O Diário Causa Operária entrevistou o jogador de futebol de Burquina Fasso, Abdoul Fatahou Sawadogo, na última quinta-feira (4). Ele esteve em São Paulo para o grande ato em defesa da Palestina, no domingo, 30 de junho. Sawadogo chegou com a caravana de Pernambuco, onde joga profissionalmente no Santa Fé Futebol Clube. Aos 22 anos e vivendo no Brasil há 5 anos, ele não presenciou diretamente os eventos recentes em Burquina Fasso, atualmente governado pelo nacionalista Capitão Ibrahim Traoré. Ainda assim, ele acompanha de perto a situação e está muito bem informado sobre seu país.
DCO: Gostaríamos de saber, em primeiro lugar, por que você veio para o Brasil?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Eu vim para o Brasil para continuar minha carreira no futebol. Esse foi o motivo principal pelo qual estou no Brasil. Atualmente, jogo no Santa Fé, em Pernambuco.
DCO: Você está no Brasil há 5 anos. Nesse período, seu país mudou muito?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Com certeza. Embora eu acompanhe à distância, estou sempre em contato com minha família e amigos de infância, graças a Deus. Assim, percebo que houve muitas mudanças. Nos últimos dois anos, especialmente após o golpe militar que levou o presidente Ibrahim Traoré ao poder, as coisas mudaram para melhor.
DCO: Você acha que há uma melhora geral na região?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim, apesar de não estar lá presencialmente, tenho conversado com muitas pessoas de Burquina Fasso. Recentemente, um amigo de infância morreu em combate contra grupos terroristas. O presidente Ibrahim Traoré tem como prioridade a segurança do país, pois desde 2015, Burquina Fasso enfrenta uma crise devido ao terrorismo.
DCO: Essa luta ainda tem relação com a França?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Com certeza. O povo de Burquina Fasso sempre quis o fim das relações com a França. Isso não é apenas uma iniciativa do presidente Ibrahim Traoré; é um desejo antigo da população, desde os tempos do presidente Thomas Sankara. Finalmente, neste ano de 2024, cortamos os laços com a França, e isso deixou a população muito feliz.
DCO: Você acredita que os grupos terroristas que atuam lá têm ligação com a França?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim, muitos de nós em Burquina Fasso acreditamos que esses grupos são financiados pela França desde 2015, especialmente após a criação do G5 Sahel, que não trouxe benefícios reais. Vemos isso como uma extensão do imperialismo, o que reforça nossa decisão de romper as relações com a França.
DCO: E os Estados Unidos, também têm influência?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim, quando falamos de imperialismo, incluímos tanto a França quanto os Estados Unidos. Esses países mantêm políticas que oprimem muitas nações.
DCO: Qual é a sua opinião e a opinião geral do povo de Burquina Fasso sobre Thomas Sankara?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Thomas Sankara é um herói. Sua influência vai além de Burquina Fasso, alcançando toda a África e até mesmo países de língua portuguesa como o Brasil. Ele é um exemplo para muitos e continua sendo um ícone de resistência contra o colonialismo e o imperialismo.
DCO: O atual presidente, Ibrahim Traoré, se inspira em Sankara?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim, consideramos Ibrahim Traoré um sucessor das ideias de Thomas Sankara. Ele representa a luta contra o colonialismo e o imperialismo, e nós, o povo de Burquina Fasso, o vemos como nosso líder nessa missão.
DCO: Você acha que Traoré corre risco de ser assassinado?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Com certeza. Ele enfrenta os mesmos riscos que Sankara enfrentou. Recentemente, Traoré afirmou que não temos medo, pois já enfrentamos muitos desafios e alcançamos todos os níveis de medo possíveis. Estamos atentos para evitar os erros de 1987, quando Sankara foi assassinado.
DCO: Burquina Fasso apoia a causa palestina?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim. Como descendentes das ideias de Thomas Sankara, sempre apoiamos a luta dos povos oprimidos, incluindo a Palestina. Sentimos que a luta da Palestina é também a nossa luta. Burquina Fasso é solidário com todos os povos oprimidos do mundo.
DCO: Como funciona a economia em Burquina Fasso?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Burquina Fasso é considerado um dos países mais pobres do mundo, mas, em 2012, éramos o quarto maior produtor de ouro. Também somos grandes produtores de algodão. Infelizmente, durante os 27 anos de poder de Blaise Compaoré, houve má gestão desses recursos, que foram explorados pelo capitalismo. Esperamos que, com a liderança de Ibrahim Traoré, possamos evoluir e aproveitar melhor nossas riquezas.
DCO: A população tem uma perspectiva positiva para o futuro?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Sim, há um sentimento de esperança maior que o de negatividade. O slogão de Burquina Fasso é “Pátria ou morte, nós venceremos”, e o povo acredita nisso. Estamos confiantes de que vamos superar os desafios.
DCO: O futebol brasileiro tem grande influência em Burquina Fasso?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Com certeza. É um sonho para muitos jogadores de Burquina Fasso jogar contra ou no Brasil. Infelizmente, poucos jogadores africanos têm essa oportunidade no campeonato brasileiro, o que reforça a crença de que é algo difícil de alcançar.
DCO: Você tem vontade de jogar pela seleção de Burquina Fasso?
Abdoul Fatahou Sawadogo: Com certeza. Nunca trairia minha pátria. Sempre terei orgulho de representar Burquina Fasso.