Diante da extorsão tarifária, apaziguamento e compromisso serão como “negociar com um tigre pela sua pele*”: editorial do Global Times.

Recentemente, diversos meios de comunicação informaram que o governo dos EUA planeja usar as negociações tarifárias em andamento para pressionar seus parceiros comerciais, exigindo que limitem o comércio com a China em troca de isenções tarifárias. Na segunda-feira, em resposta a uma pergunta de repórter, um porta-voz do Ministério do Comércio da China afirmou que as ações dos EUA usam a bandeira da “reciprocidade” como pretexto para promover políticas hegemônicas e intimidação unilateral no campo da economia e comércio internacionais. O porta-voz também enfatizou que “apaziguamento não traz paz, compromisso não leva ao respeito”, acrescentando que “tentar trocar os interesses de terceiros por isenções tarifárias está fadado ao fracasso e acabará prejudicando todas as partes envolvidas”. Essa declaração ganhou ampla atenção global.

A resposta da China é facilmente compreensível. A coerção aberta de Washington aos parceiros de negociação para “tomar partido” e sua tentativa explícita de conter e isolar a China revelam sua intenção arrogante e hegemônica, representando um desafio e uma perturbação flagrantes da ordem econômica e comercial global. A resposta da China visa não apenas proteger seus interesses nacionais e sua dignidade, mas também defender a ordem econômica e comercial internacional e a justiça e equidade globais. Ao mesmo tempo, a posição da China é clara: o comércio internacional não pode regredir para a “lei da selva”, onde os fortes exploram os fracos. Todas as partes devem contribuir para preservar essa ordem vital do comércio internacional.

Apesar de usar sua vantagem como maior mercado consumidor, os EUA pretendem coagir e manipular dezenas de parceiros de negociação com ameaças e incentivos. Esses parceiros veem claramente como os EUA romperam promessas repetidamente e também reconhecem como a China se opôs firmemente à hegemonia e defendeu a equidade. Desta vez, os EUA oferecem a “isca” das isenções tarifárias exigindo que seus parceiros limitem o comércio com a China. Com isso, superestimam seu próprio poder, subestimam a China e interpretam mal a situação.

Como se sabe, a China é principal parceira comercial de mais de 150 países e regiões, ocupando o primeiro lugar em comércio de bens globalmente por oito anos consecutivos. Essas relações comerciais, através das cadeias de suprimentos globais, beneficiam inúmeras empresas e consumidores ao redor do mundo. A China é o “âncora de estabilidade” da economia mundial e das cadeias globais de produção e fornecimento; desvincular-se da China equivale a abandonar voluntariamente um mercado aberto e cheio de oportunidades, levando à marginalização gradual no desenvolvimento econômico global. Portanto, a tentativa dos EUA de “cortar” os laços econômicos e comerciais da China com o mundo é como “comer sopa com um garfo” e está fadada ao fracasso.

A chanceler do Tesouro do Reino Unido, Rachel Reeves, afirmou antes de viajar aos EUA para negociações comerciais que seria “muito tolo” cortar os laços comerciais com a China, defendendo o fortalecimento desses laços. Essa postura pragmática ecoa o sentimento da comunidade internacional. Além disso, políticos, economistas e executivos da ASEAN, da União Europeia, do Japão e da Coreia do Sul manifestaram sua relutância em escolher entre EUA e China.

Um exemplo mais vívido ocorre em Guangdong, China, onde a 137ª Feira de Cantão atraiu quase 150.000 compradores estrangeiros de 216 países e regiões, um aumento de 20,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso demonstra claramente que a coerção política não pode suprimir o ímpeto inerente da globalização econômica e do multilateralismo.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) exige explicitamente que os membros respeitem o princípio da não discriminação. Este princípio se baseia na prática da comunidade internacional nas últimas décadas e representa o maior denominador comum para maximizar os interesses compartilhados de todas as economias. Diante do unilateralismo e do protecionismo, a posição da China é firme: defender as regras econômicas e comerciais internacionais e o sistema de comércio multilateral, conforme ditado tanto pela lógica quanto pelas tendências globais.

Para cada economia inserida nas cadeias globais de produção e fornecimento, regras justas e razoáveis são essenciais. Trata-se de garantir que o comércio internacional continue protegido por um arcabouço jurídico. Se o comércio global regredisse para um tempo em que “quem gritasse mais alto tivesse a palavra final”, o resultado seria o caos e a desordem. Mais importante ainda, sem a contenção das regras, as potências hegemônicas se tornariam cada vez mais agressivas, causando danos duradouros ao desenvolvimento global.

Um estudo da Oxford Economics modelou um cenário de “mundo fraturado”, em que o aumento do protecionismo faz a globalização retroceder à medida que os governos promovem o nacionalismo econômico e restringem o comércio. Constatou-se que os mercados emergentes seriam os mais afetados.

Como afirmou a recém-assinada “declaração anti-tarifária” pelo renomado economista N. Gregory Mankiw e mais de mil pessoas: “Princípios econômicos sólidos, evidências empíricas e os alertas da história prevalecerão sobre as mitologias protecionistas do momento.” Quanto ao tipo de acordo que as partes em negociação e Washington alcançarão, e às possíveis versões inconsistentes e pouco confiáveis que poderão surgir, acredita-se que cada parte terá suas próprias considerações e julgamentos. Mas, se alguém se submeter aos EUA às custas da China, a China não aceitará.

A China dá boas-vindas a todas as partes que queiram seguir no trem expresso do desenvolvimento, mas isso não significa que abrirá mão de seus interesses centrais. Ceder ao unilateralismo e ao protecionismo não só mina o sistema multilateral de comércio, como ameaça a própria base da ordem econômica global. Espera-se que todas as partes tenham visão de longo prazo e tomem a decisão correta.

* Explicação do ditado: O ditado chinês “negociar com um tigre pela sua pele” significa tentar fazer um acordo impossível ou extremamente perigoso com alguém que tem interesses opostos ou ameaça sua sobrevivência. No contexto do editorial do Global Times, ele sugere que, diante da pressão tarifária (extorsão), tentar apaziguar ou ceder seria tão inútil e arriscado quanto tentar convencer um tigre a entregar sua própria pele.

Global Times
22 de abril de 2025
Global Times

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Last Update: 22/04/2025