Em uma reunião realizada no último dia 7 de agosto (quinta-feira), na sede do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, em Brasília. O governo brasileiro se reuniu com uma delegação composta de órgãos do governo de Moçambique, entre eles o Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga, gabinete da primeira-ministra, Ministério da Justiça e Assuntos Constitucionais e Religiosos e o Serviço Nacional de Investigação Criminal. A reunião se deu visando aumentar a parceria de ambos os países no combate aos chamados “crimes cibernéticos” e o discurso de ódio na internet, segundo o próprio governo brasileiro.
Entre os objetivos da reunião, estava a melhora no combate ao extremismo digital e a disseminação de ideologias radicais. Segundo o titular da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, Mario Sarrubbo: “A esfera digital é uma esfera sem fronteiras, pois tem sido muito utilizada por criminosos e radicais e, infelizmente, está influenciando uma geração de jovens em todo o nosso Brasil”. Sarrubbo ainda complementa dizendo que seria necessário um “esforço global” para “aprimorar as políticas preventivas e repressivas” e que, os jovens “estão vulneráveis a serem vítimas das mais variadas agressões e golpes”.
Não é preciso dizer que todo esse discurso de defesa dos jovens e combate ao crime não passa de uma mera cobertura para a repressão do Estado à liberdade de expressão. Sarrubbo fala abertamente em repressão e “prevenção ao extremismo”, cavalos-de-batalha do imperialismo, que procura censurar até a mínima oposição, e todo e qualquer meio de comunicação que não esteja sob o seu controle. As redes sociais ameaçam esse domínio, pois servem como espaço público acessível, onde qualquer indivíduo pode expressar seu pensamento. Esse modelo de comunicação é incompatível com o controle de opinião esperado pelo imperialismo, que não pode conviver com o questionamento do seu regime de dominação.
O argumento da defesa dos jovens contra “agressões e golpes” é ainda mais cínico quando observamos os países que colocam a discussão. O Brasil, País que hoje está na linha de frente da repressão à internet, é considerado um dos 15 países mais violentos do mundo segundo a ONU, com mais homicídios por ano do que muitas guerras, além de dados estratosféricos de roubos, estelionatos e outros crimes. Moçambique dispensa comentários. Na África, a situação de miséria e subdesenvolvimento é infinitamente superior que a América Latina. A violência é inimaginável, com guerras provocadas pelo colapso de países, e uma miséria que chega a excluir amplos setores da população do acesso às redes que o governo quer suprimir.
O “extremismo” a ser combatido, não se trata de nada mais que a formação de opiniões das pessoas contra o que existe hoje, que é a repressão, o genocídio econômico e sujeição das nações aos interesses de especuladores e grandes empresários. Um espaço de livre pensamento na internet é incompatível com a existência dessa estrutura de dominação.