
O colunista bolsonarista J. R. Guzzo foi criticado pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) após publicar em coluna no Estadão, um texto que chamava o ministro Luís Roberto Barro, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), de “judeu errante do Direito Nacional”.
A Fisesp divulgou uma nota de repúdio ao uso do termo. Segundo a entidade, a expressão “invoca um estereótipo histórico ligado à perseguição e marginalização dos judeus ao longo dos séculos, sem qualquer pertinência com o conteúdo de sua crítica”.
O presidente da instituição, Marcos Knobel, afirmou na nota que “essa preocupação se torna ainda mais urgente diante do atual cenário de crescimento de discursos de ódio contra judeus no Brasil e no mundo”.
Ele também reforçou o compromisso da entidade com a liberdade de expressão, mas ressaltou que isso não deve ocorrer “à custa da integridade e da dignidade de qualquer grupo religioso”.
Na ocasião, Guzzo afirmava que Barroso “acumulou um alarmante estoque de declarações falsas, desconexas ou simplesmente cretinas” e ironizou as viagens internacionais do ministro, dizendo que ele “não para nunca de viajar pelas capitais do Primeiro Mundo”. Para o colunista, Barroso promove “sermões” exaltando a “suprema corte” brasileira.
Leia a íntegra da nota de repúdio da Fisesp:
Em nota publicada no jornal O Estado de S.Paulo nesta terça (20), a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) lamenta profundamente o uso da identidade religiosa do ministro Luís Roberto Barroso como instrumento de ataque em coluna assinada por J. R. Guzzo publicada neste jornal (Segurança zero, 18/5, A11).
Ao se referir ao ministro como um “judeu errante do Direito nacional”, o colunista invoca um estereótipo histórico ligado à perseguição e marginalização dos judeus ao longo dos séculos, sem qualquer pertinência com o conteúdo de sua crítica.
Trata-se de uma associação inadequada, gratuita e lamentável. O aspecto religioso do ministro não tem qualquer relação com o debate jurídico ou político proposto na coluna. O uso desse elemento reforça padrões de discurso que, ainda que disfarçados de retórica opinativa, acabam alimentando preconceitos e contribuindo para a banalização do antissemitismo.
Essa preocupação se torna ainda mais urgente diante do atual cenário de crescimento de discursos de ódio contra judeus no Brasil e no mundo. Esperamos que veículos de imprensa e formadores de opinião estejam atentos à responsabilidade que têm na construção de um espaço público baseado em respeito, ética e responsabilidade. Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade de expressão, mas não à custa da integridade e da dignidade de qualquer grupo religioso.
Marcos Knobel, presidente da Fisesp.
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