “Eu herdei da minha mãe essa vontade de continuar na agricultura, plantando e cultivando”, diz ela. Ainda acrescenta: “quando eu morava na cidade não tinha espaço para cultivar e esse desejo só aumentava”. A relação com a natureza é uma de suas marcas principais, onde deixa claro a importância de pensar a sustentabilidade para as gerações futuras.

Resistência

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra entrou na vida de Ana mais tarde do que na da maioria. Aos 60 anos, ela descobriu que tinha um propósito muito maior e queria estar na linha de frente das reivindicações e das manifestações das quais faziam seu coração pulsar. E junto a ela, seu marido João, de 75 anos.

Ana conta que trabalhava em uma fazenda da região, quando o fazendeiro dono começou a desconfiar que os trabalhadores planejavam ocupar as terras e decidiu os expulsar. Integrantes do MST foram convocados para ajudar na luta e assim, Ana decidiu ficar e se organizar com as pessoas do acampamento.

“Sempre tive interesse em integrar o MST, mas nunca tive oportunidade, e apesar da idade, fui convidada e me surpreendi ao conhecê-los de perto. Realizei um sonho”, cita Ana.

Dentro de sua trajetória na militância, ela destaca dois momentos memoráveis. O primeiro, em 2021, quando fecharam a BR 316, em denúncia a ameaça de despejo comandada pela prefeita Ceci Rocha, que numa tentativa de silenciá-los, suspendeu a água disponibilizada para os acampados.

Com brilho nos olhos, ela fala orgulhosamente da lembrança dos punhos cerrados e do grito de “queremos água”. O segundo foi passar a noite na frente do Palácio República dos Palmares (Palácio do Governo) cobrando visibilidade para a sua causa, após uma caminhada iniciada na Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Foto: Joyce Maia

“Quem não pode com formiga, não assanha o formigueiro”

Sem se intimidar, ou temer, Ana firma sua escolha e sua resistência inegável nas atitudes, com um ditado popular tão conhecido: “quem não pode com formiga, não assanha o formigueiro”. Assim, a coletividade desempenha um papel de sobrevivência na vida dela, cada um fazendo seu papel na luta pela terra e pelos direitos dos trabalhadores rurais.

“Quando cada pessoa se junta à causa, compartilhando responsabilidades, recursos e sonhos, todos se fortalecem”. Além das organizações e da rotina do cultivo de plantas, Ana integra o núcleo de Saúde e Gênero e faz vigílias em colaboração de outros militantes para a proteção dos seus.

*Editado por Fernanda Alcântara

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Última Atualização: 10/09/2024