A divulgação do inquérito da Polícia Federal sobre a conspiração de setores das forças armadas para matar o presidente Lula, o vice-presidente e o ministro Alexandre de Moraes nos leva a algumas reflexões sobre a questão do atual regime político brasileiro. A posição do Supremo de que o Artigo 142 da Constituição não autoriza as Forças Armadas a uma “intervenção constitucional”, expressa em uma decisão do Ministro Luiz Fux, foi diretamente contestada na época (2020) pelo “Presidente” Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas, através de nota.
Na ocasião, o líder da bancada do PT no Senado Federal, Rogério Carvalho (PT-SE), declarou que “as intenções de Bolsonaro, a cada pronunciamento, ficam mais claras. Ele quer usar e transformar as Forças Armadas brasileiras num braço de força contra o Brasil e os brasileiros para impor um governo incompetente, incapaz de defender a vida e respeitar a democracia”.
As Forças Armadas estão por trás de todas as deformações a que o regime político, nascido da Constituição de 1988, foi submetido nestes últimos tempos. Elas estiveram envolvidas no planejamento e execução do Golpe de Estado de 2016, quando o Congresso depôs uma presidente eleita com base em um crime não existente, e redefiniram com isso toda configuração estratégica política brasileira desde então.
O Brasil deixou de ser um país soberano, capaz de articular com todos os países de acordo com nossos interesses, e passou a ser parte da área estratégica do Governo Americano. Agindo direta ou indiretamente nos vários países da América Latina, as FF AA quebraram nossas alianças com governos nacionais e populares da América Latina, possibilitando golpes mais ou menos brandos e produzindo o surgimento dos Governos direitistas e submetidos ao Governo estadunidense no Equador, Bolívia, Uruguai, Honduras e outros tantos.
Hoje as Forças Armadas não têm mais autonomia operacional, pois funcionam como um braço submisso do comando sul das Forças Armadas dos EUA, sem qualquer papel próprio senão o de executar no Brasil a estratégia do Governo e do “estado profundo” imperialista americano.
Com isso passamos a apoiar o Governo fantoche de Juan Guaidó na Venezuela, anunciar o estabelecimento da nossa embaixada junto a Israel, em Jerusalém e chegamos a atacar a China, nosso principal parceiro comercial, como se fosse nosso inimigo, prejudicando os verdadeiros interesses e aspirações do povo e da nação brasileira.
Foram as Forças Armadas que, em conluio com a CIA e outros órgãos do governo estadunidense, tramaram e executaram a chamada operação Lava Jato que levou à criminalização e encarceramento do principal líder operário e político do País, o LULA.
Agora somos novamente surpreendidos pela descoberta que os setores militares, ou seus apoiadores civis, são terroristas. Primeiro foi aquela cena bizarra de um “verde e amarelo” tentando matar os ministros do STF e se imolando por não ter conseguido. E agora a divulgação do inquérito da Polícia Federal, baseado em provas irrefutáveis, de que a conspiração do golpe contra o Estado democrático (em termos) era muito real e concreta e não a obra de alguns malucos bolsonaristas.
Não, trata-se de uma conspiração macabra, organizada por generais conhecidos, como os indiciados Heleno e Braga Neto, mas também pelo próprio Bolsonaro e outros generais e patentes menores, mais ou menos desconhecidos, mais a participação do comandante da Marinha Brasileira.
É preciso que o governo Lula abandone a política de conciliação adotada, até agora, em relação aos militares. Para que isso se torne realidade, é preciso que os movimentos sociais e a esquerda exijam a punição exemplar dos militares envolvidos no crime de conspiração contra o regime democrático, inclusive com pena máxima.
É preciso criar um movimento nacional, ancorado nas centrais sindicais, partidos democráticos e populares e entidades democráticas da sociedade civil, para impedir a continuidade deste estado de coisas. É preciso principalmente que o conjunto das forças populares e democráticas crie uma instituição de permanente defesa da democracia, que impeça não só as Forças Armadas, mas que o conjunto dos fascistas e traidores da nação brasileira, submetidos direta ou indiretamente aos interesses estrangeiros possam realizar seus objetivos e implantar uma ditadura de extrema direita no país.
O atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, tem se revelado um defensor dos oficiais fascistas das FFAA e não é digno de continuar fazendo parte do governo brasileiro. Recentemente ele criticou a política externa brasileira, defendendo uma total submissão ao que chamou de “povo judeu” no caso da licitação de compras de armas de uma fábrica sionista.
O ministro deve ser demitido imediatamente e submetido à investigação, pela Polícia Federal, de sua participação ou não na conspiração golpista. O Ministério da Defesa deve ser dirigido por um ministro civil, dotado de sólida sabedoria jurídica e um histórico de dedicação à luta contra a ditadura militar, e não tendo qualquer vínculo profissional ou familiar com militares.
É preciso combater a fome e a miséria brasileiras e taxar os super-ricos brasileiros e estrangeiros no país. Não cabe ao governo brasileiro se imiscuir nos assuntos políticos de outros países quando não está sendo capaz de atacar o fascismo que toma conta do país.
Não é suficiente combater os planos macabros das Forças Armadas e da extrema direita brasileiras. É preciso reafirmar nosso compromisso com a democracia verdadeira, afinada com os interesses dos trabalhadores brasileiros e não negar os princípios elementares da ciência e do desenvolvimento moral e intelectual da Humanidade.